Mercados continuam nervosos; Bovespa desaba e dólar dispara

A aprovação do Plano Bush pelo Senado dos EUA não trouxe a paz ansiada pelos mercados de capitais. A instabilidade é grande e as ações tendem a continuar em baixa no mundo. As bolsas asiáticas fecharam em queda, com Tóquio recuando 1,9% nesta quinta-fe

No Brasil, no início da tarde o dólar comercial operava em forte alta e chegou a superar a marca de R$ 2. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) faz um movimento inverso. Às 14h30, de acordo com informações do portal Uol, o Ibovespa despencava 6,28%, a 46.671,99 pontos. O avanço da moeda americana e a queda da Bolsa refletem o pessimismo no mercado financeiro.



Desconfiança



As preocupações concentram-se no pacote proposto ao Congresso pelo governo Bush, que ainda terá de passar pelo crivo da Câmara, que na segunda-feira rejeitou a primeira versão. Além disto, cresce a desconfiança sobre a eficácia, o financiamento e o alcance do socorro de US$ 700 bilhões aos bancos, que de resto não contempla os interesses e as reivindicações de milhões de mutuários que perderam ou correm o risco de perder seus imóveis. Os senadores incluíram isenções fiscais em benefício das camadas médias que elevaram em US$ 150 bilhões (para US$ 850 bilhões) o valor do plano. 



“Na Câmara é mais difícil (aprovar o pacote) e seguem as incertezas sobre isso. Ontem, o mercado já tinha meio que certeza de que o Senado aprovaria, mas agora restam outras dúvidas. Também resta saber se isso vai resolver o problema da economia”, disse um consultor de investimentos de uma corretora entrevistado pelo Uol, que preferiu não ser identificado.



Recessão à vista



O pessimismo aumentou depois da divulgação de uma pesquisa mostrando que as encomendas à indústria americana em agosto recuaram 4%, maior contração desde 2006, puxada pelo setor de autopeças. É um forte sinal de que a crise não ficará restrita à construção civil e ao sistema financeiro e já está contaminando de forma mais ampla o setor produtivo. Outra prova de desaceleração veio com a notícia divulgada pelo Departamento de Trabalho de que os pedidos de seguro-desemprego aumentaram para o maior nível desde a recessão de 2001.



A recessão parece inevitável, restando saber a dimensão dos estragos na indústria e os reflexos no consumo interno dos EUA (que, em grande medida, significa consumo de importados) e no comércio exterior. É por aí que efeitos mais sérios para o resto do mundo, inclusive a China, poderão se verificar. Um ajuste mais severo do déficit comercial americano, que pode vir na carona da queda do PIB e em resposta à necessidade de elevar a taxa de poupança (como sugere o diretor-gerente do FMI, Dominique Straus-Kahn), dificilmente deixará de ser sentido pela mais próspera nação asiática.



O pior está por vir



O Brasil, onde os efeitos da crise já são notórios (e não só no mercado de capitais), também teria muito a perder neste caso, pois uma eventual desaceleração da economia chinesa seria uma má notícia para os preços de nossas exportações e pode ter efeitos nocivos sobre o balanço de pagamentos, já ameaçado pelo crescente déficit em conta corrente.    



Na Europa o nervosismo é crescente. Depois de manter inalterada a taxa de juros, em 4,25%, o Banco Central Europeu afirmou, em comunicado distribuído aos jornalistas, que é preciso uma ação coordenada dos bancos centrais de todo o mundo para exorcizar o fantasma da crise. Estuda-se a criação de um fundo de socorro aos bancos, proposto pela Holanda. 



A força dos fatos vai aos poucos impondo a conclusão de que o fundo do poço ainda não foi alcançado. Os sinais são no sentido de que o pior ainda está por vir e virá na medida em que as pressões sobre o setor produtivo se ampliarem. Embora não pareça, a crise financeira resulta, no fundo, de perturbações mais profundas na chamada economia real e tem muito a ver com o déficit industrial do comércio exterior, conforme alertava o economista estadunidense Robert Brenner.



Também transparece na crise do capitalismo americano a atualidade das idéias de Karl Marx, o que foi salientado pelo historiador inglês Eric Hobsbawm em recente entrevista. O momento realça a necessidade objetiva de uma nova ordem econômica mundial, mas isto não significa o fim do neoliberalismo, muito menos do capitalismo. Isto não se alcança sem grandes mobilizações e lutas da classe trabalhadora e dos povos. 



Fonte: http://portalctb.org.br