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Mantega vê choque de oferta e minimiza riscos de inflação

O Brasil está passando por um choque de oferta “relevante”, com os aumentos dos preços internacionais do petróleo e de várias commodities agrícolas e metálicas, e o regime de metas de inflação prevê que a margem de tolerância é para ser usada em caso de c

Para Mantega, a política antiinflacionária do governo, que persegue a meta central de 4,5% com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para baixo ou para cima, deveria, nessa conjuntura, levar em conta o intervalo superior, que é de um IPCA de até 6,5% ao ano. Ele não disse, mas por trás desse raciocínio estaria a recomendação para que o Banco Central já opere com essa margem de manobra nesse novo ciclo de aumento da taxa básica de juros. O que não seria inédito, já que tanto em 2001, na época do apagão de energia elétrica, quanto em 2003, quando trabalhou com uma meta ajustada de 8,5%, face à original de 4%, o BC recorreu a esse expediente. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, o presidente do BC, Henrique Meirelles, argumentou que se o BC perseguisse a meta de 4% o PIB cairia 7,3%. “O que não se deve admitir é uma inflação estrutural.”



Em entrevista ao Valor Econômico, Mantega, com uma tabela de dados com as taxas de inflação nos principais países do mundo que seguem o regime de metas, mostra que o problema não é doméstico, é mundial. Ele admite que a “demanda interna está aquecida”, o que, para ele, “é uma virtude porque entusiasma os empresários a investir, mas eu não gostaria que a demanda ultrapassasse certos limites”. Mantega, no entanto, não estabelece quais são esses limites. E informa que está fazendo um acompanhamento setor por setor para ver onde há capacidade de produção e onde esta já está ocupada.



“A indústria automobilística está equipada para atender a toda a demanda”, avalia. “Ela vai produzir 3,8 milhões de unidades este ano, sendo 3,4 milhões para o mercado interno, e planeja R$ 5 bilhões em investimentos”, diz. Na área de siderurgia, o país produz hoje 34 milhões de toneladas de aço e exporta 6,5 milhões e a produção cresce 10% ao ano, prossegue, apontando que nessa área, ainda há alguma capacidade ociosa. No caso do trigo, diz o ministro, a situação é mais delicada. O país consome 10 milhões de toneladas e importa 7 milhões. Com a nova política de preço mínimo para o trigo, aposta, a produção nacional vai aumentar.



Mantega volta à tabela com as taxas de inflação no resto do mundo. “Você sabe que a Suíça está com 2,5% de inflação, a União Européia está com 3,5%, deveria estar com 2% e ninguém lá está arrancando os cabelos com isso. A Rússia está com inflação de 13,3%, deveria estar com 8% e também não estão arrancando os cabelos lá.” O ministro prossegue: “A China deveria estar com 4,8% de inflação e está com 8,7%. Indonésia, Filipinas, Tailândia, todos estão acima da meta. E olha o Brasil, pode pôr 5% de inflação e estamos dentro, porque temos mais 2 pontos (de tolerância), não é?”, comenta.


 


“O que nós queremos é cumprir rigorosamente o sistema de metas de inflação e esse quadro diz que o Brasil é dos poucos países que cumprem à risca a meta”, diz. Levando em consideração que há uma inflação mundial, o Brasil, na avaliação de Mantega, “pode se considerar privilegiado”, porque só o México está com a inflação na meta, mas cresce pouco.



Juros


 


Mostrando dados sobre taxa de juros de equilíbrio elaborados pelo Morgan Stanley, o ministro da Fazenda diz que o Brasil é, entre os Brics (China, Rússia e Índia), o único que, segundo os dados daquele banco, está com os juros de equilíbrio bem acima dos supostos 3,5% que a instituição calcula como a taxa que não afetaria as decisões dos agentes econômicos. Na China, a taxa de juros é negativa. Na Rússia, também. Na Índia, enquanto os juros de equilíbrio estão em 5%, a taxa em vigor é de 2% a 3%. No Brasil, os juros reais estão em 7,25%.



O ministro entende que o que há, hoje, é uma situação de inflação mundial num patamar mais elevado que no passado recente e, nesse momento, o Brasil pode transformar esse problema numa grande oportunidade, pois se o foco das pressões vem das áreas de energia e alimentos, o país é fornecedor de ambos. “Estamos bem no quesito energia porque ela é mais barata. Somos campeões de energia alternativa. Atualmente, consumimos mais álcool que gasolina. Temos grande potencial com petróleo e, portanto, nosso custo de extração não é US$ 120. Seremos o maior produtor mundial de grãos, aproveitando esse ciclo. Estamos tomando medidas para isso. Não conheço um país com essa composição tão positiva”, diz, e complementa: “É com oferta que você reage à inflação.”



Especificamente sobre o comportamento do IGP-DI de abril, ele argumenta que “há sazonalidades”. Os preços agrícolas, que deveriam ter caído, não caíram e, em alguns momentos os preços industriais sobem porque são alimentados por insumos agrícolas e metálicos. A aceleração do IPA agrícola é explicada principalmente pelo forte ritmo de alta do preço do arroz e pela menor redução, na margem, dos preços do milho e da soja. “É tudo commodity: aço, derivados de petróleo, minérios e fertilizantes. Nada diferente do que temos dito”, resume o ministro.



Ontem, Mantega participou de reunião do presidente Lula com os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto. Estavam presentes, também, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o do BC, Henrique Meirelles. Segundo Mantega, discutiu-se os efeitos que o grau de investimento poderão trazer para a economia e a política industrial que será anunciada dia 12. Sobre o grau de investimento, disse que não espera uma “enxurrada” de dólares no país e, portanto, não está estudando qualquer medida de controle de capitais.



Fonte: Valor Econômico