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Encontro de PCs busca unidade de ações entre comunistas

O PCdoB já está se preparando para sediar o 10º Encontro de Partidos Comunistas e Operários, dias 21 a 23/11, em São Paulo. A expectativa é que delegações de cerca de 80 partidos venham ao Brasil para discutir as possibilidades de realizarem ações comuns. O primeiro desses eventos aconteceu em 1999, em Atenas, por iniciativa do PC da Grécia. Desde então, vêm marcando a atuação dos comunistas em todo mundo. Conheça o que diz a respeito  José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB.
 

Por Priscila Lobregatte

Definições da reunião do GT em Lisboa
A reunião do Grupo de Trabalho, formado por 11 partidos, realizada em Lisboa sob os auspícios do Partido Comunista Português, em 16 de fevereiro, contou com a participação de 10 partidos membros (apenas um se ausentou por razões técnicas), além de outros sete partidos que, mesmo não sendo membros do GT compareceram, uma vez que tais reuniões são abertas a todos os participantes do encontro. Na oportunidade decidiu-se sobre a data – 21 a 23 de novembro de 2008 -, o local do encontro – a cidade brasileira de São Paulo – e o tema.
 
Marco internacionalista
Pela primeira vez na história do movimento comunista mundial, um evento dessa magnitude, como o Encontro de Partidos Comunistas e Operários, acontecerá no Brasil. Isso tem um grande significado na trajetória do PCdoB. O nosso partido sempre foi internacionalista, solidário com a causa dos povos, o que não contradita com nosso arraigado patriotismo, e sempre manteve muitas relações no âmbito do movimento comunista internacional. Esta é a primeira vez que o Brasil sediará o encontro e é também a primeira vez, em 86 anos, que o PCdoB é anfitrião de um evento internacional tão significativo. Ou seja, para além do seu significado regional e mundial, o encontro tem sentido político tanto para o país  como para o partido. Trata-se de uma atividade que se inscreve no quadro de expansão que a vida partidária tem experimentado nos últimos anos. Do mesmo modo que o PCdoB vem colhendo êxitos assinalados em diversas frentes de atividade, também no âmbito internacionalista os comunistas têm tido sucesso, o que repercute também no plano da luta antiimperialista de massas, pela paz e em solidariedade aos povos agredidos, dando assim uma contribuição ao exercício do que eu chamaria internacionalismo de massas, uma expressão dos melhores sentimentos do povo brasileiro para com outros povos e nações.

Fortalecendo os partidos comunistas
Esses encontros, que acontecem dede 1999, contribuem para  recuperar a força do movimento comunista após as derrotas que sofreu em decorrência da queda da URSS e dos países socialistas no Leste europeu no final dos anos 80 e começo dos anos 90. Este fato provocou a dispersão das forças comunistas no mundo, gerou problemas de ordem política e ideológica e aprofundou discrepâncias e divisões. Esses encontros  têm servido para, num processo gradual, fortalecer o movimento comunista e criar as condições para sua unidade a partir da unidade de ações.
 
Saldo positivo
Decorridos nove encontros – o do Brasil será o décimo – pode-se fazer um balanço e constatar que a experiência tem sido muito positiva. Ressalto a presença numerosa de partidos, em torno de 80, de todos os continentes. E os temas em debate são os mais variados. Vão da crise do capitalismo e da globalização capitalista à política de alianças dos comunistas; da opinião dos comunistas sobre o movimento sindical ao debate sobre a nova situação do mundo pós-11 de Setembro de 2001; da situação do mundo com a deflagração da guerra “preventiva” de agressão, pelo governo  de Bush no Afeganistão e no Iraque, até a discussão sobre os 90 anos da Revolução de Outubro, tema tratado no último encontro, realizado em Minsk, Belarus, uma ex-república da URSS. Ao possibilitar a abordagem de temas como esses com um grande número de participantes, esses encontros constituem uma experiência frutífera, sempre resultando na elevação da compreensão mútua. Ademais, as discussões são feitas em clima fraternal com o objetivo de compor posições e formar consensos. Dessa forma vão  criando-se  as condições para que os encontros não tenham como resultado apenas a publicação das intervenções, mas também a realização de ações comuns.
 
Assunção de posições
A unidade de ações entre os partidos comunistas e operários pode expressar-se através da tomada de posições comuns sobre assuntos que fazem parte da agenda mundial. Um exemplo foi a nota conjunta repudiando a declaração unilateral de independência do Kossovo, a ingerência do imperialismo norte-americano e da União Européia sobre os Bálcãs, ambas as potências responsáveis pela desagregação da Iugoslávia. A posição foi adotada em cima dos fatos ocorridos no mesmo dia em que o Grupo de Trabalho se reunia em Lisboa. Neste momento, a nota, já publicada, conta com a adesão de 48 partidos comunistas. O mesmo tem ocorrido também com relação aos conflitos em curso no Oriente Médio.
 
