UBM protesta pela violenta morte anunciada de Eloá

Em nota divulgada nesta quinta-feira (23), A União Brasileira de Mulheres (UBM) manifestou sua indignação e revolta pela morte da jovem Eloá, assassinada por seu ex-namorado após um longo seqüestro de mais de cem horas. Para a UBM, o caso se insere num co

Leia abaixo a íntegra da nota:


 



Protesto pela morte anunciada de Eloá


 


“O grau de civilização de um povo se mede pelo grau de liberdade da mulher”
Charles Fourier


 


A União Brasileira de Mulheres (UBM) manifesta sua indignação e revolta pela morte da jovem Eloá, assassinada por seu ex-namorado após um longo seqüestro de mais de cem horas. Ficamos quase sem palavras para expressar nosso horror ao constatar que uma jovem de 15 anos é assassinada publicamente com a complacência, para não dizer o incentivo, de parte da mídia que transformou a tragédia numa briga pela audiência. Seqüestrada pelo ex-namorado juntamente com a amiga Nayiara, Eloá ficou exposta à violência.


 


Eloá, mais um caso entre milhares que ocorrem diariamente de violência contra a mulher, foi assassinada em nome do amor, como ocorria nos anos 70 em nome da honra. O mesmo argumento que levou Doca Street a atirar no rosto de Ângela Diniz e que levou Lindomar Castilho, a assassinar Eliane de Grammont. Não foi à toa que o slogan 'Quem ama não mata' ganhou cartazes e ruas há mais de duas décadas e continua tão presente nos nossos dias.


 


O ciúme, a posse e a honra ganham o nome de “amor”. De vítima Eloá foi tratada por parte da imprensa quase como algoz por analistas de plantão que diziam que “se ela tivesse aceitado dialogar, nada disso teria acontecido”.


 


Ao mesmo tempo o algoz de Eloá e Nayara, era enaltecido inclusive pela polícia: O coronel Eduardo Felix, comandante da operação de resgate, dizia que não podia utilizar atiradores de elite contra ele, porque era “um bom rapaz, trabalhador, amigo de todos, apenas um pouco ciumento e com uma crise amorosa”.
 


No entanto, ele não hesitou em colocar em grave risco a vida da jovem Nayara, que tinha sido libertada, ao enviá-la de volta para o seqüestrador a pretexto de ajudar a resolver o conflito. O resultado foi o que se viu: Eloá foi assassinada com dois tiros e Naiara foi baleada no rosto.


 


Isto acontece porque vivemos numa sociedade na qual, se um homem alega amar uma mulher, ou se tiveram ou tem algum acerto de conjugalidade, isto lhe dá direitos sobre a vida dela. A organização social de gênero no Brasil e no mundo atribui aos homens prerrogativas que lhes permitem ditar normas de conduta para as mulheres, assim como julgar a correção do cumprimento de suas ordens.


 


A violência contra a mulher é a primeira forma de regulamentação das relações sociais de sexo, uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens. Ë um dos mecanismos sociais fundamentais de subordinação da mulher em relação ao homem.


 


Fruto das desigualdades predominantes em uma determinada sociedade, a violência institucional, ou seja, do Estado e da sociedade, incorpora-se à cultura hegemônica em instituições como os serviços públicos, a mídia e empresas privadas.


 


Acobertada pela cumplicidade da sociedade e pela impunidade, a violência contra a mulher ainda é um fenômeno pouco visível. Os casos que chegam às delegacias são apenas a ponta do iceberg. Pesquisa nacional da Fundação Perseu Abramo com 2.502 mulheres em 2004 detectou que uma mulher é espancada a cada 15 segundos no país e ao menos 33% já sofreram algum tipo de violência física.


 


Quem tratou o “drama passional” de Eloá sem levar em conta esta dura realidade acabou contribuindo para apertar o gatilho. Como afirmou Benoit Groult, “o feminismo nunca matou ninguém; o machismo mata todos os dias”.
 


O silêncio é cúmplice da violência e pai da impunidade. Por isso mesmo, é fundamental que nós, mulheres, levantemos nossa voz para denunciar a violência contra a mulher que ainda ocorre em silêncio em tantos lares e no conjunto da sociedade.


 


Pelo fim da violência contra a mulher!


 


União Brasileira de Mulheres