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Paraguai: agroindústria será prioridade, diz futuro ministro

O economista Dionisio Borda será o ministro da Fazenda do novo governo do Paraguai. Ele é o primeiro nome confirmado do futuro gabinete do presidente eleito, Fernando Lugo. Em entrevista concedida ao Valor Econômico, ele disse que o agronegócio é o caminh

Para Borda, essa seria a receita para ampliar a geração de empregos e, conseqüentemente, reduzir o fluxo de migração de paraguaios em busca de emprego e renda no exterior. Só no ano passado, cinco mil pessoas em média deixaram por mês o país.



O fortalecimento da agroindústria teria ainda um efeito secundário, na opinião do futuro ministro: diminuir o peso da triangulação comercial (a venda de eletrônicos ao Brasil, por exemplo), atividade importante para o país em termos de arrecadação, mas que é pouco eficiente em geração de empregos, além de representar um caminho fácil para o contrabando.



Borda, de 59 anos, já esteve à frente do ministério entre 2003 e 05, na equipe do atual presidente Nicanor Duarte Frutos. Ele é um dos diretores do Centro de Analise e Difusão de Economia Paraguaia, entidade não governamental com sede na capital paraguaia. PhD em Economia pela Universidade de Massachusetts, nos EUA, seu nome apareceu na imprensa paraguaia como ministeriável logo depois da eleição de Lugo, no dia 20 de abril. “O único nome acordado é o de Dionisio Borda”, disse nesta segunda-feira (5) o vice-presidente eleito, Federico Franco. Lugo e Franco tomam posse em 15 de agosto.



Industrialização ínfima



“O Paraguai não pode deixar de ser agrícola e pecuarista, é aí que está a sua força. É nossa plataforma de produção e continuará sendo”, disse Borda. O país tem um dos menores índices de industrialização da América Latina. A agricultura responde por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) e emprega um terço da mão de obra. A soja – cuja produção está quase toda concentrada nas mãos de médios e grandes produtores brasileiros – está no topo da lista de exportações paraguaias. A arrecadação sobre as importações de eletrônicos e outros produtos da Ásia e os royalties e compensações derivados de Itaipu são as outras duas principais fontes de receita do governo.



A ênfase de Borda na base agrícola se dá num momento de alta global dos preços dos alimentos, o que tem ampliado os ganhos dos produtores rurais pelo mundo, incluindo os no Paraguai. A industrialização de produtos agropecuários (em forma de óleos, ração animal etc) agregaria, defende ele, mais mão-de-obra e aumentaria a arrecadação. Entre os setores, que segundo Borda, teriam grandes possibilidades de crescer estão o da produção de óleos (de soja, coco, girassol, algodão e outros), a produção de hortaliças e frutas, de couro e também o setor têxtil.



O Estado, na visão do economista, deve ter um papel bem definido no incentivo a todos esses setores. A tarefa seria, diz ele, “gerar as políticas de possam facilitar de linha de crédito a assistência técnica, fazer a articulação de grandes empresas com as pequenas, além de incentivar o associativismo, via comitês, conglomerados, cooperativas”. A prioridade nas políticas de apoio, continua Borda, deveria ser as micro, pequenas e médias empresas. No Paraguai, 85% da mão-de-obra se concentra em terras com menos 50 hectares e em empresas com até 50 trabalhadores.



Elogiado pelo setor financeiro e tido como um dos principais responsáveis pela melhora nos indicadores macroeconômicos paraguaios nos últimos anos, Borda diz ver com reservas o modelo de crescimento calcado nas grandes propriedades rurais e centrado em poucas culturas. “O padrão da produção aqui é muito concentrador, muito intensivo em recursos naturais e em capital. Mas não é tão importante em termos de ocupação de empregados”, diz. Entre 2003 e 2007, o Paraguai cresceu em média 4,3%. Em 2007, 4,8%. Esse salto de crescimento significou uma queda da pobreza, de 42% para 35%. Mas a pobreza extrema aumentou, de 15% para 20%, diz.



O desemprego real no Paraguai, estima Borda, é de cerca de 11%. Mas, considerando que mais 26% da população economicamente está subocupada, “estamos falando de quase 37% dos paraguaios que têm problemas de emprego.”



Em sintonia com o discurso de Lugo, Borda defende um programa amplo de reforma agrária, seguido por políticas de incentivo e treinamento dos assentados e de ajuda na integração deles às cadeias produtivas. Segundo dados do Banco Mundial, grandes proprietários, que representam apenas 2% dos fazendeiros, controlam 82% das terras paraguaias.



Borda também está alinhado com Lugo no tema de Itaipu. “Num momento de crise energética mundial, não tem sentido o Paraguai vender sua energia a um preço extremamente baixo. É justo, a meu ver, que o Paraguai não disponha livremente sua energia porque há um tratado que o amarra. Melhorar o preço é uma necessidade inquestionável.” Brasília vem rejeitando a idéia de conceder reajustes significativos no preço da energia que compra do Paraguai. E discute outras formas de ajuda, como investimentos em rodovias, ferrovias e hidrovias, além de recursos do BNDES para melhorar a transmissão elétrica até Assunção.



Fonte: Valor Econômico