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Especialistas revivem debate do “pleno emprego” no Brasil

A taxa de desemprego está em forte queda nos últimos meses. Em maio, a taxa de desocupação ficou em 7,9%, o menor nível para esse mês desde 2002, quando houve mudança de metodologia na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. O número já está dentro do i

A queda na taxa de desemprego tem sido de fato bastante veloz e surpreendente. Os 7,9% de maio ficaram 2,2 pontos percentuais abaixo dos 10,1% observados no maio do ano passado. Entre janeiro e abril, a taxa havia caído entre 1,2 e 1,6 ponto na comparação com o mesmo período de 2007, o que evidencia a aceleração no tombo da desocupação em maio, como observa o economista Fábio Romão, da LCA Consultores.



Para ele, porém, esse ritmo não deve se manter nos próximos meses. Romão acredita em altas um pouco mais modestas do nível de ocupação, que, em maio, cresceu 4,6% nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, em relação ao mesmo mês do ano passado. Nos últimos meses de 2008, ele espera crescimento mais próximos de 3%, na mesma base de comparação. “É um nível ainda robusto, mas haverá alguma desaceleração até o fim do ano.” Ele acredita que a taxa de desemprego encerrará o ano em 7,9%, um nível baixo para padrões brasileiros, mas acima dos 7,4% de dezembro de 2007, quando foi registrado o menor número da série iniciada em 2002.



Romão não acha que o Brasil viva uma situação de pleno emprego. Para ele, as desigualdades regionais do mercado de trabalho e de renda tornam muito complicada essa avaliação. “Além disso, a PME, ainda que seja uma pesquisa bem feita, engloba apenas seis regiões metropolitanas. É precário dizer que há pleno emprego sem levar a situação no resto do país.”



O professor Samuel Pessôa, da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), discorda de Romão. Para ele, a economia opera em pleno emprego. Segundo ele, há vários sinais de que o país está crescendo acima do seu potencial: a inflação ganha velocidade, a utilização de capacidade instalada da indústria está em níveis elevados, a atividade econômica avança com força – e o desemprego está em queda rápida.



Para Pessôa, isso indica que a taxa desemprego está próxima do seu nível natural ou até abaixo dela. Ele ressalta, porém, que esse é apenas um dos indicadores que devem ser observados para verificar se a economia cresce acima do seus limites não-inflacionários. No próprio mercado de trabalho, Pessôa lembra que é fundamental acompanhar a evolução dos aumentos de salários, comparando-os com a produtividade. Reajustes que superam os ganhos de eficiência são uma ameaça à estabilidade de preços. Por enquanto, não há sinais claros de que isso esteja em curso. Na indústria de transformação, por exemplo, o custo do trabalho, calculado pela comparação dos salários reais com a produtividade, cai 1,17% nos 12 meses até maio, mas sobe 0,28% nos cinco primeiros meses do ano.



O cálculo da taxa natural de desemprego é bastante polêmica. No relatório de inflação de março, o BC traz algumas estimativas, baseando-se em grande parte num estudo de Tito Nícias Teixeira da Silva Filho, economista do próprio BC. Um dos cálculos mostra que, de 1986 a 2006, a taxa natural seria de 7,4%. O próprio relatório lembra, porém, que há “grande incerteza por trás dessa estimativa”, notando que, se excluído 1994, “ano em que a inflação foi fortemente reduzida por causa do Plano Real”, a taxa subiria para 9,9%.



O ex-ministro Antonio Delfim Netto é um crítico ferrenho do conceito, também conhecido como taxa de desemprego que não acelera a inflação (“nairu”, no acrônimo em inglês). Delfim reserva à “nairu” a mesma acidez que destina para a idéia de crescimento potencial, que mede o ritmo de expansão da atividade econômica que não leva a pressões sobre os preços. Segundo ele, os cálculos para a taxa natural de desemprego apresentam “variâncias gigantescas”, não sendo, com isso, um bom guia para a política monetária.



Em seus artigos, Delfim gosta de lembrar que, nos anos 90, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan não aumentou os juros, mesmo quando a taxa de desemprego caiu abaixo da “nairu” americana, que ficaria na casa de 5%. A desocupação chegou a menos de 4%, sem que houvesse pressões inflacionárias relevantes, principalmente por causa dos fortes ganhos de produtividade.



O ex-ministro do Trabalho Edward Amadeo, sócio da Gávea Investimentos, vê o conceito de taxa natural de desemprego com outros olhos. “Ninguém discute que se trata de um cálculo precário, mas eu pergunto: trata-se de algo irrelevante, que não deve ser levado em conta?” Para ele, o cálculo é útil para ajudar na condução da política monetária, do mesmo modo que as estimativas de crescimento potencial e de utilização de capacidade. “É claro que não se deve aumentar automaticamente os juros quando o desemprego bate em determinado nível, mas é um ingrediente importante para o BC.”



Amadeo diz não saber dizer se a taxa de desemprego chegou ao seu nível “natural”, mas nota que ela recuou bastante nos últimos anos – de 12,3%, em 2003, para cerca de 8%. Alguns setores, como a construção civil, têm uma situação mais apertada, observa ele. Amadeo lembra, porém, que os ganhos de produtividade continuam robustos e, como Pessôa, ressalta que a “nairu” muda ao longo do tempo, dependendo das condições estruturais da economia.



Fonte: Valor Econômico