Saída de marqueteiro é mais um golpe na campanha de Alckmin

O marqueteiro Lucas Pacheco deixou a campanha do candidato do PSDB à prefeitura paulistana, Geraldo Alckmin, em mais um capítulo de uma candidatura que vem perdendo terreno junto ao eleitor. Ele será substituído pelo publicitário Raul Cruz Lima. Ao sai

“Foi uma opção dele (Lucas). A gente já estava colocando o Raul para ajudar”, disse à Reuters nesta quarta-feira o coordenador-geral da campanha tucana, deputado Edson Aparecido (SP), para quem a comunicação vinha sofrendo “um pouco” durante a campanha. “Agora é bola para frente”, completou, contando que Alckmin gravou programa eleitoral nesta manhã.



Questionado se a propaganda de rádio e TV, principal área de atuação dos marqueteiros, vai partir para o confronto direto com o prefeito e candidato Gilberto Kassab (DEM), Aparecido foi vago. “Vamos apontar os desafios que a cidade apresenta”, disse.



A primeira tarefa de fôlego do novo maqueteiro será conduzir o candidato no debate da TV Bandeirantes, nesta quinta-feira à noite. Ele vai enfrentar os jornalistas João Santana, que atua junto à candidata do PT Marta Suplicy, e Luiz Gonzalez, que trabalha com Kassab mas desempenhou a mesma função com Alckmin por três campanhas, entre elas a presidencial de 2006.



Depois de ter ensaiado críticas à áreas de saúde e educação da prefeitura, como reação à queda nas pesquisas, Alckmin recuou por pressão de tucanos que defendem a candidatura Kassab. Os ataques teriam como alvo o próprio PSDB e especificamente o governador José Serra, que esteve à frente da prefeitura até 2006, quando seu vice assumiu o posto mantendo a maior parte da equipe.



Sem se opor ao prefeito e disputando o mesmo eleitor, Alckmin sofre com a falta de discurso e está tecnicamente empatado com Kassab na mais recente pesquisa Datafolha. O tucano tem 22 por cento de intenção de voto e Kassab, 18 por cento, enquanto Marta aparece isolada na liderança com 40 por cento. No início de julho, Alckmin tinha 31 e Kassab, 13.


 


Pacheco: “lobos em pele de cordeiro”



O marqueteiro Lucas Pacheco saiu da campanha acusando os tucanos ligados ao governador José Serra de sabotarem Alckmin.
Em entrevista concedida a Renata Lo Prete, da Folha de S. Paulo, Pacheco diz que “fizeram uma orquestração para acuar o candidato [Geraldo Alckmin]”. Ele apontou os “lobos em pele de cordeiro” –referência velada a José Henrique Reis Lobo, presidente do PSDB municipal e secretário do governador — como responsável pela sabotagem.



Ao falar sobre a estratégia da campanha nos programas eleitorais no rádio e na TV, Pacheco disse que logo depois do segundo programa, quando a campanha começou a executar a estratégia de colocar o dedo na ferida (da atual gestão), “o mundo tucano-kassabista, ligado ao governo do Estado, caiu sobre a cabeça do candidato (Geraldo Alckmin). Começou uma pressão insuportável. Diziam que estávamos batendo na gestão do Serra na prefeitura. Estávamos mostrando os problemas. Não dá para fazer campanha autista”, reclama Pacheco.



Perguntado sobre quem fazia a pressão, Pacheco disse que foram “os lobos em pele de cordeiro. Que se diziam porta-vozes da insatisfação do Serra”. Segundo ele, estes porta-vozes “fizeram uma orquestração para acuar o candidato. Tentar espremê-lo. Assim como tentaram, primeiro, inviabilizar a candidatura, trabalharam depois para tornar seu discurso inviável. Se ele não puder apontar os problemas, vai dizer o quê? Não é o prefeito. Não foi prefeito. É um ex-governador que acredita ter uma missão. E eu acredito que ele tem. Mas não deixaram ele falar”.



Nos últimos dias, Pacheco vinha tentando convencer Alckmin a mudar o discurso e atacar a gestão de Kassab para evitar que o prefeito passe para o segundo turno. Mas parece que a pressão serrista falou mais alto e, derrotado na sua tese de atacar Kassab, Pacheco preferiu sair da campanha.



“Decidi sair depois de conversar com o Geraldo e com o Edson (Aparecido), para o bem do candidato. Quando você insiste numa tese, passa a atrapalhar o processo. Mas ponho a maior fé na campanha, no Raul Cruz Lima, que vai assumir, e na vitória”, disse Pacheco.



Tucanos kassabistas: “alertamos Alckmin”



As declarações de Pacheco não foram bem recebidas nas hostes kassabistas. Os tucanos ligados ao prefeito e ao governador José Serra criticaram Pacheco e, de quebra, lembraram que o próprio Alckmin, ao insistir com a candidatura, traçou o caminho do fiasco de sua campanha. “Foi uma declaração infeliz. Ele pode ser um excelente marqueteiro, mas não entende nada de política”, criticou o vereador Gilberto Natalini, líder da bancada do PSDB na Câmara de Vereadores. Natalini ressaltou ter alertado Alckmin sobre a necessidade de manter a aliança com o DEM. “Do contrário, seriam dois candidatos de uma mesma base, disputando o mesmo eleitorado, sendo que Kassab tem um governo bem avaliado”, disse.



Também presente ao evento, o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman (PSDB), também cutucou o ex-governador. “O pior momento na vida é buscar culpados. Antes de procurar fora, é preciso fazer a autocrítica”, disse Feldman. “Nós apresentamos desde o início que a candidatura de Alckmin teria dificuldades”, declarou.



Na avaliação do secretário, as disputas na capital paulista tendem a se polarizar entre situação e oposição – o que deixou Alckmin numa situação delicada, já que qualquer crítica à gestão de Kassab, seria também uma crítica aos tucanos, que ocupam posições importantes no governo deixado por José Serra. “Quando a luta política é clara, o trabalho do marqueteiro é sempre mais fácil.”



Essa divisão, segundo Feldman, auxilia a campanha da petista Marta Suplicy, que também disputa as eleições e lidera as pesquisas de intenção de voto. “Por isso, sempre defendemos a candidatura única, porque sabíamos que isso iria acontecer. Na minha opinião, Marta nunca teria esses índices nas pesquisas se a candidatura fosse única. Não tem lógica haver dois candidatos quando um governo vai bem”, argumentou. “É uma situação surreal, mas nós avisamos que era natural que isso fosse acontecer”, concordou Natalini.



De acordo com os tucanos, a tarefa agora é resgatar a aliança entre PSDB e DEM no segundo turno – que, na avaliação deles, deve ser disputado entre Marta e Kassab, que vem crescendo nas pesquisas e está empatado tecnicamente com Alckmin. Resta saber se com tantos rancores entre as partes, esta aliança no segundo turno será efetiva ou apenas um jogo de cena.