Entorpecente tucano: a omissão do 'Jornal de Jundiaí'
O Jornal de Jundiaí, que cedeu espaço para o vice-prefeito “eleito” — o jovem tucano Luiz Fernando Arantes Machado — daquela cidade paulista posar de bom moço, publicou, na edição desta sexta-feira (17), uma enigmática nota da Folha
Publicado 18/10/2008 18:48
Veja:
Os candidatos a prefeito do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira (PV) e Eduardo Paes (PMDB), disseram ontem, durante um debate, terem feito uso de maconha no passado. Os dois, porém, afirmaram que não experimentam mais a droga. “Já experimentei maconha. Fumei, traguei e não gostei. Nunca mais usei”, afirmou Paes, que se disse contra a descriminalização da droga. “A droga está na raiz do problema desta cidade. A briga do traficante é pelo ponto de venda.” Gabeira, que escreveu livros sobre a experiência com maconha, disse que não fuma mais por não considerar “razoável” exercer mandato no legislativo e, ao mesmo tempo, “ter uma posição de desrespeitar a lei”.
Será que tem algo a ver com a informação deste blog sobre o caso em que Machado foi pego com entorpecente em Santos? Estaria o jornal tentando limpar a barra do jovem tucano? Se sim, isso é papel da imprensa? Por que o caso ficou abafado até a sua revelação aqui no blog no dia 11 e depois, do nada, apareceu em uma matéria do Jornal de Jundiaí?
Na quinta-feira (16) pedi uma explicação ao jornal. Até agora, nem eu nem os leitores do jornal fomos informados o que aconteceu. O Jornal de Jundiaí deve uma explicação para não pairar nenhuma dúvida sobre seu envolvimento no jogo de Machado.
Espero que o Jornal de Jundiaí não siga o exemplo da mídia brasileira, que se pauta pela falta de caráter, pela ausência de valores básicos que deveriam ser preservados sob quaisquer circunstâncias. Chamo de caráter a capacidade de manter princípios, independente da situação e do momento.
O contrário disso é o casuísmo —quando o sujeito troca de premissas, de opinião e de ponto-de-vista ao sabor daquilo que está acontecendo ao seu redor naquele instante. Casuísmo, como está claro, é um dos aspectos da falta de caráter. Outro valor fundamental ausente na mídia brasileira é a democracia.
Esse deveria ser um alicerce inegociável na construção de cada um de nós. No entanto, é de assustar o quanto a democracia anda frágil no convívio jornalístico.Falta para essa gente que comanda a mídia brasileira civilidade, que poderia vir como resultado de leis mais duras e mais plenamente aplicadas.
Essa civilidade poderia ser também fruto de uma sociedade mais madura do que a nossa, em que a democracia seria de fato um valor essencial, cravado mais fundo na nossa alma. Seria fruto de uma sociedade com a consciência de que existem regras mínimas de convivência que, se não forem levadas a sério, acabam levando ao caos social e à guerra entre concidadãos.
Numa palavra: falta a essa gente levar a sério a serventia da democracia. Democracia é, acima de tudo, reconhecer os direitos do outro. Na mídia, costuma-se pensar em democracia como garantia para seus abusos.