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Munhoz culpa monetaristas pelo acirramento da crise

O Brasil necessita realizar um “largo programa de investimentos governamentais” para reverter a tendência ao aumento do desemprego. O desafio está sendo proposto pelo economista e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Dércio Garcia Munho

Para o economista, as reduções mais recentes na taxa de juros, de 2,5 pontos percentuais, a esta altura dos acontecimentos são um instrumento inócuo. “Além de irrisórias (queda na taxa), uma vez que o recuo da inflação nos últimos meses foi de seis pontos de percentagem, não têm força para recompor a demanda da economia brasileira.”


 


No artigo A economia brasileira sob tensão publicado no site da UnB, o professor diz que são quatro as fontes de demanda que acionam a economia: exportação, consumo das famílias, investimentos privados e consumo e investimentos do Governo, sendo que só está última não foi afetada pela crise na etapa inicial.


 


“Mas o Governo tem gastos de consumo relativamente pequenos, e os investimentos dentro do Orçamento Fiscal são ridículos (R$ 18 bilhões anuais), sendo absolutamente insignificantes para ter qualquer reflexo estimulante no mercado”, diz ele.


 


Crise mutila economia


 


Segundo ele, a crise mutilou a economia brasileira depois de 15 anos de política econômica voltada para sustentar taxas de juros proibitivas, facilidade de movimentação de capitais especulativos e intensa atuação do Banco Central na bolsa de valores.


 


Na sua opinião, o BC atuou para manter uma política cambial irrealista, prejudicando as exportações e provocando pesados prejuízos cobertos pelo Tesouro. “E a política de juros já é responsável por encargos financeiros impagáveis, que alimentam o crescimento incontrolável da divida pública federal.”


 


“A queda no emprego é mera decorrência desse quadro de enfraquecimento da demanda observado desde o inicio da crise. O que é muito preocupante, pois o desemprego gerado pelo primeiro choque que a economia sofreu tem o efeito de afastar centenas de milhares de pessoas das feiras, lojas e supermercado, e de promover uma segunda onda de queda da demanda, da produção e do emprego. É esse, aliás, o risco que o governo precisa evitar com todas as armas”, observa o economista.


 


O economista também comentou a redução do Produto Interno Bruto (PIB) em 3,6% no quarto trimestre de 2008. Para ele, a compreensão da evolução negativa do PIB deve partir da percepção de que qualquer economia funciona em razão da demanda “e não dos investimentos como equivocadamente muitas vezes se apregoa.” “Crescendo a demanda, cresce a produção de bens e serviços, e aí sim, são os investimentos estimulados, ampliando a oferta, sem o que a economia não cresce”, diz.


 


Munhoz explica que a crise nos Estados Unidos, com a quebra de bancos hipotecários, atingiu a economia brasileira no setor real, com recuo generalizado na demanda. “Caíram as exportações brasileiras de forma repentina, como ocorreu com as exportações mundiais como um todo”, explica.


 


Também foi afetada a demanda interna de bens adquiridos por famílias de renda elevada, que segunda ele, vinham turbinando a economia brasileira com o enriquecimento súbito ligado à valorização de ativos financeiros (os preços das ações indo à estratosfera) e também com os ganhos extraordinários daqueles que atuavam na área financeira e de mercado de capitais. “E a menor procura por bens, interna e externamente, levou à paralisação dos investimentos do setor privado, recuo na demanda por máquinas e equipamentos”, sustenta.


 


De Brasília,


Iram Alfaia