José Carlos Ruy: Bancos à beira do abismo na Europa

Governos intervêm para salvar o sistema bancário na Inglaterra e Benelux. Na Alemanha, o salvamento foi privado, até agora.



Por José Carlos Ruy, com agências

A crise financeira alastra-se, como uma metástase, pela Europa. Na sexta feira, o maior banco do Benelux (união da Bélgica, Holanda e Luxemburgo), o Fortis, teve queda de 20,37% em suas ações na Bolsa, a pior cotação em 14 anos. Foi salvo por uma operação de emergência dos três governos decidida neste final de semana. Os governo injetaram 11,2 bilhões de euros e, para completar o valor necessário para seu resgate, o Fortis teve que vender por 10 bilhões de euros sua recém adquirida participação no ABN Amro, abaixo do valor pago por ela há poucos meses, que foi de 24 bilhões. Mesmo assim, na segunda-feira (29), as ações continuavam em queda de 3,85% na Bolsa de Bruxelas e 3,47 em Amsterdã.



A operação de salvamento virtualmente estatizou o Fortis, que está entre os 20 maiores da Europa, tem seis milhões de clientes e 80.000 funcionários; seu controle passou para os governos belga, holandês e luxemburguês, que passam a ser donos de 49% do capital do banco.



Segundo os analistas, o objetivo da intervenção no banco é evitar um efeito dominó provocado pela crise financeira nos EUA, e que pode contagiar o conjunto da Europa. Entretanto, as agências de notícias divulgaram entrevista com um corretor da Bolsa de Zurique, segundo o qual os problemas do Fortis já “afetam as ações dos bancos europeus, gerando riscos de fortes desvalorizações dos ativos no terceiro trimestre”. Um exemplo é a situação do UBS, o maior banco suíço, cujas ações tiveram queda de 8% nesta segunda-feira, devido ao medo de contaminação da crise financeira vinda dos EUA.



Em outros países europeus, autoridades monetárias anunciaram nesta segunda feira a injeção de bilhões de euros para impedir o colapso de várias instituições bancárias. Na Inglaterra, o governo estatizou o banco Bradford & Bingley, pagando aproximadamente 33 bilhões de dólares, além de facilitar a venda de ativos da sua divisão de varejo para o espanhol Santander. O chefe do Tesouro britânico, Alistar Darling, explicou a operação dizendo que ela foi necessária para evitar que a falência do Bradford & Bingley pusesse em risco a estabilidade do sistema financeiro do país. O governo vai assumir controle da carteira de hipotecas do banco, estimada em 100 bilhões de dólares. A parte de poupança do B&B, avaliada em 40 bilhões de dólares, será comprada pelo Santander.



Na Alemanha, o banco Hypo Real Estate disse ter obtido um empréstimo de um consórcio de bancos alemães num valor que, segundo a imprensa, supera os 51 bilhões de dólares. O Hypo é um grande tomador de empréstimos no mercado financeiro e foi fortemente afetado pela crise global. Depois da divulgação da notícia sobre o empréstimo, suas ações tiveram perdas de 63% nesta segunda-feira.



No final do expediente da segunda-feira, o Banco Central Europeu anunciou que vai injetar outros 120 bilhões de euros no sistema bancário, para melhorar a liquidez do setor da zona do euro. Esta montanha de dinheiro será emprestada a 38 bancos comerciais, com vencimento em 7 de novembro, a um juro mínimo de 4,36% (o juro médio será um pouco mais alto: 4,88%).