Depoimento de Jobim à CPI desmente imprensa

Ao contrário do que divulga a chamada grande imprensa, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não está convicto de que os aparelhos adquiridos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) têm capacidades para fazer interceptação telefônica. No depoiment

Questionado se havia declarado à imprensa que os equipamentos adaptados poderiam realizar grampos, o ministro disse que não pretendia contradizer a imprensa, mas ela “não tem autorização nenhuma para fazer isso.”


 


Ele explicou que iria ficar restrito aos fatos que ocorreram na reunião com o presidente Lula após a publicação da revista Veja sobre o grampo telefônico que atingiu o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A publicação responsabiliza agentes da Abin pelo grampo.


 


Além das informações sobre os equipamentos, Jobim sustentou na reunião que não competia a Abin participar de investigações sobre crimes comuns que são atribuições da Polícia Federal (PF), do Ministério Público e da Justiça. “Não haveria justificativa nenhuma da participação da Abin nesse tipo de atividade. A decisão do presidente foi afastar a direção (do órgão) e determinou que o Ministério da Justiça abrisse investigação.”


 


Jobim explicou que obteve do Exército as informações sobre os equipamentos e as repassou ao presidente e ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Félix, a quem está subordinado a Abin. “Ele disse que não conhecia e iria examinar o assunto.”


 


Segundo ele, Félix requisitou técnicos do Exército para trabalhar na elaboração de um laudo sobre os equipamentos. Pela manhã, em depoimento à Comissão de Controle de Atividade de Inteligência do Congresso, o general disse que o laudo seria divulgado por Jobim, que negou que estivesse com o documento.


 


Diante do impasse, o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) anunciou que irá requisitar os equipamentos para serem examinados por técnicos da Unicamp.


 


Os aparelhos, segundo documento entregue pelo ministro à CPI, foram comprados em 2006. São eles: o OSC-500 Ommi-Spectral Correlator (US$ 66 mil), o Stealth LPX Global Intelligence Surveillance System  (US$ 60 mil) e o ORION – The Great Hunter (US$ 59,2 mil). Ao lado do Stealth estava inscrito à mão o valor e o dizer: interceptador digital.


 


Jobim também negou que esteja havendo uma disputa no governo pelo controle da Abin. É que ele havia sugerido que o órgão ficasse subordinado à sua pasta, proposta criticada pelo general Félix. “Não disputo nada”, disse Jobim.


 


Cadê o áudio?


 


O ex-diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, disse pela manhã à Comissão de Controle de Atividade de Inteligência do Congresso que não há provas de que o órgão foi responsável pelo grampo entre o presidente do STF e o senador. Segundo ele, a revista Veja, responsável pela matéria, até agora não apresentou a gravação, isto é, tem apenas uma transcrição.


 


Para ele, também não houve desvio de funções da Abin em ceder funcionários para ajudar a PF nas investigações da Operação Satiagraha. “Afinal de contas todos são funcionários públicos. Entendo que foi uma decisão acertada da Abin apoiar a PF, que também faz parte do sistema de inteligência do país”, disse Lacerda.


 


De Brasília,


Iram Alfaia