Liderança denuncia política privatista para habitação em SP
Leia abaixo artigo de Mascelo Buraco sobre as recentes declarações do secretário de Habitação do Estado de São Paulo, Sr. Lair Krähenbühl. Segundo a liderança, as intenções de terceirizar os projetos habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Hab
Publicado 11/06/2008 17:36
CDHU: tucanos e seu cordão umbilical com as construtoras
Esta semana o secretário de Habitação do Estado de São Paulo, Sr. Lair Krähenbühl, declarou que o grande mote da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) para 2009 é a terceirização dos projetos habitacionais para os setores da iniciativa privada.
Por Marcelo Buraco*
A proposta amplia o que os tucanos já vinham fazendo, aos poucos, por todo o estado nos projetos executados pelo CDHU, implementando a privatização dos projetos habitacionais em detrimento da proposta de projetos de construção em regime de mutirão, com parcerias entre estado e as entidades habitacionais organizadas pela sociedade civil e os movimentos de moradia.
A parceria entre estado e sociedade civil é uma forma de baratear os custos da moradia para população de baixa renda, no intuito de minimizar o grande déficit habitacional que existe em São Paulo. As construções de moradias em regime de mutirão evidenciam a grande capacidade de organização dos movimentos e entidades populares, além da competência no empreendimento das obras e na otimização dos gastos dos recursos públicos, destinados às entidades populares conveniadas num empreendimento habitacional.
Mas acima de tudo isto, a importância da construção em regime de mutirão é justamente o valor das moradias, que ficam mais acessíveis, principalmente para quem vive com baixíssima renda, facilitando o acesso do direito à casa própria levando em conta o custo final da moradia para o mutuário.
Hoje, para os mutirantes que participam dos projetos habitacionais do CDHU, o custo da moradia fica em 20% do valor da renda líquida da família. E no regime de mutirão, as pessoas trabalham com zelo pela sua moradia, as entidades e organizações dispõem de técnicos, profissionais e mão-de-obra especializados e capacitados nos próprios movimentos. Os moradores cuidam melhor dos seus imóveis depois de habitá-los e a organização popular daquela comunidade habitacional é um grande ganho para a sociedade.
Nos conjuntos habitacionais e residenciais construídos pela iniciativa privada, os valores das moradias não saem por menos de R$ 250,00 reais mensais, ou seja, uma família de quatro pessoas que sobrevivem com um salário mínimo teria que desembolsar mais de 60% da sua renda mensal pra poder pagar sua mensalidade, o que é impossível.
Com isto, a população mais carente, que são as que mais sofrem com o déficit habitacional, não conseguiriam realizar o seu sonho e seu direito à casa própria. É para estas famílias que o CDHU deve primeiramente pensar para desenvolver seus projetos habitacionais. Famílias estas que, sem o amparo de um projeto do estado, não conseguem suas moradias com base nos valores de mercado. O valor da moradia é o fator principal, considerando ainda outros inúmeros benefícios já aqui enumerados nos projetos habitacionais em regime de mutirão.
Para gabaritar seu projeto privatista, o secretário de Habitação se apóia na defesa de pessoas como o professor de Finanças, do curso de Empresas da USP, Sr. Roy Martellana. Ele faz uma comparação aos projetos no setor da saúde do estado, onde o modelo da privatização caminha a passos largos de longa data,''o estado deve garantir o direito à saúde, mas não necessariamente deve gerir hospitais''.
Mas será, Sr. Roy, que uma empresa privada do setor de saúde se importará com a saúde de quem não tem recurso pra acessar o serviço cobrado? E em quanto esta empresa orçará o serviço prestado ao cidadão, já que, na lógica do capital, ninguém pode controlar o mercado? Para completar o discurso, o Sr. Lair Krähenbühl, menciona que a mudança no perfil trará vantagens para o estado e para as empresas privadas.
Como estes tucanos gostam de dar dinheiro público para as construtoras do setor da construção civil. É ao que chamamos de a farra do cimento nos projetos do estado em contrapartida à cobrança do jabá.
* Marcelo Buraco é membro da Associação Amigos do Mutirão de Santo André e morador do Centre Ville, conjunto habitacional ocupado por operários na década de 80 no ABC.