James Petras: 10 razões para recusar o socorro a Wall Street

O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras da Wall Street. Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram bilhões de dólares toma

A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estadunidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a atual e as futuras gerações de contribuintes com papéis desvalorizados.



Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De fato, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson. A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especulador, o qual criou a atual derrocada econômica.



O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de bilhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do atual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos. O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a reindustrialização da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infra-estrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano.



O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reativo e justo administrado publicamente.



Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street



1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más.



2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com ativos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice.



3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer ativos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs.



4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores.



5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras.



6- O dólar desvalorizará quando o poder de atração da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores.



7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda.



8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do diretor do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o fato de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais “ativos tóxicos” e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes.



9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes.



10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão.



Alternativas ao salvamento da Wall Street



A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De fato, investir US$ 700 bilhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de déficits orçamentais e comerciais.



Fundos públicos investidos na manufatura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro.



O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.



* Professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York



Artigo reproduzido do Resistir.info