Caso Eloá: comissão da Câmara quer apurar abusos da mídia
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados pediu, na quinta-feira (24), ao Ministério Público que apure denúncias de cidadãos sobre abusos na cobertura jornalística do seqüestro da adolescente Eloá Pimentel, em Santo André (SP).
Publicado 24/10/2008 23:00
Para o deputado Pedro Wilson (PT-GO), integrante da comissão, é preciso coibir o tratamento “sensacionalista e de espetacularização da notícia” dado pela mídia a casos que terminam em mortes. Segundo ele, o Ministério Público deve acompanhar com atenção a cobertura de episódios de violência.
Pedro Wilson entregou à procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Gilda Carvalho, os resultados do último ranking da campanha “Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania”, criada em 2002. Pela primeira vez, o Ministério Público é acionado para tomar providências contra as emissoras cujos programas desrespeitam os direitos humanos.
O deputado também quer que o Ministério Público exija, das empresas do setor, a assinatura de um termo de termo de ajuste de conduta para mudar os programas ofensivos à dignidade dos cidadãos.
Queixas
Como parte da campanha, feita pelas comissões de Direitos Humanos e de Legislação Participativa, já foram recebidas 35 mil denúncias. Para denunciar um programa que considerar ofensivo, o telespectador pode acessar o site http://www.eticanatv.org.br, ou ligar gratuitamente para 0800 619619.
Desde o dia 15 de outubro a campanha “Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania” vem recebendo diversas denúncias contra a apresentadora do programa A Tarde é Sua, Sônia Abraão. A jornalista, numa atitude considerada por especialistas como irresponsável, entrevistou o seqüestrador da menina Eloá, Lindemberg Alves, que manteve a ex-namorada de apenas 15 anos refém por mais de cem horas.
A exibição sensacionalista do caso ultrapassou os limites da ética televisiva, ao pôr o seqüestrador em contato por telefone com a apresentadora, num momento de tensão em que as negociações estavam em andamento. O caso — de grande comoção nacional — foi então explorado pela emissora Rede TV!, em busca de audiência, não ajudando a resolver o caso.
Intervenção ilegal
Segundo Laurindo Leal Filho, professor de pós-graduação em Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, a emissora Rede TV! pode ter a sua concessão cassada por conta da transmissão ao vivo dessa entrevista com Lindembergue.
“A apresentadora fez uma intervenção ilegal e colocou as duas moças numa situação de risco ainda maior. Na hora do crime, não se entrevista um criminoso — essa intervenção deve ser feita pelo Estado ou pela polícia”, afirmou o professor.
O deputado Luiz Couto (PT-PB) defendeu a necessidade de se debater a questão da liberdade de imprensa, já que a mídia não pode dar guarida para um seqüestrador. “A presença da mídia em casos como o de Eloá dá respaldo e poder ao seqüestrador para que ele continue com a tortura. Temos que debater essa questão no Congresso e encontrar soluções para que a mídia possa informar, sem prejudicar as negociações, como aconteceu com caso Eloá.”
Fonte: Agência Informes