Os defensores públicos e o modo tucano de lidar com greves

É sempre didático, e um indicador importante de quão democrática é de fato uma gestão pública, observar como ela reage diante de uma greve. Colocado em uma situação concreta de embaraço, um governo pode responder com diálogo, com truculência ou repetin

O governo paulista de José Serra, por exemplo, divulgou nota contra a paralisação dos defensores públicos do estado agendada para esta semana. No tal documento, referiu-se ao movimento como do tipo que “serve somente ao projeto político-ideológico de parcela dos integrantes da Defensoria Pública, e não ao interesse público.” É a tal da “greve política”.


 


Dever-se-ia cobrar do governador algum tipo de explicação, como uma pergunta elementar: a que “projeto político-ideológico” a paralisação pretende ajudar? E como uma greve pode auxiliar esse projeto? Tentando responder a isso, talvez Serra faça referência à candidatura petista na capital paulista. Ainda assim, repita-se a questão: como essa greve a ajuda, governador?


 


O pior é que esse tipo de alegação ganha títulos e manchetes, obscurecendo a pauta de reivindicações dos grevistas. Talvez, a única intenção desse tipo de argumento seja essa mesma, ganhar destaque na imprensa dita grande que adora reproduzir notas e releases de quem está no poder. Ainda mais se o ocupante do cargo tiver plumagem azul e amarela.


 


Outra manobra típica é citar a faixa de remuneração de grevistas, jogando-os contra a população que em geral ganha bem menos que as categorias mais organizadas. Isso é feito comumente contra funcionários públicos e, pasme, até contra professores da rede pública, que são chamados a exercer um “sacerdócio” em que a remuneração e as condições de trabalho importam menos que a sua “vocação”. Claro que a mesma lógica não vale para um parlamentar, por exemplo.


 


Não há dúvida que os salários dos defensores estão acima da média nacional. Mas são justos se comparados a funções equivalentes para profissionais com a mesma formação? Um salário inicial de um defensor equivale a menos de um terço (isso mesmo, um terço) da remuneração de alguém em início de carreira no Ministério Público Estadual ou na magistratura. E é menos da metade de alguém que entra na Procuradoria Geral do Estado.


 


Isso, obviamente, gera desinteresse de profissionais do Direito pela carreira, além de alta rotatividade no órgão. Ou seja, ao contrário do discurso oficial, o governo do estado não parece nem um pouco preocupado com aqueles que precisam de assistência jurídica gratuita.


 


E tome ladainha contra grevistas! Aliás, creio que deva existir um manual para quem redige as notas em relação a paralisações no estado. E a imprensa dita grande também deve utilizar o mesmo manual. Como recordar é viver, quem quiser acesse o editorial do Estadão a respeito da greve dos professores realizada em junho. De tão favorável e complacente com a posição governista, o texto foi reproduzido no portal do governo do estado.


 


A paralisação é classificada pela assessoria de imprens… ops, pelo jornal, como “política” e visa, olhem só, favorecer Marta Suplicy. Mudam as greves e as reivindicações, mas o tratamento e as justificativas são sempre os mesmos…