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Dirceu: Serra vê armação política em tudo

Ao acompanhar essa questão de invasões no Pontal do Paranapanema durante o carnaval, o que constato é que nunca vi um governo culpar tanto o adversário e ver tanta armação inimiga quanto o do Serra.



por José Dirceu

Não me lembro de terem agido dessa forma, e tão repetidas vezes, nem os governadores biônicos da ditadura militar. No tucanato – há 14,5 anos governando o Estado – e particularmente agora, com Serra, tudo o que contraria e não é do agrado do governador é “armação política” de adversário –  querem dizer do PT. Que falta de criatividade e de disposição para enfrentar as coisas como elas são!


 


Conversei hoje com o líder sem terra, José Rainha, que diante da recusa do secretário de Justiça de Serra, Luiz Antônio Marrey,  de conversar sobre o Pontal, tem uma resposta-sugestão imediata: ele desafia o secretário a marcar uma reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.


 
“Se Marrey não marcar reunião com o ministro, eu mesmo vou marcar e dizer que o governo Serra coloca milhões na construção de presídios em São Paulo, mas não põe um centavo nos assentamentos”, antecipa Rainha.



O líder sem terra está propondo, também, um abaixo-assinado pedindo o fechamento da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), que poderá contar com 5 mil assinaturas, testemunhas do descontentamento com o processo de assentamento na região.



Os motivos? Segundo Rainha, o órgão é um cabide de empregos que não monitora, nem fiscaliza as terras e apesar de ter cadastrado seis mil pessoas no Pontal, até agora, “não fez nada por ninguém”.



Para Rainha a solução seria passar as atribuições do ITESP para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). “Hoje há na região do Pontal um total de 104 assentamentos que estão nas mãos do ITESP, nos quais ele não fez investimento nenhum. São 104 em completo abandono”, acusa o líder.



Como vocês podem ver, este é o jeito tucano de fazer a reforma agrária: criminalizar os movimentos sociais, ameaçar, e jogar a responsabilidade, que é do governo tucano do Estado, para o governo Lula. Além disso repetir o velho refrão: a atuação dos movimentos sociais é política, é coisa do PT.



Problema só se agrava há 27 anos


 
A absoluta incapacidade tucana de resolver os problemas do Estado que governa há 14,5 anos é a principal responsável pelo agravamento contínuo da situação no Pontal do Paranapanema.



O problema agrava-se ali desde o governo Franco Montoro (1983-1986), há exatos  27 anos. Montoro, fundador e décano do PSDB, foi o primeiro governador tucano de São Paulo, quando todo o tucanato, ou a maior parte, ainda era filiada ao PMDB e a legenda pessedebista não fora fundada.



Além de excluir os movimentos sociais da solução do problema e criminalizar as invasões, como faz o governo do PSDB  mais uma vez,  agora através do secretário de Justiça de Serra, Luiz Antônio Marrey, os tucanos também ameaçam: o Estado, antecipa Marrey, vai agir com rigor nas reintegrações de posse determinadas pela Justiça, utilizando força policial se necessário.



A ameaça e essa disposição não deixam de ser decisões que vão na contramão do seu argumento de que “as invasões são políticas e não trazem resultado positivo. Pelo contrário, geram um clima de insegurança e rompimento da paz”. O que é político resolve-se politicamente.



Por que portarias não podem ser revogadas?



Se o secretário está tão preocupado com a paz dos paulistas, por que não atende a reivindicação dos sem terra, de revogação de duas  portarias e mais, por que recusou-se a se sentar com o líder sem terra José Rainha Jr, após as invasões de  fazendas na região?



As duas portarias que os sem terra são contra excluem a participação de movimentos sociais nas comissões de seleção de assentados no Estado. “As portarias são arbitrárias, cheiram a ditadura e parte das tentativas, evidênciam a disposição do governo do Estado de  criminalizar o movimento”, adverte José Rainha.



Os sem terra paulistas querem, também, a retirada do projeto de lei que o governador Serra enviou à Assembléia Legislativa tratando da legalização das terras griladas – e que, para os trabalhadores, constitui, simplesmente, a entrega das terras devolutas ocupadas  aos grileiros.



“O projeto precisa ser retirado e, em seu lugar, continuar as ações discriminatórias e destas, as que já tiveram decisão final na justiça, as terras devem ser retomadas  e passadas  para projetos de reforma agrária”, acentua José Rainha.   



O que temos aí, mais uma vez, é uma completa inabilidade tucana para lidar com os movimentos sociais. Além disso, o governo truculento do PDSB, como sempre, quando não sabe o que fazer, joga a responsabilidade para o governo federal, quando todos sabem que as terras e esse grande problema do Pontal são estaduais.


 



Fonte: Blog do Dirceu