Ibope e Datafolha apontam 2º turno com Marta x Kassab

Números coletados e anunciados quase simultaneamente pelos dois maiores institutos de pesquisa do país – Ibope e Datafolha – indicam uma tendência de um segundo turno entre Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM+Serra) na disputa pela prefeitura de São

Os dois gráficos ao lado mostram a evolução dos principais candidatos em São Paulo, conforme os dois institutos, desde o início da campanha, em julho. As colunas verticais diferem entre si para representar o intervalo de tempo entre as edições da pesquisa. Os dados do Ibope, em associação com o jornal O Estado de S. Paulo, foram divulgados nesta sexta-feira (12); os do Datafolha estão na Folha de S.Paulo deste sábado (13).

Números que coincidem

As curvas têm notável semelhança entre si, o que reforça a credibilidade dos resultados (ainda que exista a possibilidade estatística dos Ibope e do Datafolha estarem repetindo um mesmo erro). Amas trazem mais uma má notícia para o candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmin.

Marta aparece isolada em um confortável primeiro lugar (apenas em 23-24 de agosto o Ibope registrou Geraldo Alckmin, o candidato oficial do PSDB, em empate técnico porém quatro pontos abaixo da petista). Ela interrompeu a ascensão registrada em agosto e passou a oscilar para baixo. Mas permanece 14 confortáveis pontos acima dos rivais, no Ibope, e 16 pontos no Datafolha.

Alckmin cai constantemente nos dois institutos ao passo que Kassab sobe. Os dois institutos mostram um empate entre os dois candidatos conservadores que disputam o segundo lugar. No Ibope, ambos têm 21% das intenções de voto. No Datafolha, Alckmin fica com 20%, pela primeira vez embaixo de Kassab, 21%.

O ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf (PP), mantém nas duas seqüências uma linha quase reta, oscilando entre 7% e 9%. Dono de um fiel embora declinante eleitorado conservador, ele ultimamente sinaliza alguma simpatia por Kassab, dentro da lógica triangular que rege a disputa pela maior prefeitura brasileira.

Soninha Francine (PPS) figura com 3% no Ibope e 4% no Datafolha. Ivan Valente (Psol) tem 1% em ambos. Os demais candidatos não pontuam.

O drama de Geraldo Alckmin

Os números – e sobretudo as curvas – apontam nas duas séries de pesquisas  para um segundo turno entre Marta e Kassab. Uma possível reviravolta exigiria que Alckmin passasse a atacar Kassab, como seu aconselhava o seu ex-marqueteiro Lucas Pacheco, que deixou a campanha justamente por isso. Porém a própria saída do publicitário mostra o tamanho da influência, no PSDB, dos ''lobos em pele de cordeiro'', nas palavras de Pacheco: os homens do governador tucano José Serra, que apóia de fato Kassab embora formalmente tenha comparecido a um jantar pró-Alckmin.

O atual prefeito tem a maior coligação (que inclui o PMDB do ex-governador Orestes Quércia) e portanto o maior tempo de TV, que usa para martelar seus ''compromissos'' e alfinetar a gestão de Marta como prefeita (201-2004). Enquanto Alckmin, com menos tempo que Kassab e Marta, não acertou a mão na propaganda de TV e nos três debates já realizados, pagando o preço de um discurso que não é nem governista e nem oposicionista.

Kassab conta com a máquina da Prefeitura e na prática também com a do governo estadual. Na chapa dos candidatos do PSDB à vereança, possui não poucos cabos eleitorais explícitos ou implícitos. Tem, ainda, a campanha mais rica da cidade, ao passo que a de Alckmin dá sinais de estar com a língua de fora no quesito finanças.

Marta, o ''jacaré'' e a ''cobra d'água''

No comando da campanha Marta, a torcida unânime é para que a disputa pelo segundo lugar se prolongue ao máximo. E também para que ela ''faça sangrar'' o PSDB, deixando feridas abertas no segundo turno, quando os dois candidatos conservadores prometem solenemente que estarão juntos, vença quem vencer.

No fim de semana passado (6) em discurso para militantes na zona leste da cidade, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), vice na chapa de Marta, disse que Kassab e Alckmin ''fizeram uma aliança do jacaré com a cobra d'água'' e previu: ''A cobra vai ser comida pelo jacaré mais cedo ou mais tarde'', previu Aldo, sem discriminar qual candidato é o réptil e qual o ofídeo. Kassa retruco a Aldo que a previsão ''é delírio''.

Porém as cabeças pensantes da campanha Marta se dividem sobre qual o  adversário sobrevivente que seria melhor enfrentar nas urnas de 26 de outubro. Uns preferem Kassab, outros Alckmin.

Argumentos ''pró-Kassab'' e ''pró-Alckmin''

Segundo despacho da agência Reuters nesta sexta-feira, ''a maioria do comando da campanha de Marta Suplicy'' acredita que Kassab ''é o adversário ideal para a disputa por reunir mais fraquezas que Geraldo Alckmin''. Kassab, na análise de petistas ouvidos pela Reuters em caráter reservado, tem fraquezas como a pouca experiência em cargos públicos e deficiências de imagem que o tornam pouco conhecido do eleitor.

Outra vantagem apontada na disputa com Kassab é que as duas pesquisas mostram supremacia de Marta sobre ele nas simulações de segundo turno. O Ibope indica 50% para Marta e 43% para o demista. O Datafolha dá exatamente os mesmos números. No caso de um segundo turno entre Marta e Alckmin, os dois institutos apontam empate, com 47% a 47%.

Por fim, os que preferem enfrentar Kassab argumentam com os índices de rejeição do prefeito, maiores que os do ex-governador. No Ibope, 24% dos eleitores responderam que não votariam em Kassab de jeito nenhum; e 17% deram a mesma resposta em relação a Alckmin. No Datafolha, os números foram, respectivamente, 22% e 17%.

No entanto, circulam no comando da campanha de Marta argumentos que apontam na direção oposta. E não são menos fortes.

O primeiro deles é o da curva. Um Gilberto Kassab que chegasse ao segundo turno estaria descrevendo uma curva ascendente, o que sempre é um trunfo. Já Alckmin chegaria ao segundo turno em um movimento e recuperação, mas distante das intenções de voto que ostentou no passado.

O segundo argumento aposta em uma cisão dentro do atual campo pró-Kassab, no caso de um segundo turno entre Marta e Alckmin. Acredita que o PMDB de Quércia, por exemplo, dificilmente faria campanha para Alckmin e no limite poderia até apoiar Marta. Crê ainda que José Serra, de olho na disputa para ser o presidenciável tucano em 2010, continuaria a apunhalar até com mais força o seu correligionário Geraldo, encarando a eleição de Marta como um mal menor.

O terceiro argumento liga-se também a 2010. Acredita que a chegada de Kassab ao segundo turno seria, em si, um reforço da candidatura presidencial de Serra. E prevê que o governador tucano, já despido da saia justa em que se encontra hoje, entraria com tudo na campanha pró-Kassab.