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Jorge Cadima: Bush e o fim do mandato

O mandato de Bush ainda não terminou “e existe o perigo real de que os meses finais do seu poder não sejam apenas datas no calendário. Nos últimos dias, parte importante da comunicação social voltou a falar na iminência de um ataque de Israel ao Irã, com

“Estamos entrando no último semestre da presidência Bush. Um pouco por toda a parte, as classes dirigentes e os meios de comunicação de massas assobiam para o ar.



Parece haver uma ânsia de que termine depressa o mandato de quem tornou patente ao mundo, não apenas que o imperialismo é uma máquina de guerra, de pilhagem, de morte e de miséria, mas também que é vulnerável; que não é invencível e está corroído por crises e contradições profundas. Parecem sonhar com caras novas e discursos de “mudança” que permitam recompor as brechas profundas que se abriram e prosseguir explorações, opressões e guerras antigas.



Mas o mandato de Bush não terminou ainda. E existe o perigo real de que os meses finais do seu poder não sejam apenas datas no calendário. Nos últimos dias, parte importante da comunicação social voltou a falar na iminência de um ataque de Israel ao Irã, com a conivência de Washington (Der Spiegel, 16 de junho; New York Times, 20 de junho).



O vice-Primeiro Ministro de Israel, Shaul Mofaz declarou ser “inevitável” um ataque ao Irã, merecendo uma crítica pública do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Haaretz, 9 de junho).



Talvez sejam apenas ameaças ocas, mas a História aconselha a não subestimar o potencial de violência e morte do imperialismo, em particular quando corroído por crises profundas.


Sobretudo quando o discurso político dá lugar ao misticismo, ao fanatismo religioso, aos conceitos de superioridade racial.



Surpreende, por isso, o quase absoluto silêncio de noticiários e “comentadores” sobre o conteúdo do discurso oficial de Bush perante o Parlamento de Israel, por ocasião dos 60 anos desse país.



Repleto de referências bíblicas e parecendo mais um sermão do que um discurso político, Bush afirmou textualmente, a propósito da criação de Israel: “foi muito mais do que o estabelecimento de um novo país. Foi o pagamento de uma antiga promessa feita a Abraão, a Moisés e David – o de uma pátria para o povo eleito, Eretz Israel” (citação do texto oficial no site da Casa Branca, em 15 de maio).



“Povo eleito”? “Promessa” divina? Lembremos que este homem tem poderes para mandar disparar o maior arsenal nuclear existente à face da Terra. E acha que se está a “travar um combate com a tecnologia do Século 21, mas que tem no seu cerne uma antiga batalha entre o bem e o mal”.



Bush não fez estas afirmações de improviso, mas numa cerimônia oficial, num discurso de Estado que foi seguramente visto à lupa por conselheiros e detentores do poder real nos EUA.



Como se deve ler um discurso político com referências bíblicas? Segundo a Bíblia, Deus prometeu a Abraão: “eu darei à tua descendência esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates” (Gênese, 15). É política oficial dos EUA que Eretz Israel se estende do Nilo até à Síria e o Iraque?



Não é demais lembrar que a criação do Estado de Israel tem origens terrenas: a resolução 181 da Assembleia Geral de ONU, de 29 de Novembro de 1947.



No seu discurso, Bush apenas fa referência à ONU para criticar o fato de aprovar moções de condenação a Israel. E apenas se refere aos palestinos, a quem a Resolução 181 também prometia um Estado, para dizer que talvez daqui a 60 anos (sic!) o venham a ter. Pelos vistos, são filhos de um deus menor.



É com estes EUA que a União Européia se quer “casar”. O Tratado que as classes dirigentes da União Européia pretendem impor, contra a vontade expressa dos seus povos, institucionaliza as relações entre a Otan e a UE.



Militariza a UE para participar nas cruzadas do imperialismo. É uma espécie de consagração da Cúpula das Lajes de Bush, Blair, Aznar e o então quase desconhecido Durão Barroso, que meses mais tarde recebia uma “promoção”. E depois ainda se admiram que os povos lhes digam um sonoro “Não!”.