Irritante e fascinante, Moore volta a mirar os males dos EUA
Michael Moore não mudou. Continua manipulador, personalista e indulgente. Seu mais novo filme, Sicko – $O$ Saúde, confirma sua vontade de ser uma espécie de “médico” dos Estados Unidos, com a pretensão de diagnosticar e curar as patologias soc
Publicado 07/03/2008 17:37
Talvez ele deva ser observado mais como um fenômeno do estado atual da mídia do que como documentarista. Em Sicko, ele ataca o sistema de saúde em vigor nos Estados Unidos, que começou a ser privatizado no governo Nixon e hoje, como regra, oferece péssimos serviços à população.
Na primeira parte de Sicko, Moore conta histórias de pessoas que enfrentaram doenças graves ou sofreram pequenos acidentes e se viram obrigados, por exemplo, a vender a casa. Aos poucos, entendemos as engrenagens de um sistema movido exclusivamente pelo lucro.
Na segunda parte, Moore viaja para outros países, como Canadá e França, para comparar os sistemas de saúde. É a hora do “alívio cômico” e também de uma vergonhosa idealização desses sistemas que, evidentemente, são mais eficientes que o americano, mas também devem guardar suas mazelas.
O último golpe de Moore é uma daquelas sacadas altamente manipuladoras – mas interessantes justamente por sua assumida parcialidade e radicalidade. Moore cria um fato que faz valer o filme. Ele desembarca em Cuba ao lado de bombeiros e de voluntários no resgate às vítimas do ataque no 11 de Setembro, que ficaram com seqüelas físicas e psicológicas, mas não encontraram amparo algum do Estado.
Primeiro, eles buscam assistência na prisão americana de Guantánamo, onde existiria um hospital-modelo; depois, conseguem consultas médicas e remédios gratuitos na terra de Fidel Castro. Moore não faz documentários de descobertas ou investigações, mas arregimenta imagens, argumentos e entrevistas que vão corroborar teses predeterminadas. Por tudo isso, é uma figura irritante e fascinante, mas o fato é que, no fim das contas, sempre toca em assuntos negligenciados pela mídia.
Mesmo sendo manipulador e sentimentalóide, é mais honesto que vários outros documentaristas pretensamente mais isentos. No empobrecido cenário do “ame-o ou deixe-o” da guerra das informações, talvez o melhor seja esperar e ver se, com o tempo, a história o absolverá.