Renato Rabelo: o primeiro ano e o futuro da CTB
Um ano depois de seu Congresso de Fundação – realizado em Belo Horizonte, de 12 a 14 de dezembro de 2007 –, a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) é uma entidade legalizada e uma referência de sindicalismo classista e democrático.
Publicado 20/12/2008 19:27
De Salvador – onde participou da 2ª Reunião da Diretoria Plena da CTB e do Encontro de Partidos de Esquerda –, Renato falou ao Vermelho sobre o primeiro ano de atividades e o futuro da central. Para ele, a redução da jornada de trabalho deve ser a principal bandeira de luta do sindicalismo em 2009. Confira.
Que avaliação o PCdoB faz do primeiro ano de atuação da CTB?
Construir uma central é o grande desafio para todas as correntes que têm a classe como base e aspiram à democracia. Não é coisa fácil, e um ano para dar conta disso é pouco tempo, um período muito curto. Mas, dentro desse tempo, a CTB alcançou os objetivos que são fundamentais para constituir uma alternativa de central classista e democrática.
O que quero dizer com isso? Que a CTB tem um eixo claramente definido, que é esse sentido de classe. Ao mesmo tempo, é uma central democrática na medida em que não é exclusivista – não é composta ou hegemonizada por uma única corrente, uma tendência só. Já na sua fundação, a CTB contava com correntes que participavam de outra central (a CUT) e teve a adesão de um número apreciável de sindicatos, além de independentes.
O desafio seguinte era cumprir uma série de critérios e exigências para a legalização da central. Essa era a base necessária para sua existência. A CTB, de novo num prazo curto, conseguiu responder a cada um dos critérios e se legalizar. Por isso é que o êxito foi grande.
Uma central que consegue já criar base para existência num tempo tão curto demonstra ter possibilidade de se consolidar e crescer. Esse é o desafio atual. Até porque mais à frente – e já está correndo o tempo – haverá critérios mais exigentes ainda para a legalização das centrais. Isso vai exigir, por exemplo, mais filiações de sindicatos – um esforço maior nesse sentido.
Você citou correntes que deixaram a CUT para fundar a CTB. Uma das razões dessa mudança foi a falta de autonomia da CUT em relação ao governo Lula. Dá para dizer que, em um ano, a CTB já provou ser uma central autônoma?
A autonomia de uma central, mesmo de um sindicato, é algo que se constrói com o tempo. E não adianta só falar – a autonomia se faz na prática. Acho que o tempo ainda é curto para a gente dizer que esse objetivo foi alcançado pela CTB. Mas o esforço é esse.
Nesse debate, a entidade pode incorrer em dois erros: ou perder toda a autonomia, ser mero apêndice do governo, ou estar do outro lado e fazer a negação total – “a tudo que é do governo eu sou contra”. São dois extremos a que não se deve chegar. Então a autonomia requer um tempo de vivência, de amadurecimento, para que a central encontre o seu caminho justo, conforme a situação política.
Na reunião com a diretoria plena da CTB, você propôs que, de todas as disputas de 2009, o movimento sindical priorizasse a luta pela redução da jornada de trabalho. Por quê?
Estamos diante de uma crise de grandes dimensões que atingiu o mundo inteiro – e o Brasil também foi atingido. Como aqui não existe pitonisa, ninguém pode medir ainda o tempo disso, o impacto que a crise vai trazer. O que todo mundo diz é que é uma grande crise do capitalismo. Numa situação como esta, temos de trabalhar em duas direções, levando em conta a realidade concreta do Brasil hoje.
A primeira direção é a defesa da economia nacional. Nessa crise, o investimento público é muito importante e detém a primazia – é ele que vai puxar outros investimentos. Lá fora, a recessão corre solta. Ampliar o mercado interno se torna uma questão de defesa – é uma decisão racional. Os países, como o Brasil, têm de procurar uma cooperação maior ainda entre eles, porque isso, de certa forma, pode ser a contratendência à crise. Essa é uma direção.
A outra direção é a defesa do emprego, do salário, da renda do trabalho. Um dos fatores do alastramento da crise é o desemprego. Não só para o governo como também para os trabalhadores, é fundamental manter – e até ampliar – o nível de emprego, não baixar a renda. Essa exigência pede a diminuição da jornada de trabalho.
A redução atende à possibilidade de haver mais empregos disponíveis. Além disso, é mantida a renda do trabalho, já que a redução da jornada não significa reduzir salários. Aliás, a reivindicação das centrais compreende isso – proporciona mais tempo livre ao trabalhador. Daí a importância que tem hoje essa bandeira da redução da jornada de trabalho nas condições atuais.