Ibovespa em dia crítico; no mundo, bolsas despencam

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) enfrenta um dia crítico nesta segunda-feira (6), acompanhando o desmoronamento dos mercados em todo o mundo. As ações caíram tanto, que o pregão foi interrompido duas vezes em apenas uma hora e meia. A sessão

A última vez que a Bovespa havia acionado o circuit breaker por duas vezes no mesmo dia foi em 28 de outubro de 1997. Por volta das 14h40, o Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, despencava 11,69%, aos 39.311,31 pontos.



A primeira parada do dia foi de meia hora, entre 10h18 e 10h48. A segunda interrupção aconteceu das 11h44 às 12h44.



Essas paralisações acontecem automaticamente quando a Bolsa cai demais. O sistema é chamado “circuit breaker” e é acionado para tentar acalmar o mercado.



Pelas regras, a primeira parada ocorre quando a queda é superior a 10% e dura meia hora. Depois, se continuar a cair, a Bolsa pára de novo quando perde mais de 15%, com uma suspensão maior, de uma hora.



Após a segunda parada, não há mais limite de queda. A decisão de uma nova suspensão depende do diretor do pregão.



A sessão havia sido interrompida na primeira vez às 10h18, após o Ibovespa (principal índice de ações) atingir 10,09% de queda.



A segunda parada ocorreu num momento em que a Bovespa caía 15,06%, aos 37.814 pontos. A maior queda da Bovespa foi de 22,26% em 21 de março de 1990, segunda a assessoria de imprensa da instituição.



Os investidores estão com medo do efeito dominó da crise financeira sobre a Europa, o que afeta mercados no mundo todo.



É a terceira vez em uma semana que o sistema de parada da Bovespa é acionado. Na segunda-feira passada, dia 29 de setembro, houve o mesmo problema, mas com apenas uma parada no dia.



Embora o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush tenha sancionado na última sexta-feira a lei que autoriza o pacote de US$ 700 bilhões para socorrer os bancos norte-americanos em crise, o mercado não se convenceu e seguiu sem otimismo.



As Bolsas asiáticas, por exemplo, afundaram nesta segunda-feira com os investidores temerosos quanto a eficácia das medidas dos governos norte-americano e europeus para acalmar as tensões nos mercados financeiros.



Noticiário



O Bank of America anunciou que está disposto a gastar até US$ 8,4 bilhões para reestruturar os empréstimos hipotecários dos clientes de sua nova filial Countrywide, adquirida em julho quando estava à beira da falência.



O maior banco dos Estados Unidos afirmou que está pronto para revisar as taxas aplicadas ou renegociar para baixo os empréstimos hipotecários de quase 400.000 clientes do Countrywide, segundo um comunicado divulgado pela empresa.



O governo e os bancos da Alemanha fecharam um acordo neste domingo para a criação de um plano de 50 bilhões de euros para evitar a quebra do Hypo Real Estate (HRE), no mesmo dia do anúncio de que o governo garantirá correntistas e poupadores particulares.



O banco americano Wells Fargo anunciou no domingo à noite que conseguiu anular, com um recurso de apelação, a decisão do juiz de Nova York que ordenava o congelamento da fusão com o Wachovia.



O Banco Central Europeu (BCE) injetou nesta segunda-feira US$ 50 bilhões com vencimento amanhã e a uma taxa de juros marginal de 4% em uma operação extraordinária para colocar liquidez no mercado.



Brasil



O mercado financeiro reduziu a estimativa para o crescimento da economia brasileira em 2009 pela segunda vez seguida, mas também espera inflação mais moderada no próximo ano.



De acordo com levantamento do Banco Central divulgado nesta segunda-feira, o país deve crescer 3,5% em 2009, levemente abaixo dos 3,55% estimados na semana anterior. Para a inflação, a estimativa é de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) alcance 4,85% em 2009, pouco abaixo dos 4,9% estimados anteriormente.



