Pela 1ª vez, uma mulher assume jornal fundado por Gramsci
Concita de Gregorio — que ficou famosa à frente do jornal La Repubblica — assumiu a direção do mítico jornal do Partido Comunista Italiano, o L'Unità, fundado pelo filósofo Antonio Gramsci em 1924. É a primeira mulher a assumir o posto n
Publicado 01/10/2008 21:53
“Vivemos no eterno presente, sem memória e sem perspectivas. Só pensamos em nós mesmos”, afirmou ela ao jornal espanhol El Mundo. “É um problema estrutural. Temos medo: do outro, de perder, de não sermos fortes. E o medo transformou-se numa indústria. Esse é o nosso consenso: o medo”, afirmou Concita.
A esquerda também não está confortável no mundo real, afirmou, porque “está mudando de era, passando pela fase pós-ideológica, tentando entender a realidade”. Segundo ela, a esquerda está há 30 anos numa “jaula ideológica, opinando sobre qualquer coisa, seja o que for, com preconceitos e de orelhas tapadas”.
Talvez tenha sido por isso que Concita de Gregorio aceitou a proposta de Renato Soru, fundador da Tiscali, uma operadora de internet, e governador da Sardenha, para dirigir o L'Unità, especula o jornal espanhol. De Soru, um dos homens mais ricos do mundo segundo a revista norte-americana Forbes, diz ser um “empreendedor muito moral, fora de moda e pouco falador, um anti-italiano”.
A jornalista de 43 anos afirma que não aceitou o cargo “para fazer carreira, nem pelo dinheiro, nem para gritar”, mas “para baixar o tom de voz, para falar das coisas reais, e para tentar explicar onde está a substância e onde estão os truques”. “Já chega de opinião — agora precisamos de fatos”, escreveu Concita de Gregorio no seu primeiro editorial do L'Unità.
A escolha da jornalista para dirigir o diário foi uma surpresa para muitos italianos, pouco habituados a ver mulheres em posições de comando. “Aposto que agora vamos ver muitas receitas simples para mães trabalhadoras, e conselhos sobre como se comportarem como prostitutas quando os maridos chegarem em casa”, escreveu no diário de direita Il Giornale o italiano Paolo Guzzanti, um colunista e jurista conservador.
Sobre os rumos do jornal, Concita de Gregorio garante que “vai ser diferente” porque é preciso “indicar caminhos”, “outras vias”, que permitam chegar a “outros mundos possíveis”. Ela também disse que aposta no jornal impresso. “Os jornais são objetos insubstituíveis, cuja lentidão é uma garantia para se dizer a palavra justa e profunda, um antídoto para este tempo veloz em que a objetividade está morta”, pregou.
Por Osvaldo Bertolino, no blog O Outro Lado da Notícia