Mídia incita violência contra Lindemberg, diz jurista

As imagens transmitidas pela Rede Record e reproduzidas pelo Portal Terra do jovem Lindemberg Alves, 22 — que seqüestrou por mais de 100 horas a ex-namorada Eloá em Santo André —, não deixam dúvidas quanto à violência que ele sofreu após a pri

Para o jurista Luis Flávio Gomes, tanto a sociedade quanto a imprensa são complacentes com atos de violência, o que acaba gerando, na população, uma espécie de legitimação das práticas de violação dos direitos humanos — que defendem o processo legal, com condenação e punição para culpados, mas nunca o apontamento de inimigos. Como conseqüência, diz o criminalista, há um tipo de “fascistização” da sociedade.


 


— A sociedade desrespeita a Constituição e desrespeita tudo no momento em que admite esse tipo de violência — critica.


 


Gomes acredita ter havido conivência da mídia com a violência policial no caso que terminou com a morte da menina Eloá, 15, depois de passar mais de 100 horas seqüestrada por Lindemberg.


 


— Cabe ao Ministério Público apurar esses fatos.


 


O governo do estado de São Paulo não comenta as agressões sofridas pelo seqüestrador, embora fique sobre ele — o estado — a custódia de Linbemberg e todos os demais presos dentro de São Paulo. Imagens mostram o jovem com o rosto deformado nas dependências do 6° Distrito Policial de Santo André, SP.


 


Terra Magazine procurou a Secretaria de Segurança Pública e a Corregedoria da Polícia Civil. Alegaram que o incidente, bem como o vazamento das imagens, “estão sendo apurados”.


 


A secretaria de Administração Penitenciária, por sua vez, diz através da assessoria de imprensa: “Nós já apuramos e o próprio Lindemberg afirmou que a filmagem foi realizada no 6º DP”. Nenhum dos órgãos, no entanto, quis se pronunciar sobre as agressões a Lindemberg.


 


Para Luis Flávio Gomes, as imagens “constituem prova” de espancamento.


 


— Essas imagens são complicadas porque o réu é presumido inocente — afirma o especialista.


 


Leia a seguir a entrevista com o jurista:


 


As imagens que mostram Lindemberg deformado e cheio de hematomas não o expõe desnecessariamente, sendo que ele é acusado, e não condenado?
Sim, essas imagens são complicadas porque o réu é presumido inocente. Mas ao mesmo tempo a mídia tem o direito de informar. Mostrar imagens num crime que está acontecendo não é aconselhável por uma série de razões, mas não está proibido. Agora, como se vê, essa suspeita de que o réu foi espacando, essas imagens todas constituem uma prova disso.


 


Por que isso parece legitimo à sociedade? Apesar da cobertura extensiva da imprensa sobre o caso, ninguém esmiuçou essa questão das agressões…
A sensação que a gente tem é de que a mídia nesse caso está conivente com a violência policial. Essa é a impressão que fica. Isso tudo tem que ser apurado, e cabe ao Ministério Público apurar esses fatos.


 


Existe um apoio tácito da sociedade a esse tipo de ação?
Existe, existe. É isso mesmo. A sociedade de fato tem muita complacência com tudo isso. Ela é complacente com a violência, lamentavelmente.


 


Essa complacência resulta num processo de “fascistização” da sociedade, que aos poucos vai minando os direitos fundamentais da pessoa?
Sim, tranqüilamente, sem sombra de dúvida. A sociedade desrespeita a Constituição e desrespeita tudo no momento em que admite esse tipo de violência.