Expansão de fumageiras para SC aponta crise no setor gaúcho

A indústria fumageira Alliance One é a terceira do setor que pode se expandir para Santa Catarina. Os créditos de ICMS que o governo do Rio Grande do Sul deve para o setor desmotiva os empresários a aplicar novos investimentos no Estado.

O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Fumo (Sindifumo-RS) para assuntos fiscais, Astor Bublitz, afirma que o aumento das exportações do setor fez com que o Estado tivesse dificuldade em repassar para as indústrias os créditos de ICMS. Ele explica que o Estado pagou ao empresariado os valores correspondentes apenas até 2005. A dívida gaúcha motiva o deslocamento do setor para o Estado vizinho.



 
“Além de não gerar mais créditos, Santa Catarina tem um programa do pró-emprego, que dá alguns benefícios e ai é uma negociação individual, empresa por empresa, e faz com que as empresas que tenham volume e possam se instalar por lá tenham o mínimo grau de competitividade no mercado”, diz.



 
Segundo Astor, se for confirmada uma nova unidade em Santa Catarina da Alliance One, o Rio Grande do Sul vai perder de 3 a 4 mil novos empregos. No entanto, para os pequenos agricultores, pior do que a perda para o Estado é a situação dos trabalhadores. O coordenador estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Gilberto Tuhtenhagem, lembra que os agricultores que plantam fumo têm que optar pela monocultura, o que prejudica o solo.



 
“Isso demonstra, mais uma vez, o que nós temos denunciado, o grau de responsabilidade das multinacionais do fumo com a região e com os trabalhadores do campo e da cidade. Se instalaram na região, incentivaram a monocultura do tabaco e, agora, no primeiro probleminha eles já entram na guerra fiscal”, diz.



 
Como alternativa para os agricultores que cultivam fumo, Gilberto afirma que os trabalhadores estão gradativamente mudando sua cultura para a produção de alimento e energia.



 
“O poder público, como o empresarial, não teve essa visão que um dia poderia dar um colapso no fumo, como começa a acontecer, é uma crise pra região enorme. Então a curto prazo, é muito grande o impacto. Se o poder público não começar a ver algumas alternativas, certamente mais adiante vamos sofrer um impacto muito maior”, diz.



 
De acordo com a legislação brasileira, as empresas têm o direito de não pagar o ICMS nas suas operações no Estado, quando exportam, afirma o economista Sérgio Kaplon. No entanto, ele avalia que as multinacionais não estabelecem vínculos com a economia, nem com a população da região. Por isso, não se importam com o local aonde vão se instalar, desde que obtenham lucro através do calculo financeiro.
 



“A indústria fumageira, no Rio Grande do Sul, há pouco tempo, muito beneficiada com os incentivos. No entanto, não gerou empregos industriais que trouxessem um incremento de empregos industriais para a população do Estado, em relação aos benefícios que ela recebeu. Quando elas recebem incentivos elas ficam, senão elas vão se deslocando”, diz.
 
 


Paula Cassandra – Agência Chasque