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Sentindo-se pressionado, Serra pede fim da discussão sobre 2010

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), apontado como um dos prováveis candidatos à sucessão na Presidência da República, disse nesta segunda-feira (16), em Curitiba, que a antecipação da discussão eleitoral não é boa para o Brasil, em razão da c

Serra falou de política no gabinete do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Ele acentuou que é normal haver uma mudança de clima às vésperas das eleições. ''Mas não estamos em vésperas'', disse. ''Claro que o ano anterior é um ano político, de conversas, mas não é para criar clima porque dificulta a ação cooperativa para o enfrentamento da crise.'' Ele destacou, no entanto, que não se deve confundir seu posicionamento com um possível não interesse em ser candidato. ''Nada disso. É só um problema de ênfase, daquilo que vai dominar'', ponderou. ''Pode ser que venha a ser candidato no ano que vem. É possível. Mas neste momento estou concentrado na minha administração em São Paulo'', disse.



Aécio nos calcanhares



Já seus aliados e adversários parecem estar concentrados mesmo na disputa de 2010. Nos últimos dias, prefeitos tucanos de cidades importantes receberam telefonemas de aliados do governador paulista. Depois de enumerar as virtudes eleitorais de Serra e os bons índices nas pesquisas de opinião, eles criticaram o governador de Minas, Aécio Neves. ''Ele é muito novo'', foi um dos argumentos para dizer que ele não deve ser candidato à sucessão de Lula. Alguns casos de tons mais elevados levaram estes políticos a se queixar do nível da disputa. ''Esse tipo de política silenciosa e camuflada pode rachar o partido'', disse à revista IstoÉ um prefeito tucano na manhã da quinta-feira 12. ''E partido dividido perde eleição. O Serra sabe bem disso.''



Se a tática do governador paulista era segurar a proposta de prévias numa panela partidária, enquanto injetava mais pressão contra Aécio, ela vazou na semana passada quando o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, desceu do muro. ''Eles são governadores, têm que trabalhar'', disse FHC, num recado direto ao mineiro, que propôs viajar pelo País com Serra. ''Não podem sair pelo Brasil a fazer prévias e não trabalhar.'' Não tinha um mês que FHC havia pregado o ''amplo debate'' para a escolha do candidato. A mudança de postura foi a senha para que Serra, que havia declarado nada ter contra as prévias, explicitasse sua contrariedade. ''Não posso deixar de governar para ficar no tititi'', disse.



FHC e Serra tentam assim demarcar um território inexistente: o do governador que governa sem fazer política. É como se o lançamento do PAC paulista nada tivesse a ver com a intenção de criar um contraponto eleitoral ao PAC da ministra Dilma Rousseff. Ou como se a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento fosse apenas um ato burocrático e não uma tentativa de unir o partido em São Paulo.



Até agora, os aecistas pretendiam levar o grupo de Serra às prévias sem alarde. ''Quando você quer pegar uma galinha, não grita 'xô, galinha''', explica um líder tucano. Mas as agressões nos bastidores e as declarações de FHC inverteram a estratégia do governador mineiro. ''Não se constrói um projeto para o País de alguns gabinetes ou da avenida Paulista, mas caminhando pelo País'', respondeu Aécio ao ex-presidente.



''É isso o que estou me dispondo a fazer'', disse, lembrando que as viagens seriam nos finais de semana. Como estratégia de aliciamento, Aécio tem convidado lideranças tucanas para encontros no Palácio da Liberdade. Não se pode dizer que suas palavras sobre Serra sejam necessariamente de carinho, mas os interlocutores têm saído de lá com elogios à goiabada com sorvete de queijo, servida de sobremesa. A tática parece dar resultados. Pesquisas encomendadas pelo comando do PSDB indicam que mais de 60% dos diretórios são favoráveis às prévias. ''Sempre se busca a composição, mas a prévia é instrumento legítimo e democrático'', afirma o prefeito de Curitiba, Beto Richa. ''É muito mais sábio ouvir mais gente do que quatro ou seis iluminados'', diz o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).



Aécio precisa crescer nas pesquisas para que o partido não perca o entusiasmo pelas prévias. Mas não vai ser no final de semana, e sim nesta segunda-feira 16, que ele desembarcará no Recife para iniciar um giro nacional. Seu objetivo é criar fatos novos para se posicionar diante de um governo popular. Ele agendou encontros com lideranças do PMDB, PPS e PSB. ''A oposição só cresce quando fala e mostra propostas'', diz o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). ''Não podemos ficar na política do silêncio.'' Com a panela partidária aberta, as desavenças tucanas, agora, serão públicas.


 



 


DEM menos serrista



Outra onda que soprou ventos contrários ao governador paulista surgiu da recente reunião da cúpula do DEM. Diante do impasse no PSDB pela definição da candidatura à sucessão do presidente Lula, os demos preferiram amenizar o tom ''serrista'' com que vinha tratando o apoio aos tucanos e esperar pela definição entre o governador de São Paulo e o de Minas.



Após a primeira reunião do conselho político do partido no ano, ocorrido na noite da última quinta-feira (12) em São Paulo, o discurso foi de cautela para uma aliança que é dada como certa. ''Política é o seguinte, você busca convergências, mas não pode achar que ela vem por gravidade. É preciso trabalhar para que ela exista […]. Não adianta construir um quadro nacional se não houver sustentação nas províncias'', afirmou o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PSDB).



