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Encontro de esquerda debate a crise do capitalismo na Europa

Sob o lema “Por uma outra Europa, um outro mundo” , realizou-se entre os dias 19 e 21 de fevereiro, em Roma, a 34ª Reunião do Novo Fórum da Esquerda Européia (NELF, na sigla em inglês). Diversas agremiações de esquerda do continente participaram. 

Realizou-se entre os dias 19 e 21 de fevereiro em Roma a 34ª Reunião do Novo Fórum da Esquerda Européia (NELF, na sigla em inglês). Organizada pelo Partido dos Comunistas Italianos (PdCI) a reunião contou com a presença também do Partido da Refundação Comunista. Enviaram representantes o Partido Progressista do Povo Trabalhador, do Chipre, a Aliança de Esquerda da Finlândia, o Partido Comunista Francês, o Partido A Esquerda, da Alemanha, o Partido dos Comunistas da Catalunha, a Aliança Vermelho-Verde, da Dinamarca,  o Partido Socialista de Esquerda da Noruega,  a Frente de Esquerda, da Grécia, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda de Portugal. Do Oriente Médio participaram o Partido Comunista de Israel e Organizações de Solidariedade com a Palestina. A América Latina foi representada pelo Movimento ao Socialismo (MAS) da Bolívia, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).


 


Sob o lema “Por uma outra Europa, um outro mundo” desenvolveu-se uma ampla discussão sobre a crise econômica, particularmente aguda no continente europeu. Os partidos da esquerda européia presentes na reunião do NELF foram enfáticos na condenação às políticas monopolistas, antidemocráticas e militaristas da União Européia. Rejeitaram as políticas em curso de cortar investimentos sociais e atirar sobre os trabalhadores os efeitos da crise. Defenderam uma “Europa social e pacífica”, inteiramente diversa da que está sendo construída.


 


A reunião do NELF discutiu amplamente a questão do Oriente Médio e manifestou solidariedade com o povo palestino, condenando a agressão israelense.


 


Uma sessão de trabalho foi dedicada à América Latina. O líder da bancada do MAS no Parlamento boliviano fez uma ampla exposição sobre os princípios que norteiam a nova Constituição do país aprovada por esmagadora maioria e recentemente promulgada. Ressaltou o caráter profundamente democrático do processo de mudanças em curso no país, acentuando a participação indígena e popular. Discorreu sobre a originalidade da sociedade boliviana, com majoritária presença indígena, o que determina, segundo ele, que o modelo democrático do país obedeça às exigências de protagonismo dos povos originários.


 



Pelo PSUV falou o deputado Carlos Escarra, que é também o secretário de Relações Internacionais do partido venezuelano. Ele fez uma intervenção baseada na trajetória histórica de luta dos povos latino-americanos e destacou os principais marcos da Revolução Bolivariana, entre estes o levante cívico-militar de 4 de fevereiro de 1992 e a primeira eleição do presidente Hugo Chavez em 1998. Referiu-se de maneira especial aos resultados do último referendo de 15 de fevereiro, considerando-os uma grande vitória da Revolução Bolivariana.


 


O secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil, José Reinaldo Carvalho fez uma conferência sobre a crise do capitalismo e o novo quadro político na América Latina. O dirigente brasileiro ressaltou que se trata da mais grave crise do sistema capitalista desde a grande depressão dos anos 30 do século passado. Para ele, a crise arava as contradições de classes e geopolíticas fundamentais do sistema capitalista, que revela da maneira mais crua os seus limites históricos.


 


Reinaldo expôs aos presentes a opinião do Partido Comunista do Brasil afirmando textualmente: “Esta crise põe abaixo as ilusões que durante muito tempo foram semeadas pelo dogmatismo oficialista – por governos, academias e meios de comunicação – e que foram também incorporadas ao discurso de oportunistas na esquerda: falavam das virtudes e da durabilidade do chamado ciclo de desenvolvimento e expansão do capitalismo, de sua vocação a regenerar-se e abrir caminho ao desenvolvimento econômico-social e a uma nova época de ´anos dourados´. Um discurso falso, que tentou estigmatizar como ‘catastrofistas’ aqueles que apontavam as tendências mais profundas do desenvolvimento da sociedade capitalista, denunciavam suas iniqüidades e a inevitabilidade da crise”.


 


O dirigente do Departamento Internacional do PCdoB defendeu ainda a opinião, largamente compartilhada entre os comunistas e demais forças da esquerda conseqüente mundial, de que definir os fenômenos atuais apenas como uma crise da ‘financeirização’ significa incorrer em unilateralidade, pois se trata de uma crise não somente financeira, apesar da importância dos fenômenos nesta esfera. Ele indicou ainda que a crise ocorre num contexto histórico no qual se entrelaça com a crise da hegemonia norte-americana.


 


Referindo-se ao quadro político na América Latina, José Reinaldo declarou: “Desde o ano de 1998, quando Hugo Chavez ganhou pela primeira vez as eleições presidenciais na Venezuela e deu impulso ao processo da Revolução Bolivariana, destacam-se na região da América Latina e Caribe vitórias políticas que resultam da resistência popular, nacional e democrática à dominação imperialista estadunidense e às políticas neoliberais das classes dominantes”. Para o representante do PCdoB este processo democrático ganhou força com a eleição de Lula no Brasil e sua reeleição em 2006. Toda uma série de países passou a ser governada por forças democráticas e progressistas, o que significa “a abertura de um novo ciclo político, a criação de um novo cenário em que os povos se insurgem contra um sistema nefasto e iníquo”. Reinaldo explicou que “os fatores objetivos que determinaram as lutas e as vitórias dos povos da América Latina e Caribe foram a dominação imperialista de Estados Unidos e as políticas antidemocráticas e antipopulares dos governos locais. Os fatores subjetivos foram a consciência dos povos e a unidade das forças democráticas e progressistas, entre estas os comunistas”. Resumiu as mudanças em curso no continente como aprofundamento da democracia, adoção de políticas sociais, a defesa da soberania e da independência nacionais e a integração política, econômica, social e cultural.


 


O secretário internacional do PCdoB denunciou o relançamento da Quarta Frota Naval dos Estados Unidos como uma ameaça aos povos do continente e enalteceu a Cúpula de chefes de Estado latino-americanos realizada em Salvador, Bahia em dezembro de 2008 como a “expressão mais significativa do processo de integração”.


 


Reinaldo falou também sobre o significado da resistência do povo heróico de Cuba socialista como fonte de inspiração para a luta antiimperialista na América Latina e Caribe e saudou as recentes vitórias dos povos boliviano, equatoriano e venezuelano.


 


Encerrou sua fala com uma mensagem otimista: “Nestes momentos, quando a humanidade vive uma das etapas mais difíceis de sua história, com crises e guerras de agressão, com a manifestação de desigualdades e injustiças, exploração e opressão, o novo ciclo político na América Latina desperta  a esperança e fortalece a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo pela liberdade, a paz, a justiça, a independência nacional, o progresso social e o socialismo”.