Vídeo: retaliação de Serra abre crise na Polícia Civil de SP
Uma ação da Secretaria de Segurança Pública do governo José Serra (PSDB) contra o líder da greve dos policiais civis em São Paulo, Sérgio Marcos Roque, abriu uma crise na cúpula da Polícia Civil do Estado. O delegado Domingos de Paula Neto, diretor do
Publicado 29/09/2008 17:33
Para o delegado André Dahmer, diretor Adpesp (Associação dos Delegados da Polícia Civil do Estado de São Paulo) a transferência do presidente da entidade para do Dipol (Departamento de Inteligência Policial) para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital) foi mais uma atitude autoritária do governo do estado. "Ele não precisaria ter feito isso, foi uma maneira de calar a nossa boca, uma vez que no Decap tem uma portaria que proíbe declarações" revela.
"É praticamente impossível a categoria se sentir à vontade em um governo que trata seus trabalhadores dessa forma arbitrária. O pedido de demissão do delegado Domingos de Paula, um dos delegados mais eficientes em nosso quadro, é uma perda, principalmente para a população, pois ele é o principal responsável pela diminuição de homicídios do Estado. É um trabalhador digno e classista, por isso não aceitou o que fizeram. Saiu do conselho da Policia Civil para entrar na historia", opina Dahmer.
Queda de braço
A temperatura na Polícia Civil já estava alta desde que a Secretaria da Segurança tomou conhecimento da atitude de um delegado do 98º Distrito Policial, na zona sul de São Paulo, que se recusou a registrar um roubo e impediu que o escrivão o fizesse. A situação piorou quando Domingos procurou o delegado-geral Maurício Lemos Freire na manhã de ontem e comunicou sua decisão.
Freire tentou demovê-lo, mas não conseguiu. Domingos reafirmou sua lealdade ao delegado-geral e à instituição e disse que não poderia compactuar com a ordem de transferir Roque. Com a saída de Domingos, o governo nomeou para o Dipol o atual diretor da Corregedoria da Polícia Civil, Gaetano Vergine. O delegado Alberto Angerami, que dirigia o Departamento de Administração e Planejamento (DAP), assumiu a corregedoria. Para seu lugar no DAP foi a delegada Ana Paula Ramalho Soares, que se tornou a primeira mulher a fazer parte do Conselho da Polícia Civil.
Os policiais civis em greve há oito dias querem 15% de reajuste em 2008, 12% em 2009 e 12% em 2010. O governo oferece reajuste do piso salarial de 38% e reajuste de 4,5% no salário-base, além de outras medidas de reestruturação das carreiras policiais. Os policiais deixaram de registrar boletins de ocorrência de crimes de menor gravidade. A Justiça mandou que 80% dos policiais continuem a trabalhar. O governo cortou o ponto dos grevistas e mandou a PM registrar os casos quando houver recusa dos delegado, o que já ocorreu em 548 casos. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
Mobilização
Representantes da Adpesp garantem que a mobilização tem aumentado em São Paulo. Segundo a entidade cada ato intransigente do governo e de pressão sobre o movimento só favorece a unidade e mostra à população as reais reivindicações dos agentes, que é principalmente a luta por políticas públicas de segurança e melhores condições de trabalho.
Em Mogi das Cruzes aproximadamente 200 policiais civis, em cerca de 50 carros particulares, participaram no começo da tarde de ontem de uma carreata, que saiu da frente da Delegacia Seccional, percorrendo as ruas do município. A manifestação é a primeira do gênero já ocorrida na região.
Nas Delegacias da Região do Alto Tietê o número de BOs (Boletins de Ocorrências) registrados diminuiu, com exceção dos casos mais graves ou os que podem dar problemas futuramente.
Para um grupo de policiais, casos semelhantes jamais deveriam ser registrados, pois o reclamante poderia informar via internet à Delegacia Eletrônica, o que iria aliviar o atendimento nos plantões.Já em Barretos, policiais saíram às ruas para protestar amordaçados, contra mais uma transferência efetuada. Dessa vez, do delegado seccional da região.
Em Presidente Prudente, uma semana após o início da greve, cerca de 150 policiais, segundo o Sindicato dos Policiais Civis de Prudente e Região (Sipol), deixaram a porta de entrada da Delegacia Participativa da cidade, e em passeata, percorreram na tarde de terça-feira (23), as principais ruas do Centro de Presidente Prudente, munidos de cartazes, faixas e panfletos nas mãos. A movimentação ocorreu para dar "sustentação" ao movimento grevista e após a Câmara Municipal de Prudente aprovar, por unanimidade, na noite de segunda-feira(22), moção de apoio à categoria em regime de urgência, que segundo o Sipol, fortalece o movimento, já que cópias do documento já foram encaminhadas pelo Legislativo a representantes do governo.
De acordo com o diretor do Sipol, Carlos Rodrigues Ferreira, 53 anos, a passeata de ontem teve como objetivo mostrar à população as dificuldades enfrentadas pela categoria nas delegacias, bem como expor as reivindicações dos policiais, que dentre outras pedem "reposição salarial das carreiras e devolução de aposentadorias". "Só não tivemos adesão de 100% dos policiais grevistas, porque desde o primeiro dia da greve estamos cumprindo as diretrizes impostas pelo TRT [Tribunal Regional do Trabalho], que é manter 80% do efetivo trabalhando", explica.
Apoio
Nos discursos feitos durante a passeata, o Sipol teve apoio de diversas entidades. Além de policiais dos distritos de Prudente, participaram ainda profissionais que trabalham em delegacias abrangidas pelas seccionais de Dracena, Adamantina e Presidente Venceslau.
Na sessão da Câmara de segunda-feira (22), os vereadores aprovaram no plenário, moção de apoio às reivindicações da categoria. Conforme Ferreira, ontem pela manhã cópias da documentação já foram encaminhadas ao governador do Estado, José Serra (PSDB), ao secretário de Segurança Pública, Ronaldo Augusto Bretas Marzagão, ao delegado-geral da Polícia Civil, Maurício José Lemos Freire, e à Assembléia Legislativa do Estado. "Nossa luta não é política, nossa luta é contra o governo, para que haja valorização das carreiras", finaliza.
Veja o vídeo que denúncia a falta de diálogo do governo.