Sergipe poderá se tornar produtor de biodiesel
O secretário de Agricultura de Sergipe, Paulo Viana, está entusiasmado com a possibilidade de Sergipe tornar-se produtor de biodiesel e com o crescimento da produção em vários segmentos. Em entrevista ao Jornal da Cidade, principal diário de Sergipe, ele
Publicado 12/07/2008 11:49 | Editado 04/03/2020 17:20
JORNAL DA CIDADE – O que Sergipe produz e exporta hoje?
PAULO VIANA – Sergipe produz e exporta, principalmente: suco de laranja e de outras frutas, cimento e calçados de borracha. Os sucos de frutas representam 55% do valor total das exportações sergipanas, sendo que 41% provêm do suco de laranja. Vêm em seguida o cimento com 17% e os calçados com 8%. Sergipe exporta, principalmente, para a União Européia, Estados Unidos e Mercosul.
JC – É verdadeiro afirmar que o Estado não produz nada o suficiente para garantir a vida de seus moradores? O que poderia garantir?
PV – Não concordo com a primeira afirmativa. Sergipe detém o maior PIB per capita do Nordeste; tem destaque nacional na produção mineral (petróleo, potássio e cimento) e de energia hidroelétrica. No setor agropecuário, destaca-se na produção de laranja, terceiro maior produtor entre os Estados, não obstante a sua pequena dimensão territorial. Possui uma economia agrícola bem diversificada e exporta vários produtos para outros Estados, tais como: laranja, leite, coco, farinha de mandioca, milho, arroz e hortaliças. O milho é exportado, principalmente, para Pernambuco, sendo usado na avicultura. A área cultivada com milho vem crescendo em ritmo elevado, destacando-se os municípios de Simão Dias, Frei Paulo, Pinhão e Carira. Sergipe também exporta feijão, que, como ocorre com o milho, dispõe nas épocas de safra pela sua condição de produzir em época diferenciada de outros Estados, apesar de ser importador ocasional desses produtos.
JC – Quais são os agronegócios do Estado e quais novos podem ser criados?
PV – Há muita controvérsia sobre o conceito de agronegócio. No Brasil tem sido vinculado a agricultura praticada em extensas propriedades, com grande volume de capital, elevado nível tecnológico e articulada com os mercados internacionais. Entretanto, dentro de uma conceituação mais abrangente, trata-se de explorações agrícolas que realizam transações comerciais e que estão inclusas em cadeias produtivas formadas de empreendimentos localizados à montante e à jusante da produção agrícola, constituindo elos com fortes características empresariais e tecnológicas. Em Sergipe podemos afirmar que a avicultura articulada a empresas integradoras e a citricultura são bons exemplos de agronegócio. Outro exemplo é o leite. De acordo com o IBGE, Sergipe é o quinto produtor do Nordeste, o terceiro em produtividade e o primeiro produtor por km2. A criação semi-intensiva de gado de corte e os cultivos irrigados podem também se enquadrar nessa condição, a prosseguirem os avanços tecnológicos, comerciais e empresariais recentemente registrados. Destaque-se ainda, como perspectiva, o interesse de grupos empresariais em estabelecer negócios e empreendimentos com milho, leite, arroz e a criação de búfalos em grande escala.
JC – O senhor é contra a agricultura familiar?
PV – É a prioridade do governo. Sempre defendemos a agricultura familiar, por considerá-la não apenas fonte de sobrevivência de grande parcela da população, mas por ser um sistema agrário capaz de contribuir com destaque na produção agrícola e pecuária. A agricultura familiar é grande geradora de emprego e possui características altamente desejáveis no que se relaciona com a melhor distribuição de renda e garantia de eqüidade social; fixa o homem no campo e usa menos agrotóxicos, favorecendo a qualidade de vida do produtor e melhorando a qualidade dos alimentos. As ações desenvolvidas pela Secretaria da Agricultura e suas empresas vinculadas são destinadas de forma prioritária para os produtores familiares. Citamos a ampliação da assistência técnica, o programa de produção de sementes e as ações no âmbito da reforma agrária e nos perímetros irrigados. Recentemente, com a emissão da Medida provisória 432, de 27/05/2008, os agricultores familiares terão amplas condições para liquidar ou renegociar as suas dívidas. Em Sergipe há uma elevada inadimplência, que com essa renegociação os agricultores, suas associações e cooperativas estarão aptos a ser contemplados, tendo acesso ao crédito institucional a juros fortemente subsidiados. O Pronaf tem disponível R$ 56 milhões para serem aplicados na agricultura familiar até dezembro de 2008. Portanto, há recursos disponíveis e mercado favorável, mas é preciso organização com foco no negócio para obtenção de melhores preços.
JC – Defende a reforma agrária? Qual o próximo passo que será dado pelo Estado para novos assentamentos? Onde e quando?
PV – É também uma prioridade do governo e esta secretaria tem se empenhado na sua execução, principalmente através de dois instrumentos: convênio com o Incra no valor de R$ 50.502.166,00, que possibilitará o assentamento de 1.200 famílias em uma área de 30.000 hectares a serem adquiridos pelo governo do Estado, nos municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo. Representa o maior convênio assinado pelo Incra com um ente estadual com este objetivo. Através do crédito fundiário já foram adquiridos 42 imóveis, beneficiando 480 famílias, no valor total de R$ 15 milhões.
JC – Por que o Projeto irrigado Jacaré-Curituba não funciona? O que está faltando para que isso aconteça e quantas famílias estão por lá?
PV – Esse projeto ficou parado durante muitos anos, inclusive devido à ocorrência de restrições pelo Tribunal de Contas da União relacionadas com licitações. Agora está sendo implantado pela Codevasf, de acordo com negociação e entendimentos com o Estado.
Já se encontram em execução contratos para sinalização, vigilância, instalação de tubulações, aquisição de materiais, rede de energia, supervisão e acompanhamento das obras. No próximo dia 10 de julho será feita licitação para implantação das tubulações de água. Esses investimentos representam um valor estimado de R$ 20 milhões, constando no orçamento da Codevasf para o projeto o montante de R$ 36 milhões para o ano de 2008.
Estão instaladas na área do projeto cerca de 750 famílias.
JC – Secretário, por que o programa do biodiesel em Sergipe não avança?
PV – Sergipe está em condição semelhante aos demais Estados. O Programa está avançando com os cuidados que devem ser conferidos à introdução de novas alternativas de produção. Serão plantados em 2008 mais de 3.000 hectares de girassol com produção estimada de 5.400 toneladas.
JC – Sergipe tem condições de ter uma usina de beneficiamento de biodiesel? Há negociações nesse sentido?
PV – O Programa Sergipe Biodiesel vem sendo desenvolvido por uma rede de cooperação formada por 33 instituições. Dentre outras atividades, está sendo feito estudo de viabilidade para instalação de esmagadoras e plantas finais para produção de biodiesel. A expectativa é que em breve se instale no Estado uma planta para produção do óleo.
JC – Em quais municípios vai ser produzido vegetal gerador de biodiesel? Vai ser plantado o que em cada um deles?
PV – A matéria-prima para biodiesel vai ser produzida em quase todo o Estado. O vegetal definido em bases técnicas pela Embrapa é o girassol, pelas suas características de adaptabilidade às condições edafo-climáticas de Sergipe e de viabilidade econômica. Porém, outros vegetais estão sendo pesquisados.