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NYT: Guerra do Iraque custa US$ 5 mil por segundo

Nicholas Kristof apresenta no The New York Times novos números sobre o preço da Guerra do Iraque: por exemplo, que ela custa US$ 330 por mês para cada família americana, e isso ''é apenas a entrada''. O artigo mostra, de um ponto de vista liberal

A guerra do Iraque está indo melhor do que o esperado, para variar. A maioria dos críticos, inclusive eu, desdenhou o que estava acontecendo: não prevíamos a melhora na segurança que resultou, em parte, do ''avanço'' feito no ano passado.



A melhora é real, porém frágil e limitada. Eis aqui o que ela conseguiu: diminuímos o número de mortos para os mesmos índices inaceitáveis que nos assombraram em 2005, e ainda não temos nenhum plano de retirada para os próximos anos – tudo isso por um custo total que cresce quase US$ 5 mil por segundo.



Pior que isso, apesar de o número de mortos ter diminuído, passamos a ter baixas na Flórida e na Califórnia. Os Estados Unidos parecem ter escorregado para dentro de uma recessão; os americanos estão perdendo suas casas, empregos e seguros de saúde; os bancos estão enfrentando problemas – e a guerra do Iraque parece ter agravado todas as aflições domésticas.



''A atual bagunça econômica está bastante relacionada com a guerra do Iraque'', diz Joseph Stiglitz, economista ganhador do prêmio Nobel. ''No mínimo, a guerra contribuiu para o aumento dos preços do petróleo. Além disso, o dinheiro gasto no Iraque não estimulou a economia tanto quanto teria acontecido se esses mesmos dólares tivessem sido gastos no país. Para cobrir a fraqueza da economia americana, o Fed aprovou um fluxo de liquidez que, aliado a regulamentações frouxas, levou à bolha imobiliária e a um boom do consumo''.



Nem todos concordam que a conexão entre o Iraque e os problemas econômicos seja tão forte. Robert Hormats, vice-presidente da Goldman Sachs International e autor de um livro sobre como os Estados Unidos financiam as guerras, argumenta que a Guerra do Iraque é negativa para a economia, mas ainda assim é um fator menor na crise atual.



''Se é uma causa significativa da recessão atual?'', pergunta Hormats. ''Eu diria que não. Mas o dinheiro poderia ter sido melhor utilizado para fortalecer nossa economia? A resposta é sim.''



Apesar das discordâncias, parece haver no mínimo uma ligação modesta entre os gastos no Iraque e as dificuldades econômicas nos EUA. Assim, ao discutir se devemos retirar nossas tropas do Iraque, a questão central deveria ser se a guerra é de fato o melhor lugar para investir US$ 411 milhões por dia do atual orçamento.



Já argumentei que permanecer indefinidamente no Iraque enfraquece nossa segurança nacional por dar poder aos jihadis – assim como sabemos que nossa presença militar na Arábia Saudita nos anos 90 foi, de fato, contraproducente por ter fortalecido o início da Al-Qaeda. Por outro lado, os que apóiam a guerra argumentam que uma retirada do Iraque seria um sinal de fraqueza e deixaria um vácuo de poder que os extremistas iriam preencher, o que é uma preocupação legítima.



Mas se você acredita que permanecer no Iraque faz mais bem do que mal, responda à seguinte questão: essa presença é tão importante que vale o preço de enfraquecer a economia norte-americana?



Com certeza os custos estimados da guerra são variáveis e controversos, em parte por que os US$ 12,5 bilhões por mês que estamos pagando para o Iraque são apenas a entrada. Ainda estaremos pagando indenizações por invalidez para os veteranos da guerra do Iraque daqui a 50 anos.



Em um novo livro, escrito com Linda Bilmes da Universidade de Harvard, Stiglitz calcula que o custo total, incluindo as contas de longo prazo, chega a cerca de US$ 25 bilhões por mês. Isso equivale a US$ 330 por mês para uma família de quatro pessoas.



Um estudo do Congresso feito pelo Comitê Econômico Conjunto descobriu que o valor gasto por dia na guerra do Iraque poderia colocar mais 58 mil crianças no programa Head Start (que ajuda crianças a entrarem na escola) ou fornecer bolsas Pell para que 153 mil alunos cursem a universidade. Ou então, se quiséssemos de verdade investir em segurança, um dia de gastos no Iraque seria capaz de financiar 11 mil agentes de patrulha de fronteira ou 9 mil policiais.



Imagine as possibilidades. Poderíamos contratar mais policiais e patrulheiros de fronteira, expandir o programa Head Start e reabilitar a imagem dos Estados Unidos no mundo financiando uma iniciativa global para reduzir a mortalidade materna, para erradicar a malária ou os vermes de todas as crianças da África.



Tudo isso gastaria menos dinheiro do que um mês de guerra no Iraque.



Além disso, o governo Bush financiou essa guerra de uma forma que enfraquece a nossa segurança nacional – emprestando dinheiro. Cerca de 40% da dívida gigantesca será cobrada pela China e outros países estrangeiros.



''Esta é a primeira grande guerra da história americana em que todos os custos adicionais foram pagos com empréstimos'', escreve Hormats. Se os que apóiam a guerra do Iraque acreditam que ela é tão essencial, deveriam então estar dispostos a pagar por ela em parte através de impostos, em vez de empréstimos.



De qualquer forma, agora ou mais tarde, teremos de pagar a conta. Stiglitz calcula que o custo total da guerra possivelmente ficará em torno de US$ 3 trilhões. Para uma família de cinco pessoas como a minha, isso representa uma conta de quase US$ 50 mil.



Não sinto que meu dinheiro esteja sendo bem empregado.



Fonte: The New York Times (tradução UOL)