Copom eleva juros sem consenso e sob ataques

Por cinco votos a três, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou em mais 0,75 ponto percentual a taxa de juro básico (Selic), elevando-a de 13% para 13,75% ao ano, sem viés. A alta desta quarta-feirsa (20) foi a quarta alta consecu

Veja a curta nota do Copom na íntegra:
“Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés, por cinco a votos a três, com vista a promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas”.



Para a Fiesp, foi “pura vaidade”



A ortodoxia do Copom foi comentada em termos duros por numerosos grandes capitalistas do setor produtivo, reunidos nesta quarta-feira na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo). O presidente da entidade, Paulo Skaf, atribuiu o comportamento a “pura vaidade”.



“Está claro que o aumento de juros da última vez foi um erro. Não há razão nenhuma para aumento de juros hoje. Se eles aumentarem é por pura vaidade, querer mostrar que não erraram na vez anterior”, afirmou Skaf.



Segundo o empresário do ramo têxtil, a inflação subiu devido ao aumento dos preços agrícolas no mundo, e também diminuiu pela redução dos mesmos produtos. “Não foi por causa do aumento de juros no Brasil que baixou os preços dos alimentos no mundo”, ironizou o presidente da Fiesp.



Para o presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, existem dois tipos de inflação: a local e a mundial. “A inflação caiu [no Brasil], mas não foi por influência do BC. Nós sofremos com a pressão da inflação mundial”, disse o industrial, que não acredita que o aumento nos juros vá diminuir os preços das commodities internacionais.



“O Banco Central vai ter que encontrar modos de ajustar as influências da inflação internacional. Porque querer corrigir com juros internamente [a inflação mundial] vai dificultar a estrutura do crescimento”, disse Gerdau.



Divulgada a decisão, a Fiesp voltou à carga em nota da sua diretoria. Disse que o Copom persiste no erro, “mantendo-nos com uma das maiores taxas de juros do planeta. Como se uma sucessão de erros representasse um acerto. Um equívoco que nos custa muito caro, como registra a elevação da dívida pública, para mencionar apenas uma das muitas conseqüências dessas seguidas altas da taxa Selic.”



“O aumento da taxa básica de juros anunciada hoje é ainda pior se considerarmos o Índice do Custo de Vida divulgado ontem pelo Dieese, de 0,32% em agosto, com queda acentuada dos alimentos”, comentou por sua vez a nota da CUT.



Já a Força Sindical disse que o aumento do juro básico é “colossal, inoportuno e inconveniente”. A entidade afirmou ainda que a decisão veio de pessoas que não conhecem o “Brasil real”. “Os argumentos da autoridade monetária para justificar a decisão são estapafúrdios e são produtos das cabeças de tecnocratas que não saem de seus gabinetes para ver como funciona o Brasil real”, destacou a nota



Maldade já era esperada



O salto nos juros foi mal recebido porém não inesperado. Os observadores do comportamento do Copom na sua maioria já esperavam uma elevação de 0,75 ponto percentual.



De 80 instituições pesquisadas pelo Termômetro Leia, pesquisa feita pela Agência Leia junto a instituições financeiras com as previsões para os principais indicadores do país, 68 apostaram nesse aumento.



Outras 12 supuseram uma maior complacência do Copom, prevendo um aumento de 0,50 ponto percentual, para 13,50% ao ano. Nenhuma das instituições financeiras consultadas acreditou que o colegiado do BC pudesse manter a taxa básica de juros em 13% ao ano.



Da redação, com agências