Temor de recessão



As Bolsas americanas operam em queda de mais de 3% nesta segunda-feira. Os investidores temem que, mesmo com a mobilização de governos no mundo todo para conter a crise financeira, não haverá forma de evitar uma recessão global. O Dow Jones caiu abaixo dos 10 mil pontos pela primeira vez em mais de quatro anos.



Às 11h43 (em Brasília), a Nyse (Bolsa de Valores de Nova York, na sigla em inglês) estava em baixa de 5,11%, indo para 9.797,56 pontos no índice Dow Jones Industrial Average, caindo para menos de 10 mil pontos pela segunda vez no dia –e pela primeira vez em mais de quatro anos. O índice S&P 500, também da Nyse, perdia 6,19%, indo para 1.031,15 pontos. A Bolsa Nasdaq operava em baixa de 6,86%, indo para 1.813,85 pontos.



Na sexta-feira (3), a Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) aprovou o pacote que já havia recebido o “sim” do Senado dois dias antes. O projeto também já foi sancionado pelo presidente George W. Bush. Além dos US$ 700 bilhões para compra de títulos “podres” (aqueles cujo resgate é pouco provável, tendo por isso um risco alto de calote), o pacote inclui US$ 150 bilhões em benefícios fiscais para a classe média, pequenos empresários e famílias atingidas por acidentes naturais.



Além disso, o governo alemão aprovou uma ajuda de cerca de US$ 68 bilhões para evitar a quebra do banco de hipotecas Hypo Real Estate Holding. O banco francês BNP Paribas também concordou em comprar uma participação de 75% no banco Fortis, que teve suas operações na Holanda nacionalizadas pelo governo holandês. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse neste sábado que iria propor a criação de um fundo europeu de 12 bilhões de libras (US$ 21,3 bilhões) para ajudar pequenas empresas a enfrentarem a crise financeira.



Os governos da Alemanha, Irlanda e Grécia já declararam também que irão garantir depósitos bancários. O Federal Reserve (Fed, o BC americano) informou hoje que irá pagar juros sobre os depósitos compulsórios — que são as reservas de dinheiro que as instituições financeiras recolhem junto junto à autoridade monetária, compostas com parte do dinheiro depositado pelos seus clientes.



Nada disso, no entanto, evitou o pânico em diversos mercados mundiais, além do americano: na Europa, as Bolsas hoje operam com perdas de mais de 8% em alguns casos; na Ásia, as Bolsas também fecharam em queda; e na Bovespa, os negócios chegaram a ser suspensos, depois que as perdas passaram de 10%.



“O que o mercado precisa é de mais detalhes sobre como e quando exatamente esses planos vão começar a operar”, disse à agência de notícias Associated Press (AP) o chefe de negociações com títulos da Hargreaves Lansdown Stockbrokers, Richard Hunter. “E precisam de alguma prova de que as medidas farão efeito.”



“Todos estão perdendo confiança”, disse à AP o gerente Mark Tan, da UOB Asset Management. “O problema agora é que a falta de confiança dos estrangeiros pode afetar o consumo na Ásia, o que levaria a uma desaceleração maior que a esperada na Ásia.”



FMI



O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, pediu hoje aos países europeus que concretizem em fatos a decisão de se coordenar para enfrentar a crise financeira. “Os europeus devem se coordenar, devem atuar juntos', afirmou.



Strauss-Kahn ressaltou que “não devem ser tomadas decisões nos quatro pontos da Europa sem que haja coordenação”, porque os efeitos “podem ser particularmente daninhos”.



Na semana passada, o Fundo divulgou trechos do estudo “World Economic Outlook”, no qual informou que a turbulência financeira iniciada no ano passado, causada pelos problemas no segmento de hipotecas “subprime” (de maior risco) nos EUA, se tornou uma “crise intensa”. Além disso, essa crise deve atingir duramente a economia dos EUA, onde ela é mais sentida. “Nos EUA, os perfis dos preços dos ativos, do crédito total e do endividamento líquidos das famílias parecem similares aos dos episódios anteriores que foram seguidos de recessão”, diz o documento.