Ana Varón: E depois da crise, teremos que aprender mandarim?

Os Estados Unidos atravessam uma de suas piores crises econômicas. Há aqueles que temem que ela seja ainda mais grave e tenha repercussões maiores do que a Grande Depressão de 1929. O mundo inteiro se viu afetado, porém, há um continente que, apesar de

Os países orientais sofrem os efeitos da crise. Os altos investimentos que nações asiáticas faziam nos EUA estão minguando. Além disso, a recessão econômica diminui consideravelmente as demandas que o país do norte faz regularmente à Ásia.



Segundo especialistas, os países asiáticos que mais podem ser afetados são Coréia do Sul e Japão; em menor escala, China e Índia, em virtude da força dos mercados internos.



Pio García, ex-funcionário da chancelaria colombiana para assuntos relativos à Ásia e à África, acredita que o Japão tem poucas possibilidades de expandir seu mercado interno como está fazendo a China.



''A superprodução de mercadorias chinesas que não está sendo enviada aos EUA pode ser absorvida pelo mercado interno'', comenta.




Apesar disso, se poderia dizer que esta crise econômica é o ataúde do país no norte como hegemonia econômica no jogo das relações internacionais. A Ásia já está tomando o lugar dos EUA, no vácuo deixado pelo país liderado por George W. Bush. De acordo com García, a maior alavanca para o desenvolvimento do sudeste asiático já não são os Estados Unidos, senão a China e o Japão.



''Já há uma maior integração asiática que substitui o papel que os Estados Unidos estava desempenhando na região'', salienta García.



O dragão apaga as estrelas do Tio Sam



A fim de se financiar, o Tesouro americano emite títulos da dívida com vencimento para daqui a 20, 25 e 30 anos. Para a surpresa de muitos, os maiores compradores destes títulos são os asiáticos. De acordo com relatórios do Treasury International Capital, o Japão é o país que mais possui títulos da dívida americana, com US$ 583,8 bilhões, seguido pela China e em seguida a Grã Bretanha.



A invasão da Ásia na economia mundial chegou a tal ponto que desbancou vários norte-americanos na lista dos mais ricos da revista Forbes. No top ten atual, quatro empresários indianos aparecem na lista: Lakshmi Mittal (4°), Mukesh Ambani (5°), Anil Ambani (6°), KP Singh (8°).



Uma possível guinada do poder econômico em direção ao Oriente poderia vir acompanhado de reflexos em vários aspectos da vida dos cidadãos ocidentais, incluindo a esfera cultural. Num futuro próximo, os refrigerantes e hambúrgueres poderiam ser substituídos por arroz frito e insetos, por exemplo.



América Latina: inglês ou mandarim?



Tendo em vista esta previsões, nossa região talvez deveria perguntar-se: é realmente vital ter os olhos voltados para o norte? Por que não nos voltamos
mais para a Ásia? Quem sabe não teríamos bons resultados…



Alguns países latino-americanos já deram os primeiros passos na tarefa de buscar negócios com a Ásia e parecem já garantir bons resultados: Chile, México e Peru pertencem à Apec – Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico – e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está apostando suas fichas, não só econômicas como políticas, na China. Enquanto isso, por outro lado, países como a Colômbia, que tem um extenso litoral no Pacífico, vêem a Ásia de forma distante, e não como um eixo estratégico para seu comércio.