Sem categoria

El País: Um diário global da América Latina?

O jornal espanhol El País assumiu a ambição de se converter no primeiro periódico global do seu idioma. No entanto, o seu convervadorismo crescente dificulta a missão de conquistar leitores no efervescente mundo hispano-americano, como analisa a

Em 21 de outubro de 2007, El País renovou seu formato gráfico, incluiu o til em sua marca e assumiu o slogan de “o jornal global em espanhol”. Um jornalismo globalizado, multimidiátido e internetizado era o seu cartão de visita. Mas, de que jornalismo global estão falando?



Quando nasceu, em 1976, El País se consagrou como o primeiro diário social-democrata e europeísta da Espanha [que na época ainda vivia sob a ditadura de Francisco Franco, nota do tradutor]. Nos anos 80, instalou a defensoria do leitor [onbudsman] e o Livro de Estilo, que continua a ser um manual de referência jornalística. Seu posicionamento de diário de qualidade, “prograssista” e mundialista era inegável.



Com o correr do tempo, a aventura do início foi se transformando em uma grande indústria cultural. Seu dono, o grupo Prisa, passou a ser o maior conglomerado midiático espanhol, proprietário, entre outros, da rede SER (rádio), do Cinco Dias (imprensa popular), da Sogecable e da Cuatro (TV) e também de várias empresas na América Latina. Estes interesses, cada vez mais comprometidos, provocaram no terreno da política uma evidente virada ideológica de seu discurso “progrê”.



Um bom exemplo: em 10 de outubro de 2007, um polêmico editorial apresentava o Che, no 40º aniversário de sua morte, como parte “dessa sinistra saga de heróis trágicos, ainda presente nos movimentos terroristas de diferentes tipos (…), que pretendem dissimular a condição de assassino sob a de mártir”.



Sem defender a beatificação do personagem, uma posição tão maniqueista é inaceitável. Tanto que dois terços dos redatores do jornal publicaram sua inconformidade com o texto, argumentando que “não abordava em sua totalidade” a uma figura tão complexa.



Com relação à América Latina El País sem dúvida embarcou numa cruzada neoconservadora. Nas eleições de 2006 no México, tomou posição por Felipe Calderón. Por isso, o ator Antonio Banderas, depois de assistir ao documentário de Luis Mandoki, Fraude: México 2006 – sobre o rumoroso roubo de López Obrador nas urnas –, comentou, assombrado: “Então El País mentiu para mim?”.



Mentir é comprometer a impercialidade e a veracidade da informação. Mentir é converter uma versão “interessada” em um fato consumado. Como aconteceu no antiético artigo Farc acham refúgio no Equador, do dia 12 último, que despertou “estupor e indignação” do Equador e do secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza. Como bem assinalou Insulza em sua carta ao diário, “um erro dessa categoria atenta contra a verdade e afeta o prestígio de um governo”.



Creio que o diário espanhol não retificou satisfatoriamente seu gravíssimo erro. Mais ainda, quando releio o que foi publicado sobre a resolução da OEA em torno da crise entre o Equador e a Colômbia, comprovo que El País não é o diário global da América Latina. Está aliado aos interesses do poder aquisitivo.



Continuarei a ler, com intenso prazer, a Rosa Montero, Almudena Grandes, Juan
José Millás, Jorge Edwards. Mas a “informação” de El País eu manipulo com pinças.



Fonte: http://www.telegrafo.com.ec