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Paraguai: mobilização do povo garantiu eleição democrática

O dia 20 de abril com certeza ficará marcado na história da nação paraguaia. Exatamente 1.877.433 cidadãos paraguaios foram às urnas para eleger seu próximo presidente, vice-presidente, governadores, deputados, senadores, consejales, além de seus repre

Desde as 7 da manhã, hora em que as urnas foram abertas, houve uma grande mobilização popular para exercer o direito ao voto, que hoje é obrigatório no país. Mas não existem sanções para quem não cumpra com seu dever. A mobilização popular foi não somente para votar, se não também para “defender o seu voto”, conceito cunhado com a intenção de convocar os eleitores não somente a votar, mas também para ajudar a fiscalizar e coibir possíveis fraudes no processo eleitoral.


 


Os apelos dos diversos partidos e grupos políticos, organizações sociais, foram correspondidos. No dia de ontem (20), foi organizado um verdadeiro batalhão de pessoas para ajudar a fiscalizar de forma voluntária o processo eleitoral. Cerca de 6 mil pessoas trabalharam voluntariamente neste processo, dentre elas muitos jovens e estudantes.


 


Uma entidade chamada Sakâ – que trabalha com controle paralelo das eleições através da transmissão de dados, via mensagens telefônicas com o resultado de cada mesa – controlou paralelamente 69,38% dos resultados das eleições através de 4.214 “mensageiros” colocados em cada setor eleitoral. Além disso, vários cidadãos faziam sua parte no controle das eleições.


 


Aumentou, por exemplo, a atenção da população com relação aos seus parentes recém-falecidos. Muitas famílias revogaram o “direito ao voto” de seus parentes nessa situação. Toda essa mobilização gerou um clima de inibição muito grande com relação às fraudes – a sociedade organizada pôde exercer seu poder de pressão.


 


O nível de participação geral nas eleições atingiu a 65,6% dos votantes. Foram muitos jovens, estudantes. Mas esta também foi a eleição em que muitos anciãos, deficientes físicos e muitos que não votavam há muitos anos foram às urnas exercer seu direito.


 


O peso da pressão internacional


 


Durante esses dias, estiveram presentes diversos delegados internacionais que foram escritos como observadores juntos ao TSJE do Paraguai com o mesmo intuito de ajudar na fiscalização do processo. Foram pessoas da Colômbia, Venezuela, Equador, Brasil e Uruguai.


 


Este último merece mais destaque: foram 400 uruguaios envolvidos e organizados no processo eleitoral como observadores internacionais do processo, muitos jovens e estudantes, dentre os quais muitos organizados pela Federação de Estudantes Universitários do Uruguai (FEUU), entidade histórica que esteve e está presente em diversas lutas do povo uruguaio, e que ajudou a escrever uma bela parte da história do povo paraguaio.


 


Além é claro de outros setores da sociedade civil organizada do Uruguai, como a central sindical PIT-CNT, juventudes de igrejas e de partidos políticos, conformaram um verdadeiro exército de combate a fraudes, demonstrando mais uma vez a solidariedade do povo latino americano, para com seus irmãos.


 


Esteve também uma delegação de 25 diplomáticos da OEA de Colômbia, Equador, Uruguai e Venezuela. Foram fundamentais no diálogo com o governo paraguaio para garantir a participação da oposição no processo de transmissão de dados realizado pelo TSJE – o que com certeza foi também um dos fatores decisivos para garantir a transparência do processo de contabilização dos votos.


 


Outra presença relevante foi da Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais (Ifes), liderada pelo ex-presidente colombiano Andrés Pastrana, com a presença de 19 pessoas da entidade, que já trabalhou em processos como o das eleições em Equador, Iraque e Indonésia.


 


Dar continuidade à luta


 


O povo organizado garantiu a verdadeira transição democrática depois da queda da ditadura em Paraguai no ano de 1989. Agora o desafio é reconstruir a estrutura democrática do Estado paraguaio, fortalecendo as instituições, gerando mais participação popular e desenvolvendo o país.


 


Após a derrubada de um governo que se manteve na condução do país durante 61 anos, os desafios para o povo paraguaio estão apenas começando. É necessário reconstruir os movimentos da sociedade civil organizada, que fortalecerá o país e o levará adiante – o movimento de trabalhadores, de campesinos e de estudantes. Este último tem um enorme desafio que é o de reconstruir uma federação estudantil universitária unitária que represente a todos os estudantes, os organize e unifique nas lutas a serem travadas no campo político do país.


 


Hoje o movimento estudantil paraguaio tem cada vez mais se mobilizado em torno de bandeiras de luta como a reforma universitária, barrando a proposta lei que transita no Congresso Nacional que tenta acabar com Autonomia Universitária, e diminuir a verba destinada à Educação Superior Pública e favorecer aos setores privados que hoje atuam no país, e pautando uma verdadeira reforma para o ensino superior necessária para o desenvolvimento do país.


 


Com o passo dado no último domingo, 20 de abril, a nação e o povo paraguaio – que estavam postos de joelhos – se levantam em um processo que já é chamado de segunda independência nacional. Junto a outras nações latino-americanas, eles proclamam: “Outro Paraguai, e outra América, é possível!!!”.


 


Viva ao povo paraguaio!
Viva a unidade do povo latino-americano!


 


* Renan Alencar é membro do secretariado executivo da Oclae (Organização Continental Latino-americana de Estudantes)