A preocupação em manter a base de apoio tanto em Minas quanto em São Paulo mudou o discurso do presidente nacional do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ). ''Não vamos nos envolver na decisão do PSDB pelo candidato a presidente. São dois grandes nomes. Nós [DEM] participamos das duas administrações, em Minas e em São Paulo, e entendemos que a decisão deve ser o que gerar unidade no PSDB'', afirmou.



Em janeiro, o próprio Maia já havia declarado apoio incondicional do DEM a candidatura Serra após encontro regional do partido em Ribeirão Preto (SP). Hoje, no entanto, o presidente da legenda admitiu que a antecipação do anúncio foi um ''equívoco''.



''A realidade que eu tinha naquele momento é uma e a que tenho hoje é outra. O governador Aécio Neves, de fato, é candidato a presidente do Brasil […]. Eu não mudei de ideia, quem mudou de ideia foi o Aécio. Ele era um candidato com uma posição mais tímida e foi para uma posição em que está exigindo as prévias do seu partido'', disse Maia.



Sem esconder sua preferência pela candidatura do governador paulista à Presidência da República, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), também pregou cautela no ''serrismo'' do DEM. ''Seria um grande equívoco nós aqui nos manifestarmos como partido antes do PSDB. Seria um grande desrespeito aos candidatos do PSDB'', afirmou.



Os 18 membros da conselho político do DEM deixaram a reunião em um hotel na região central de São Paulo para jantar com Serra no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Para evitar mal entendidos, Kassab afirmou ter ligado para Aécio para também combinar um encontro após a próxima reunião do conselho, que deve ocorrer em Minas.



Problemas no PMDB



Outro partido que não tem dado muitas alegrias a Serra é o PMDB. No pior estilo falastrão, o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE), tido como grande aliado de Serra, saiu atirando no próprio partido, qualificando o PMDB como antro de corruptos e sanguessugas, mas não deu nome aos bois. Calou-se todas as vezes em que foi questionado sobre quem são os meliantes do PMDB. Com isso, jogou uma nuvem de suspeição sobre todo o partido, o que lhe custou a antipatia de boa parte dos colegas de legenda, o isolamento dentro da bancada peemedebista no Congresso eouviu até mesmo burburinhos com ameaças de expulsão.



O próprio senador reconhece o isolamento. Questionado por jornalistas, Jarbas admitiu que tem sido perguntado sobre uma eventual candidatura à vice-presidência numa chapa Serra-Jarbas, mas disse que essa é uma tese ''incogitável''. ''Mesmo que eu pretendesse, não posso ser [candidato] porque não posso sair do PMDB e o partido não me apoia. Não tenho nem 10% de adeptos no PMDB''.



É com esta ''moral'' toda que Jarbas agora diz que é o ''homem'' de Serra no PMDB e promete buscar apoios para o tucano no partido. E ao lado de quem? Do ex-governador paulista Orestes Quércia, um peemedebista histórico cuja trajetória política não combina muito com o movimento pela ética que Jarbas pretendeu fundar após suas denúncias na tribuna do Senado.



Se for com estes dois escudeiros que Serra busca atrair o PMDB para sua pré-candidatura, a tarefa parece que será inglória. Principalmente porque setores do PMDB também articulam a adesão do partido a uma candidatura presidencial, mas do até agora tucano Aécio Neves. Na semana passada, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, do PMDB mineiro, disse seu partido vai trabalhar no Estado por um nome ''mineiro'' à Presidência da República e voltou a defender a candidatura de Aécio. ''O governador Aécio Neves é uma força dentro e fora do nosso Estado, e o PMDB continua de portas abertas para recebê-lo'', disse Costa, em alusão a uma possível candidatura de Aécio pelo PMDB.



O ministro discursou em Belo Horizonte na quinta-feira (12) durante o 1º Encontro Consultivo do PMDB, realizado para lançar a sua pré-candidatura ao governo de Minas, em 2010. Em seguida à declaração dele, uma claque fez coro às suas palavras. ''Doutor eu não me engano, o Aécio não é tucano'', cantaram.



O ministro aproveitou para alfinetar José Serra. ''Ninguém chega à Presidência da República sem conquistar a mente e o coração dos mineiros. Para chegar lá, tem de ter os mineiros ao seu lado'', afirmou.



Problemas internos



Os problemas para Serra não se restringem apenas aos acordos partidários. O governador paulista também enfrenta problemas internos. Apesar de toda a ação da mídia paulista, que busca preservar o governador de escândalos, é cada vez maior o número de más notícias envolvendo o governo tucano.



O escândalo da Alstom, corrupção na polícia, pedágios extorsivos, aumento da criminalidade, ações tímidas diante da crise econômica, governo apagado sem grandes realizações, suposto envolvimento de Daniel Dantas e Naji Nahas com o processo de venda da Cesp… entre várias outras suspeitas que foram abafadas pela mídia ou que ainda estão por estourar devem estar tirando ainda mais o sono do conhecido madrugador José Serra.



Com tanta ''crise'' para combater, não surpreende que Serra tenha pedido publicamente que a discussão para 2010 fique pra depois.


 



Da redação, com informações da IstoÉ e agências