Terra Vermelha mostra disputa entre índios e fazendeiros

O enfrentamento entre índios Guarani (Kaiowa e Ñandéva) e fazendeiros de Dourados (MS) pela posse da terra é o tema do filme “Terra Vermelha”, cuja pré-estréia está marcada para esta quinta-feira (23), às 21h, no Cine Academia de Brasília (DF), com ent

“Terra Vermelha”, lançado no Festival de Veneza, no início de outubro, recebeu elogios da crítica, e está lotando salas de vários países europeus. “A grande expectativa, tanto dos índios como do diretor italiano, Marcos Bechis, é que o filme, pelo viés pedagógico e antropológico que possui, multiplique debates em escolas e universidades, entre outros espaços, sobre a questão dos direitos humanos e culturais dos povos”, afirma a coordenadora do Comitê Gestor de Ações Indigenistas de Dourados, Rosângela Carvalho.



A coordenadora acompanhou todas as etapas de filmagens, que mostra a realidade social vivida pelos índios: a disputa fundiária com o agronegócio, o confinamento, a fome, a miséria e o suicídio. “Sem máscaras, o filme expõe a falta de perspectiva de vida desse povo, principalmente, dos jovens. Por outro lado, o enredo enfatiza a resistência desses índios, que se mantêm fiéis às suas culturas tradicionais”, observa Rosângela.



Ela explica ainda que o governo é atuante no enfrentamento desta situação. Após várias ações emergenciais de combate à fome, explica Rosângela, o Ministério do Desenvolvimento Social e a Fundação Nacional do Índio (Funai) constituíram seis grupos de trabalhos. Esses grupos realizaram o levantamento fundiário necessário para a sobrevivência física e cultural de 40 mil índios Guarani (Kaiowa e Ñandéva) – a maior população indígena do Brasil.



Mundos opostos



O filme se baseia na história do suicídio de duas meninas Guarani-Kaiowá, que desperta na comunidade a necessidade de resgate de suas origens indígenas. Os índios crêem que o espírito causador do impulso suicida poderá ser controlado com a reconquista de seus espaços naturais e espirituais. Um dos motivos do desaparecimento gradual da cultura reside no conflito gerado pela disputa de terras entre a comunidade indígena e os fazendeiros da região.



O filme mostra que para os Kaiowás, essas terras representam um verdadeiro patrimônio espiritual. As tradições religiosas têm grande ênfase na terra – origem e fonte da vida. Assim, eles não se consideram proprietários da terra, mas parte integrante dela e acreditam que a separação que sofreram desse espaço é a causa dos males que os rodeiam.



Dois mundos opostos que se enfrentam. Uma disputa metafórica, bem como uma real, é criada. A compreensão e o diálogo buscam espaço nesse antigo conflito mas sem possibilidade de reais entendimentos. Mas o encantamento pelo “outro” permanece latente em ambos os lados.



Osvaldo, jovem protagonista do filme, enquanto vive um terrível embate contra o desejo de morte que vive rondando-o, conhece e se aproxima da filha de um fazendeiro. Um encontro em que a força do desejo transpassa e, ao mesmo tempo acentua, o desentendimento entre as civilizações.



O diretor e roteirista italiano Marco Bechis é reconhecido e respeitado em todo o mundo pelo seu cinema engajado. Em 1991, fez sua estréia como diretor de longa-metragem com o filme “Alambrado”.



De Brasília
Márcia Xavier
Com agências