McCain e Obama debatem e não oferecem nada de novo

Em um formato que permitiu a um grupo de eleitores formular questões diretamente aos candidatos à presidência dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain realizaram na noite de terça-feira (7) o segundo debate de uma série de

Segundo o diário mexicano La Jornada, foi notável “a sensação de que os debatedores apenas repetiam suas respostas ensaiadas horas a fio, enquanto Roma ardia, em meio ao alvoroço criado pelos bombeiros do sistema financeiro internacional, que faziam soar todos os alarmes sobre o que se perfila como uma enorme recessão global”.



Realizado na Universidade Belmont de Nashville, no Tennessee, o debate também permitiu que ambos os candidatos fossem questionados diretamente por 80 espectadores do evento, supostamente indecisos trazidos pela Organização Gallup. Ao mesmo tempo, Tom Brokaw, jornalista da cadeia NBC, fazia as perguntas enviadas pelo público via Internet.



“A dinâmica mudou um pouco, com o público atuando ativamente, mas o debate não conseguiu gerar um intercâmbio mais interessante nem revelou nada de novo”, criticou o La Jornada.



Uma mulher entre o público, na primeira questão, perguntou “como podemos confiar nosso dinheiro a algum um de vocês quando ambos os partidos nos meteram nesta crise financeira global?”, referindo-se às estratégias de ambos para resolver a crise econômica.



Obama respondeu afirmando que a crise é “a pior desde a Grande Depressão” e se deve às políticas econômicas de desregulamentação promovidas por Bush e apoiadas pelo próprio McCain.



De acordo com sua plataforma de campanha, o democrata falou de seu programa para “resgatar a classe média” por meio de cortes de impostos, melhorias no sistema de saúde e geração de empregos.



McCain, por sua vez, iniciou sua resposta assegurando que o país precisa de independência energética em relação a outros países, para assim “deixar de passar US$ 700 bilhões a países que não gostamos”. Do mesmo modo, o republicano mencionou a necessidade de “tomar medidas” para resolver a crise financeira, entre elas um programa de US$ 300 bilhões para proteger os proprietários de casas da execução de suas hipotecas.



Diante desse panorama e frente a um público cada vez mais assombrado com a perspectiva de perder o emprego, a poupança, a aposentadoria, os créditos e os bens, não foi surpresa que a economia tenha sido o tema central do segundo dos três debates programados entre os candidatos dos dois principais partidos.



Em um momento do debate, os dois candidatos foram questionados sobre quem escolheriam como secretário do Tesouro. McCain mencionou a economista Meg Whitman, que até março deste ano foi presidente e CEO da empresa eBay. McCain também mencionou o nome de William Buffett, um investidor considerado pela revista Forbes como o segundo homem mais rico dos EUA, e que deu seu apoio a Barack Obama. O democrata reconheceu que Buffet seria uma “boa escolha”, mas não quis pronunciar nenhum nome para o cargo.



Terreno difícil



Dezenas de milhares de pessoas viram o debate, transmitido pelas principais cadeias nacionais e realizado há quatro semanas da eleição (4 de novembro), com as pesquisas registrando uma vantagem significativa para Obama, de 5 até 9 pontos e à beira de acumular, se as tendências continuarem, os 270 votos do Colégio Eleitoral que são necessários para ganhar a Casa Branca, e com McCain enfrentando um terreno cada vez mais difícil e com menos tempo para mudar essa dinâmica.



Por isso, neste debate, segundo os analistas, era primordial para o republicano freiar sua queda nas preferências, ou pelo menos tentar debilitar ou até ferir seu adversário, ao questionar a credibilidade e experiência pessoal de Obama.



Por sua vez, o democrata procurava enfocar o debate no tema econômico, o calcanhar de Aquiles de McCain e dos republicanos, responsabilizados pela opinião pública do desastre financeiro e apresentá-lo somente como uma extensão dos oito anos de governo Bush.



Obama teria de mostrar que McCain estava “fora de contato” com as preocupações dos cidadãos, sobretudo em relação à economia. McCain deveria mostrar que “em tempos perigosos e incertos” Obama seria uma opção muito arriscada para o eleitorado.



“O resultado foi nada de novo, pouca mudança, ninguém convenceu os indecisos e nenhum dos candidatos conquistar o apoio de eleitores que iriam votar no adversário. A análise instantânea de repórteres e analistas foi que McCain precisava “vencer” o debate e não conseguiu. De fato, a pesquisa instantânea da CNN registrou que 54% dos espectadores acharam Obama melhor, enquanto 30% acreditavam que McCain teria vencido o debate”, afirmou o La Jornada.



Nada de América Latina



Durante a segunda parte do debate as perguntas foram centradas na política externa americana. Como fez em ocasiões anteriores, Obama questionou o apoio de McCain à invasão no Iraque e reiterou que os recursos gastos nessa guerra, cerca de US$ 700 bilhões, são agora necessários para serem investidos no “resgate” do sistema financeiro.



Nesse segundo tempo do debate, mais uma vez, a América Latina não existiu. Foram abordados assuntos sobre a Ásia, o Oriente Médio, a África e a Rússia, mas houve somente uma pequena alusão à Venezuela, feita por Obama, em relação à dependência petrolífera em relação a “regimes não amigos”.



O tema principal girou ao redor da intervenção americana no mundo. McCain enfatizou sua grande experiência em determinar quando e onde o país intervirá militarmente e afirmou que “os Estados Unidos são a maior força do bem na história do planeta… somos os pacificadores e os mantenedores da paz”. Voltou ao ataque, apontado a Obama e declarando que “sobre assuntos militares, ele não entende nada”.



Obama respondeu de forma incisiva, segundo o diário americano La Opinión. “É certo que não entendo certas coisas. Não entendo como invadimos um país que não teve nada a ver com o 11 de Setembro, enquanto a al-Qaida continua criando bases no Afeganistão e Paquistão”, reiterando que a política externa republicana, de Bush e McCain, foi um rotundo fracasso.



McCain voltou à carga afirmando que “sob Obama, nossas tropas regressarão do Iraque derrotadas. Eu as trarei de volta com a vitória e com a honra”, recordando em seguida por vários momentos que seus heróis são Ronald Reagan e Teddy Roosevelt,  que tinham como lema o “fale baixo e meta o porrete”.



O debate foi concluído com as “mensagens de sempre”, segundo o La Jornada. Obama afirmando que a grande pergunta é se vão conseguir recuperar o sonho americano para a próxima geração, “o que, para isso, é preciso uma mudança fundamental”, enquanto  McCain retornou ao seu mantra “dediquei minha vida inteira a esse país”, lembrando também de sua carreira militar, sua experiência e a necessidade de uma “mão firme” no timão do país em tempos difíceis.



Em uma análise das pesquisas realizadas pouco antes do debate, a agência AP calcula que Obama tinha a seu lado ou inclinando-se para ele pelo menos 21 estados, que juntos representam 264 votos no Colégio Eleitoral, enquanto McCain tem 23 estados, mas que representam somente 185 votos (proporcionais aos habitantes de cada um).



Segundo esta análise, isso significa que há somente seis estados com um total de 89 votos que ainda estão indefinidos. Obama precisa de apenas qualquer um deles, ou seis votos a mais, para alcançar ou superar os 270 que representarão o triunfo no Colégio Eleitoral.