As irmãzinhas e o os mermão: a cara da nova novela TV Globo

Telenovela de respeito começa por um tour Elizabeth Arden.


 


Por Nirlando Beirão, na CartaCapital

É para iludir os protagonistas — e a equipe técnica — com o fugaz alento para a penosa jornada que os aguarda, meses a fio. Já houve Veneza e Amsterdã, em exagero de barcos e de canais. São Petersburgo, para um retoque imperial. Londres e Paris, menção ao clássico. Lisboa, afetuosamente familiar. Nova York, com aquele skyline que, se fosse cobrar copyright, quebraria Hollywood assim como a Rede Globo. E, num rasgo de exotismo, a Marrakesh de O Clone, em moldura tão forçada que não há um escasso marroquino que se identifique com aquilo lá. Parece caricatura forjada nos galpões do Projac. Xangai está a caminho, ou Hong Kong, sabe-se lá — com Miguel Falabella fazendo-se passar por Wong Kar-Wei.


 


Três Irmãs, que estreou esta semana, excursiona por praia ainda mais remota. Nem Bali nem o Havaí. Trata-se de um mundo fictício, que se assemelha remotamente com o que o Rio de Janeiro já foi e não é mais: paraíso de surfistas dourados e de criaturas indecorosamente felizes, típicos daquelas páginas coloridas de Manchete nos otimistas anos JK. É o cenário que coube ao autor Antonio Calmon, o mascate da clorofila e da progesterona, naquele horário propício das 7 da noite — em que a garotada espreguiça no sofá, em fantasias libidinosas confrontadas com a dura realidade da mamãe que, a distância, pilota o jantar.


 


A viagem de Calmon é outra, a espectral nostalgia que só uma câmera muito arisca — ou uma cenografia impecável — pode recortar nesse Rio das mil tragédias. De todo modo, é nação com dialeto próprio, numa multiplicação de síncopes, de vogais e de hipérboles. Você diz, por exemplo: mer’mão, para dizer meu irmão; meiiisssmo, quando a palavra é mesmo; douuuuze, no lugar daquele conhecido sinônimo de uma dúzia.


 


As três irmãs do título são umas belezinhas, mas só mesmo a presença de Regina Duarte, em surto de Viúva Porcina, e de Marcos Caruso, para quem fazer rir é que nem coçar, pode antecipar a expectativa do humor meio escrachado. Como diz a própria Regina, novela é bom para quem não tem o que fazer.