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Eleito, Lugo fala com Evo Morales e pede perdão à Igreja

O ex-bispo Fernando Lugo começou nesta segunda-feira o seu primeiro dia como presidente eleito do Paraguai conversando por telefone com o presidente boliviano, Evo Morales. Durante a campanha eleitoral, Lugo havia destacado a necessidade de restituir a di


Com 92% dos votos apurados, Lugo obteve 40,82%, na frente da segunda colocada, a candidata do Partido Colorado, Blanca Ovelar, que estava com 30,73%, e do general em reserva Lino Oviedo, com 21,98%. A exemplo de Evo Morales, Lugo também terá sua irmã Mercedes como primeira-dama nos eventos oficiais.


 


O presidente eleito do Paraguai pediu desculpas à Igreja Católica por ter causado dor a seus sacerdotes. “Se a minha atitude e a minha desobediência às leis canônicas causaram dor, peço sinceramente desculpas aos membros da Igreja”, disse Lugo à imprensa, um dia depois de triunfar nas eleições presidenciais.


 


O ex-bispo de San Pedro, uma das dioceses mais pobres do país, foi suspenso “a divinis” pelo Vaticano desde o início do ano passado, devido à sua carreira política. Lugo também afirmou que está disposto a dialogar para poder conseguir encontrar “uma saída satisfatória” para ambas partes.


 


Desconforto


 


É certo, porém, que o triunfo do ex-bispo provocou desconforto no Vaticano, que ainda considera o religioso subordinado à autoridade papal. No Vaticano, há quem acredite que o presidente eleito trabalhará bem e conseguirá criar uma imagem positiva a serviço da política – e, depois de terminar o mandato, poderia “ser reintegrado, provavelmente não na sua diocese, e sem tumultos”.


 


Monsenhor Velasio De Paolis, canonista e novo presidente da Prefeitura para assuntos econômicos do Vaticano, explicou à Ansa que o caso é “inédito”. Segundo ele, “será necessário esperar um pouco de tempo para estudar a situação e refletir”.


 


Já o presidente da Conferência Episcopal Paraguaia (CEP) e bispo de Encarnación, Ignacio Gogorza, adiantou no domingo, poucas horas depois do anúncio da eleição de Lugo, que esse organismo analisará nesta semana a situação extraordinária. Para Gogorza, é o papa quem deverá tomar uma decisão – mas isso, a seu ver, levará “um tempo”.


 


Brasil


 


Lugo também se pronunciou sobre as relações de seu país com o Brasil. “Como um homem de fé e esperança que sou, estou convencido de que chegaremos a um acordo com o Brasil sobre o tratado de Itaipu”, falou Lugo aos jornalistas brasileiros que ele recebeu em sua casa na manhã desta segunda.


 


“O presidente Lula nos deu um sinal importante quando abriu a possibilidade de sentarmos todos a uma mesa, tendo posições diferentes, para entendermos a administração de Itaipu, o tratado, a transmissão da energia, o que significa o conceito de 'preço justo', o acordo de Foz do Iguaçu de 1966”, disse o presidente eleito.


 


“Agora a primeira medida que devo tomar como presidente é formar uma equipe de técnicos capacitados para discutir o assunto, porque o próprio Lula nos disse que até os técnicos divergem nos números de Itaipu.” Apesar da declaração de Lugo, o presidente Lula afirmou nesta segunda-feira que não vai rever o tratado.


 


Princípios e valores


 


Fernando Lugo diz que vai compor o seu gabinete de acordo com “princípios e valores”. “O Paraguai tem um histórico de composição de governos segundo o partido. Dividir ministérios entre os países que formam um governo de coalizão. Isso já se provou ineficiente. Por isso pretendemos priorizar as pessoas capazes, mais idôneas, honestas e patrióticas, independentemente do partido a que pertença.”


 


Na parede da sala daquela casa que tem apenas um quarto, um pequeno depósito, cozinha e um estúdio no andar de cima, um quadro traz os dizeres “o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos”. Nenhuma frase expressaria melhor o ânimo de Fernando Lugo no primeiro dia em que se levantou da cama como presidente da República paraguaia.