Cássio Starling Carlos: 75 filmes para ver no futuro
Fazer listas de melhores filmes é uma mania que começou entre profissionais, críticos e historiadores, e hoje se encontra espalhada entre os bilhões de blogueiros que nem precisam ser convidados para expor seu gosto mundo virtual afora.
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Publicado 11/09/2008 20:05
Muito antes de o cinema alcançar seu centenário, as listas de “melhores de todos os tempos” já provocavam paixões e fúrias. A pioneira foi a revista Sight and Sound, que publicou em 1952 uma primeira seleção feita a partir da consulta que reúne não só críticos e pesquisadores mas também profissionais envolvidos na produção de filmes.
Uma variação desse tipo flutuante de cânone vem sendo feita há algumas semanas pelo British Film Institute, que publica a Sight & Sound. Para comemorar os 75 anos de sua fundação, o BFI convidou alguns de seus ilustres associados a indicar 75 títulos para compor a programação de filmes a serem exibidos na comemoração da efeméride, que acontecem ao logo deste mês.
Em vez da manjada “qual seu filme favorito?”, a lista do BFI é composta de tentativas de resposta à questão “Que filme você gostaria de compartilhar com futuras gerações?”.
Para quem adora espiar a vida alheia, a lista traz um bocado de exemplos do gosto pessoal, ao qual se adiciona, obviamente, uma dose de idiossincrasia nacionalista, com a presença predominante de filmes britânicos.
Entre as escolhas, as dos diretores são as mais reveladoras de idéias que alimentam os filmes que eles próprios fazem e fizeram. Por exemplo: Julien Temple (O Atalante, do francês Jean Vigo), Paul Greengrass (A Batalha de Argel, do italiano Gillo Pontecorvo), Mike Figgis (Bonnie e Clyde, de Arthur Penn), Ken Loach (Trens Estreitamente Vigiados, do tcheco Jiri Menzel), Ken Russell (Metropolis, de Fritz Lang), Stephen Frears (O Terceiro Homem, de Carol Reed).
Já atores e compositores dão prova de mais ecletismo: Miranda Richardson (Os Inocentes, de Jack Clayton), Roger Moore (Lawrence da Arábia, de David Lean), Nitin Sawhney (A Canção da Estrada, do indiano Satyajit Ray), Simon Pegg (Arizona Nunca Mais, dos irmãos Coen) e Michael Nyman (Luz Silenciosa, do mexicano Carlos Reygadas).
Duas atrizes celebradas fizeram o favor de não deixar passar em branco o nome de um dos maiores. Cate Blanchett e Juliette Binoche escolheram, respectivamente, Stalker e O Sacrifício, ambos do russo Andrei Tarkovsky.
Mas é do lado menos “celebridades” que a lista ganha um interesse mais perene. As mesmas personalidades foram convidadas a responder à questão: “O que você considera estimulante em relação ao futuro da imagem em movimento?”.
Predomina, na opinião da maioria, a sedução pelos poderes da tecnologia. Para Ken Russell, adepto de um cinema da imageria, “o fundo verde significa que o céu é o limite!”. Michael Nyman e Paul Greengrass também expressam entusiasmo com relação à tecnologia, mas preferem enxergar seu valor na difusão do acesso, permitindo que cada um tenha direito à criação.
Quem prefere dar o tom negativo é Terence Davies, que foge do elogio da tecnologia para lamentar o fim da era dos grandes diretores. E Ken Loach aproveita para dar um banho de água fria em quem só enxerga benefícios na tecnologia ao alertar que, com ela, ampliamos também nossas possibilidades de sermos manipulados. Mas quem se importa com isso, não é mesmo?