Argemiro Ferreira: mais um voto conservador para Obama

O pai dele, William F. Buckley Jr., ícone do conservadorismo nos EUA, morreu em fevereiro deste ano, aos 82 anos de idade. Criador e diretor da veneranda e inteligente National Review, que conseguiu ser respeitável em Nova York e no país, polí

Agora, o filho Christopher Buckley, de 53 anos, publicou artigo revelador – não na National Review, onde é colunista da última página, mas no badalado The Daily Beast, o website de Tina Brown, estrela do jornalismo cultural britânico exportada para os EUA – para avisar ao pai e à mãe, falecidos, e aos americanos em geral, que tem suas próprias razões para votar em Barack Obama.



O título é tão bem humorado como o resto do texto: “Sorry, Dad, I’m Voting for Obama” (Lamento, papai, mas vou votar no Obama). E esta abertura: “Sou o mais recente conservador/libertário/ou-o-que-seja a pular para a banda de música de Barack Obama. É bom que mamãe e papai não estejam mais vivos. Se estivessem, cortariam minha mesada. Ou será que não?”



Obrigado por prestar atenção



Com seu poder de autor satírico testado e aprovado — dois livros dele, Thank You for Smoking (Obrigado por fumar) e Little Green Men (Homenzinhos Verdes), foram transformados em filme por Hollywood —, ele confessa que a única razão de seu voto ter algum interesse para outras pessoas “é o detalhe de ser meu sobrenome Buckley — um sobrenome que herdei”.



No caso de alguém prestar atenção, ou se importar  – escreve ainda – o título da reportagem seria: “Filho de William F. Buckley diz que é pro-Obama”. Reconhece também que isso estaria longe de ter a mesma força deste outro título: “Ron Reagan Jr. vai discursar na convenção do Partido Democrata”. O que, para os que não se lembram, aconteceu de fato em 2004.



O mais surpreendente de toda a traição (será a palavra forte demais?) de Buckley às convicções conservadoras, das quais ao menos por enquanto não abriu mão, é que uma vez ouviu do pai, ao falar de um direitista maluco que dizia a todo mundo ser seu protegido: “Sabe, filho? Passei a vida inteira tentando separar a Direita dos malucos”. O filho considera estar tentando exatamente a mesma coisa.



Um câncer no Partido Republicano



Um dos problemas, para Christopher, é aquela governadora evangélica e anti-intelectual que censura livros no Alasca. Ele concorda com os colunistas conservadores Kathleen Parker, que na edição online da National Review considerou Sarah Palin “um embaraço e um perigo” e David Brooks do New York Times, que numa entrevista à revista Atlantic referiu-se a ela como “um câncer fatal no Partido Republicano”. Claro, no Ohio ela energizou as eleitoras evangélicas mas em Nova York os intelectuais sofisticados abominam a burrice.



Brooks começou a carreira na revista dos Buckley. Também aprendeu muito com o pai ilustre de Christopher, que escreveu mais de 50  livros, de histórias de navegação a romances de espionagem (aproveitando uma curta experiência como agente da CIA), sem falar numa história de sua revista, publicada em 2007 sob o título provocativo de “Cancele a sua maldita assinatura!”



Kathleen Parker recebeu mais de 12 mil emails espumantes de raiva pela coluna sobre Palin. Um deles veio de alguém que criticava a mãe dela por não ter abortado o bebê e jogado o feto no lixo. “Não tenho fígado hoje para 12 mil emails dizendo que é bom meu querido pai não estar vivo para ver seu filho Judas apoiar um muçulmano que anda com terroristas do Weather Underground”, desabafou Christopher.



Além de conhecer McCain pessoalmente, Christopher ainda escreveu para ele um discurso muito bem recebido. E no início do ano, fez um artigo para o New York Times elogiando o candidato, então acusado por Rush Limbaugh e os suspeitos habituais da Direita raivosa (Ann Coulter, Sean Hannity, etc), de não ser suficientemente conservador. “Acredito que os instintos de McCain ainda sejam fundamentalmente conservadores mas há outro problema”, escreveu agora.



O potencial de um grande líder



Do surge no Iraque até hoje, acha Christopher, McCain mudou — a campanha o mudou. Seu temperamento tornou-se irascível, suas posições ficaram diferentes e perdeu a coerência. Faz promessas irrealistas, como a de equilibrar o orçamento federal em quatro anos. E vieram ainda a encenada “suspensão” da campanha para “resolver a crise financeira”, os comerciais baixo nível de ataque a Barack Obama e, finalmente, Sarah Palin.



Mesmo sem ser celebridade procurada para capa de revista, como o pai, Christopher vê em Obama um temperamento de primeira linha. Não que valorize seu curso em Harvard, já que outros formados ali, em Yale e em Princeton fizeram muita lambança, do Vietnã ao Iraque. “Mas li os livros dele, são de alto nível. É um político que escreve seus próprios livros, coisa rara. (…) Ele é esquerdista e eu não sou. Prefiro governo pequeno, orçamento equilibrado.”



Mas Christopher acha que Obama tem “potencial para ser um bom líder, talvez mesmo um grande líder”, por isso deseja o melhor para ele. “Estamos todos juntos nisso. A necessidade é a mãe do bipartidarismo. Assim, pela primeira vez na minha vida estarei puxando a alavanca do Partido Democrata em novembro. E, como diz aquela frase, Deus salve os Estados Unidos da América”.