Mídia prega que Lula faça o que já vem fazendo
''O editorial da Folha de S.Paulo, 'Resposta imediata' (12) começa dizendo que a 'Rápida deterioração de expectativas no Brasil exige adaptação ampla nas políticas fiscal, monetária e regulatória', e aí já começa a malandragem, pois, para dizer q
Publicado 12/10/2008 21:22
Alguns leitores irritam-se por eu citar a Folha de São Paulo com freqüência. Esse patrulhamento acaba me obrigando a dar explicações sobre o que não deveria ter que ser explicado. Mas, enfim, dancemos conforme a música.
Eu não gasto meu dinheiro com a imprensa golpista, por isso não leio nada dela que precise ser pago para ser lido. Até porque, a mídia é toda igual. O que você lê no Estadão ou no Globo ou na Veja, ou seja lá em que grande veículo for, é igual em todos os outros grandes meios de comunicação.
O que acontece é que tenho um e-mail do UOL há 10 anos e preciso mantê-lo, porque os blogs ''gratuitos'' do portal só dão direito a um determinado nível de postagens, nível que já ultrapassei há muito tempo aqui. Por isso continuo pagando uma exorbitância ao grupo Folha, só para manter um email que não tenho como perder e para manter este blog. E como esse e-mail me dá direito a acessar a versão eletrônica da Folha, esse é o único grande meio da imprensa escrita que leio hoje – pela internet.
Usarei, pois, exemplo de editorial publicado hoje por aquele jornal para desnudar uma estratégia da mídia que ela deve achar muito esperta, mas que, para qualquer um que tenha cérebro, é de uma estupidez atroz.
O editorial ''Resposta imediata'' (12/10) começa dizendo que a ''Rápida deterioração de expectativas no Brasil exige adaptação ampla nas políticas fiscal, monetária e regulatória'', e aí já começa a malandragem, pois, para dizer que há ''rápida deterioração de expectativas'', seria preciso que em comparação com expectativas em outras partes as nossas estivessem se deteriorando em velocidade diferente do resto do mundo, o que não existe.
Mais adiante, o editorial diz que ''A restrição de crédito também atingiu empresas e bancos brasileiros. A incerteza se agravou com a revelação de que operações de alto risco no mercado financeiro resultaram, com a forte alta do dólar, em elevados prejuízos para algumas grandes corporações'', esquecendo de dizer que ao menos duas das únicas três empresas que tiveram problemas dessa natureza até agora acabaram demitindo seus executivos que as jogaram em operações de alto risco que beiraram a ilegalidade.
Contudo, mesmo sendo grandes, Aracruz, Sadia e Votorantim, até agora, mostram-se casos isolados.
Daí, a opinião do jornal paulista começa a fazer uma espécie de Hedge contra a não ocorrência de catástrofe no Brasil, que irá contrariar a imprensa golpista em algumas semanas, terminado o segundo turno.
Diz o texto que ''Diante da gravidade da crise global, bem como da rápida deterioração de expectativas no âmbito doméstico, o conjunto das políticas fiscal, monetária e regulatória implementadas pelas autoridades econômicas brasileiras precisa ser rapidamente adaptado''.
O jornal, porém, reconhece que ''Felizmente, a economia brasileira acumulou recursos durante a bonança, o que permite uma gestão diferenciada dos impactos da crise. Como o setor público tornou-se credor em dólar – as reservas internacionais são bem maiores do que a dívida externa pública-, o estoque da dívida pública se reduz quando a cotação do dólar sobe''.
Como vocês vêem, os clones de Reinaldo Azevedo e de outras excrescências da imprensa golpista que vêm aqui vomitar as bobagens que esse e outros degenerados enfiam em suas cacholas vazias tentam ser mais realistas do que o rei, pois negam terminantemente todos os instrumentos que a governança petista deu ao país nos últimos anos.
O jornal ainda tem que reconhecer várias outras diferenças que permitirão ao Brasil manter-se flutuando enquanto os países ricos afundam, mas faz isso para, pretensamente, dar a ''sua'' receita de quais medidas o governo deve tomar – e é aí que reside a malandragem.
A Folha diz que o governo deve : ''a) liberar parcela significativa dos depósitos compulsórios não-remunerados, que os bancos são obrigados a manter no Banco Central, em contrapartida à retomada de operações de crédito; b) garantir, com reservas de divisas ou outros recursos públicos, a oferta de crédito para as exportações.''
Como o jornal parece que sabe que nem todo seu público é composto por débeis mentais, reconhece que o governo já vem fazendo isso, mas diz que deve ''acelerar'' tais medidas, como se o governo que tomou medidas corretas muito antes de ser ''receitadas'' pela imprensa precisasse, agora, que lhe dissessem quando e quanto devem ser usadas.
E tome receituário já adotado: ''Outra prioridade é preservar os investimentos em infra-estrutura e deter os gastos de custeio da máquina pública. O contexto justifica ajustes jurídicos emergenciais e transitórios, a fim de acelerar as licitações de obras e desvincular despesas do Orçamento''.
Nesse ponto, o jornal inova em alguma coisa. Traduzindo: além de pregar que o governo faça o que já fez, ou seja, dar poderes ao Banco Central para agir e garantir investimentos e obras como as do PAC, a tal inovação prega que se retire dinheiro dos programas sociais, que, no cômputo geral, não representam quase nada, mas que, eleitoralmente, poderão render frutos ao governo em 2010. A Folha, pretensa juiz da ''partida'' eleitoral em dois anos, grita ''perigo de gol'' contra Serra.
E o editorial continua preconizando receitas já adotadas: ''Um eventual resgate de empresas com recursos públicos precisaria ser criterioso e absolutamente transparente. Só deveria ser feito mediante contrapartida de garantias, que poderiam incluir a transferência de ações e outros ativos dos beneficiados ao Tesouro Nacional''. Só que quem disse que isso deve ser feito, foi o governo.
Amanhã, quando as pessoas virem que este país não mergulhou no caos como outros, a imprensa malandra dirá que isso aconteceu porque ''seu'' receituário – que atribuirá a Serra – foi seguido. E o pior é que, ainda que em minoria, muitos acreditarão em tal balela.