A crise e a perigosa besta ferida
Um artigo do Diário do Povo, intitulado “A hegemonia dos EUA termina, começa a era da multipolaridade global”, diz que dados do FMI mostram que se em 2003 o PIB dos EUA representava 32% do PIB mundial (e o conjunto das economias “emergentes” 25%), já e
Publicado 26/03/2009 10:58
O artigo questiona sobre o que mudará [no mundo] nos próximos 5, 10 anos. A questão faz sentido, sabendo-se que o crescente parasitismo e a trajetória de declínio dos EUA, o motor do sistema capitalista à escala global, são um elemento onipresente da atual crise econômica mundial — conferindo um grau ainda maior de dramaticidade e incerteza sobre o futuro da economia mundial.
A besta ferida torna-se mais perigosa. Toda a ofensiva imperialista impulsionada com o desaparecimento da URSS, a doutrina neocon do “século americano” e da guerra preventiva, o aumento do poder da Otan e as ocupações do Afeganistão e do Iraque cabem na procura de respostas aos dilemas e contradições internas que solapam as bases do poder dos EUA. A tentativa de reverter a roda da história aprofundou, porém, o impasse.
Crueza da crise geral
Bush saiu de cena pela porta dos fundos e as classes dominantes acabaram por apostar no “fenômeno Obama”. Holbrooke, o “arquiteto” do acordo de Dayton — que abriu as portas ao desmembramento definitivo da Iugoslávia — e atual enviado de Obama para o Afeganistão e Paquistão, anteviu que o sucessor de Bush herdaria os mais difíceis desafios internacionais [para a hegemonia dos EUA] desde a II Guerra Mundial. O imperialismo manobra para manter os objetivos de dominação e reforçar o iníquo sistema de exploração capitalista.
A crueza da crise geral, estrutural e sistêmica do capitalismo é uma evidência. A previsão extraordinária do FMI divulgada nos últimos dias aponta para um crescimento negativo do PIB mundial de -0,5% a -1% em 2009, o que acontecerá pela primeira vez desde 1945. A contração das economias dos EUA, da União Européia (EU) e do Japão será ainda mais acentuada.
Aposta de Pequim
No Japão, não refeito da “década perdida” da estagflação, a quebra rondará os 6%. O recuo avassalador da produção industrial nas potências centrais capitalistas é ultrapassado pela regressão do comércio mundial, a pior quebra dos últimos 80 anos. Segundo o Banco Mundial, a quebra do produto mundial pode chegar aos 2%. Para a China — apesar de fortemente atingida pela crise — a previsão é de um crescimento de 6,5%.
O Banco Mundial considera o desempenho da economia chinesa como a chave da recuperação mundial. A aposta de Pequim é estimular o consumo interno, cujo mercado é superior aos dos EUA e UE juntos. O presidente Hu Jintao reiterou recentemente que a liderança do Partido Comunista, as vantagens do sistema socialista e os esforços do povo serão determinantes para vencer as dificuldades. O êxito de um processo tão complexo e não linear, como é a modernização chinesa, com a incorporação da mais alta capacidade tecnológica e o desenvolvimento da produtividade, possui um significado transcendente para as forças do socialismo.
Fonte: jornal Avante! (com adaptações)