Argemiro Ferreira: Ataques de McCain ajudam Obama?
Uma foto como essa sugere vitória gigantesca na Virgínia, onde John McCain poderá tornar-se o primeiro republicano em 40 anos a ser derrotado ali. A nova pesquisa da agência Reuters com a rede C-Span de televisão, feita pela organização Zogby, confirma
Publicado 25/10/2008 13:20
Vale acrescentar que a campanha republicana pula de um tema para outro, meio perdida, sem saber qual deles pode dar resultado: o ''bombeiro Joe'' (em tese justificaria a acusação a Obama de “socialista”), a previsão de crise internacional para “testar” o democrata (a partir de declaração do vice Joe Biden), o “envolvimento com terroristas” (caso Ayers), etc.
Por que a campanha insiste se o efeito é negativo? A resposta pode ser esta: a menos de duas semanas da votação, não há alternativa. Outro detalhe: a novidade Sarah Palin, que tinha energizado a base do candidatato de 72 anos, deu o empurrão do primeiro momento, mas agora puxa para baixo. Até republicanos fogem dela. E vieram fatos embraçosos, gafes e o rídiculo no humorismo da TV.
O crescimento em todos os ítens
McCain também passou a insistir, com muito mais empenho, no distanciamento do presidente George W. Bush. Aparentemente, antes do desastre econômico, ele não achava que o efeito desse apoio pudesse ser tão desastroso, até tentava faturar a estratégia bushista no Iraque. Mas a economia só fez piorar – e leva junto a campanha de McCain, cujas desculpas soam insuficientes.
O analista John Zogby explicou que o avanço de Obama é geral, visível em quase todos os grupos demográficos. Entre as mulheres, a vantagem dele é de 18 pontos percentuais. Entre os independentes a diferença é de 30 pontos (59% a 29%) e pode consolidar a frente de Obama nas disputas críticas dos swing states, antes sujeitos a oscilação no dia-a-dia.
Sem as mulheres e sem os independentes, McCain ainda tem uma dificuldade. Atrai menos os próprios republicanos (só 81% deles o apoiam) do que Obama atrai os democratas (86%). Ora, se não é sequer acreditado pela totalidade dos fiéis do próprio partido, a quem a campanha McCain-Palin pode recorrer nesse momento difícil – quando Obama já integrou até o eleitorado da ex-rival Hillary?
Para Bill Schneider, analista de números da CNN, o entusiasmo na campanha de Obama ajuda muito. “Os eleitores dele são muito entusiásticos”, diz. “Nesse ítem a vantagem de Obama sobre McCain é de 64% a 40%”. Outros dados: à pergunta “qual deles será melhor numa crise?”, Obama supera McCain por 49% a 45%; em impostos, ganha por 52% contra 42%.
O apoio dos eleitores estreantes
Há muitas novidades na eleição presidencial deste ano. Acreditava-se que uma delas fosse a proporção de eleitores que votam pela primeira vez. Mas a pesquisa Gallup mostrou que não é o caso: eles são 13%, o que – disse ainda – iguala a proporção de 2004. No gráfico oferecido, 83% votarão agora (85% votaram em 2004) e 4% não planejam votar (eram 2% em 2004).
Cada eleição presidencial, diz a organização de pesquisa, acrescenta uma nova onda de votantes ao processo eleitoral. Embora desta vez tenha havido especulações segundo as quais a candidatura de Obama, devido ao seu apelo aos jovens e minorias, pudesse trazer um largo número de eleitores que votarão pela primeira vez, o total não é superior ao de 2004.
Outros dados sugestivos:
- 48% dos que votarão pela primeira vez dizem que são estudantes em tempo integral;
- Quase metade deles (47%) pertencem a um grupo de minoria racial ou étnica, percentagem mais elevada do que a de 2004 (33%), o que pode ser reflexo da natureza histórica da candidatura Obama;
- 40% identificam-se como democratas, 37% independentes e só 23% republicanos;
- 32% dos que votarão pela primeira vez descrevem suas opiniões políticas como conservadoras e 28% como liberais;
- O apoio desses eleitores estreantes a Obama é sólido: 65% contra 31%.
E a ameaça do efeito Bradley?
Nesse conjunto de dados, deixei propositadamente para o fim um tema crucial: pode-se mesmo confiar nas pesquisas quando um dos candidatos presidencias é negro? O veterano analista e autor Michael Barone procurou encarar a questão num artigo ontem para o Wall Street Journal. Referiu-se ainda a outros pontos que hoje complicam as pesquisas – celulares, eleitores que não aceitam falar, etc.
Sobre o efeito Bradley, que teria derrotado em 1982, na Califórnia, o candidato negro a governador Tom Bradley, vencedor das pesquisas na véspera, Barone lembrou ter havido outra explicação: os votos dos republicanos ausentes, não considerados no estudo. E citou depoimentos recentes de Lance Tarrance e Sal Russo, que trabalharam para o oponente de Bradley, George Deukmejian.
Barone refere-se ainda a detalhes que podem ter induzido pesquisadores a erro não adequadamente analisado depois. Citou também o pesquisador Daniel Hopkins, da Universidade de Harvard. Depois de examinar dezenas de disputas envolvendo candidatos negros, Hopkins explicou este ano, numa reunião da Sociedade de Política Metodológica (SPM) que de 1996 em diante não conseguiu encontrar qualquer novo exemplo de Bradley Effect.
Supostamente haveria a vitória de Hillary Clinton contra Obama em New Hampshire, no início de 2008, já que a pesquisa dava a ele vantagem de 10%. Mas para isso há a explicação emocional – o choro da candidata, na véspera, diante da TV. A recomendação de Barone é para que se espere agora até a última pesquisa, mesmo com unanimidade nos resultados de dias e semanas anteriores – como é o caso atual.