Moção pela América Latina
Por ser a primeira vez em que o encontro se realiza na América Latina, o Grupo de Trabalho propôs que seja aprovada uma moção coletiva de apoio aos povos latino-americanos, em especial aos  processos progressistas que vêm ganhando força no continente. Recentemente, assinamos documento de apoio à Bolívia que era ameaçada de golpe pelas forças reacionárias e até mesmo por ações separatistas. Enfim, são diversas as formas pelas quais os partidos comunistas podem ir criando condições propícias à unidade de ação.
 
Repercussão política
Sempre que os partidos comunistas se manifestam com clareza sobre um determinado assunto, mesmo em locais onde  podem não ter tanta força política, esse posicionamento acaba repercutindo e influenciando ações de outras agremiações  políticas, ou seja, tende a ter repercussão no quadro político. Mais ainda quando esses partidos têm influência sindical e no movimento de massas,  tribunas parlamentares, instrumentos de poder local ou nacional, jornais de grande circulação etc.
 
Tarefas do PCdoB
Até novembro, o PCdoB vai se dedicar à preparação do encontro e, na véspera de sua realização, será feita uma última reunião do Grupo de Trabalho a fim de definir sua dinâmica. A preparação do encontro é tarefa do partido anfitrião. O PCdoB tomará todas as medidas para que seja possível fazer um encontro que tenha repercussão política e num local que possibilite o bom desenvolvimento dos trabalhos. Vamos associar a essa reunião um ato público, com caráter político e ideológico, para possibilitar que os partidos participantes tenham contato com nossos militantes e quadros,  os movimentos sociais e políticos brasileiros e  com as forças que compõem a coalizão de que nosso partido faz parte.
 
Temática de focos nítidos
Foi definido como tema do próximo encontro os Novos fenômenos no quadro internacional. Contradições e problemas nacionais, sociais, ambientais e interimperialistas em agravamento. A luta pela paz, a democracia, a soberania, o progresso e o socialismo e a unidade de ação dos Partidos Comunistas e Operários. Embora o enunciado seja largo, tem focos bastante nítidos. Em primeiro lugar, queremos abordar a realidade sobre a qual estamos atuando. Há muitos fenômenos novos na situação mundial: econômicos, políticos, sociais e culturais. Desejamos situar esses novos fenômenos e interpretá-los à luz da teoria marxista-leninista e da linha política de cada partido.
 
Desvendando o mundo contemporâneo
Na interpretação desses novos fenômenos, pretendemos desvendar as contradições do mundo contemporâneo. A contradição entre o capitalismo e o socialismo é uma contradição atual?  Há forças políticas e intelectuais que consideram que, pelo fato de o socialismo ter sofrido uma derrota em suas primeiras experiências, a contradição não existe mais. É uma forma disfarçada de colocar em segundo plano a luta pelo socialismo. Outra questão é se, com os novos fenômenos da economia mundial – as reestruturações produtivas, os deslocamentos das plantas industriais e as mudanças que ocorreram no funcionamento das empresas – existe ainda, com grau de antagonismo importante, a contradição entre o capital e o trabalho. Como situar também, no quadro atual, as contradições entre o imperialismo e os povos, entre o imperialismo e as nações em desenvolvimento, entre o imperialismo e as nações que sofrem as espoliações neocolonialistas? Há quem ache que pelo fato de o capitalismo ter se globalizado, não é mais imperialista. Portanto, não existiria mais a contradição entre os povos e o imperialismo e  assim, a luta pela libertação nacional e social já não faria mais sentido. Os comunistas confrontam-se também com opiniões falsas sobre a crise do capitalismo e o imperialismo. Não são poucos os setores que, mesmo na esquerda, subestimam o alcance e a profundidade da crise sistêmica e estrutural do capitalismo.
 
Unipolaridade ou multipolaridade
Debater esses novos fenômenos é tratar das contradições do mundo atual. O mesmo se pode dizer das contradições interimperialistas. O fato de existir hoje uma grande potência que exerce o domínio unipolar no mundo significa que as contradições interimperialistas deixaram de existir? Ou, ao contrário, estão se formando novas contradições e as potências imperialistas alternam momentos de cooperação e momentos de rivalidade que podem transformar-se em acontecimentos mundialmente explosivos? Há também um debate, em que a social-democracia esmera-se na difusão de ilusões, sobre  como encarar a tendência objetiva à multipolaridade. Há quem diga que essa nova tendência levaria a um maior equilíbrio e que seria possível ir domando o imperialismo norte-americano através da ação multilateral das Nações Unidas ou de outras organizações internacionais multilaterais. Ou mesmo que esse imperialismo tenderia a uma política de paz. Outro foco do tema do encontro  é a busca da unidade  na ação entre os partidos comunistas e operários e destes com outras forças progressistas e antiimperialistas em torno das lutas  pela paz, a soberania, o aprofundamento da democracia, o progresso social e pelos direitos dos trabalhadores. Estas são questões que irão permear o encontro e que, obviamente, não serão esgotadas. A vontade e o propósito de todos os partidos  é abrir e aprofundar o debate.