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Oposição chega enfraquecida às eleições no Equador

Fragmentados e sem nomes novos, os partidos de oposição que disputam a Presidência do Equador, no próximo domingo, chegam às urnas sem uma proposta política capaz de confrontar o atual projeto de “revolução cidadã”, liderado pelo presidente Rafael Corr

Segundo Adrían Bonilla, diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador (FLACSO), esta “desarticulação” da oposição no país é resultado da falta de confiança da população nos partidos políticos tradicionais.



“Sem ter acesso aos recursos públicos e ao poder, esses políticos ficaram sem saber como brigar nas eleições, porque não têm poder para distribuir e nem dinheiro público para sustentar suas candidaturas”, afirmou Bonilla em entrevista à BBC Brasil.



O período político que precedeu a eleição de Rafael Correa, em 2006, segundo Bonilla, se caracterizou por uma forte estrutura baseada em relações clientelistas, que, ao longo dos anos, acabou promovendo a fratura dos partidos tradicionais.



O analista considera que a maioria da população equatoriana “rejeita” os partidos tradicionais. “Esse é um dos fatores que justificam a enorme popularidade de Correa e a baixa votação dos velhos partidos”, diz.Essa regra, porém, não se aplica aos cargos de prefeitos, por exemplo. Um dos principais opositores do governo Rafael Correa, Jaime Nebot, do partido Social Cristão, deve a vencer as eleições em Guayaquil – a mais populosa cidade do Equador – sem dificuldades, de acordo com pesquisas.



As pesquisas de intenção de voto também apontam que os candidatos dos partidos tradicionais devem vencer na maioria das Províncias (Estados).



Popularidade e 'revolução'



De acordo com analistas, além da fragilidade dos partidos tradicionais, a popularidade do atual presidente se sustenta em dois anos de incremento do gasto social do governo – com investimentos diretos em subsídios para moradias e produção agrícola – e em uma ofensiva publicitária. Diferente do que ocorre nos países vizinhos, como Bolívia e Venezuela, o presidente Rafael Correa tem altos índices de popularidade em todas as classes sociais, e não apenas entre os mais pobres.”É uma candidatura para muitas classes. Correa tem uma ampla margem de apoio entre os ricos”, afirma Adrián Bonilla.



Na quinta-feira (23), Correa disse estar confiante na vitória nas eleições do próximo domingo, nas quais, além da Presidência, pretende conquistar uma ampla maioria das cadeiras na Assembleia Nacional para consolidar seu projeto de “revolução cidadã”.



“Querem ganhar a Assembleia para tentar privatizar tudo, para nos impor o neoliberalismo, desestabilizar o governo. (Por isso) é extremamente importante que ganhemos a Assembleia”, afirmou Correa, em Guayaquil, durante o comício de encerramento de campanha.



Na quarta-feira, Correa afirmou esperar que seu partido, Aliança País, conquiste 100 das 124 cadeiras da Assembleia Nacional. Se conquistar a maioria parlamentar, Correa abrirá caminho para implementar as mudanças previstas na nova Constituição, que, entre outros aspectos, prevê a ampliação do poder do Estado em setores da economia considerados estratégicos.



O presidente equatoriano voltou a afirmar que a prioridade de sua gestão são os “pobres”, uma das bases de apoio de seu governo, e atacou seus adversários, ao afirmar que são “defensores” do livre comércio.



“Estamos cumprindo com a palavra. Estamos trabalhando para que todos sejam iguais. Para nós, primeiro estão os pobres, e queremos continuar com essas mudanças”, afirmou o presidente equatoriano.


 


Adversários



Contra o favoritismo do presidente, que é acusado por seus adversários de ter usado a máquina do Estado a seu favor durante a campanha, está o ex-presidente Lucio Gutiérrez, do partido Sociedade Democrática (nacionalista).



Deposto da Presidência em abril de 2005, depois de uma rebelião popular que deslegitimou seu governo, Gutiérrez adotou o lema de campanha “Com Lúcio é mais barato”. Entre outras promessas, o candidato disse que, se eleito, restabelecerá as relações diplomáticas com a Colômbia e firmará um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Já o rico empresário bananeiro Álvaro Noboa, do partido Renovador Institucional de Ação Nacional (direita), que disputa pela quarta vez consecutiva a Presidência, prometeu usar sua influência como “homem de negócios” para atrair novos investimentos ao país e, a seu ver, acabar com os problemas econômicos do Equador.”Os homens mais ricos do mundo são meus amigos, têm confiança em mim, me disseram vinte vezes: quando você for presidente iremos (investir) no Equador”, afirmou Noboa em uma entrevista a uma televisão local.



Para a analista política Patricia De La Torre, da Universidade Católica de Quito, as promessas de campanha dos candidatos apontam que os partidos tradicionais não têm um projeto alternativo para apresentar aos equatorianos.”Enquanto não houver mudanças nessa política, baseada na falta de argumento e de um projeto de país, dificilmente a oposição poderá recuperar espaço”, afirmou De La Torre à BBC Brasil.



Crise



A crise econômica internacional, porém, pode mudar a correlação de forças na política equatoriana, na opinião de Milton Benitez, professor de Ciências Políticas da Universidade Católica do Equador.


 


Em sua avaliação, devido à crise, dificilmente Correa poderá implementar, se for reeleito, as mudanças previstas na Constituição que dependam de grandes investimentos.A redução dos gastos públicos, especialmente nos setores que Benitez classifica como “programas assistencialistas”, pode afetar a popularidade de Correa e fortalecer a oposição, segundo ele.



“Os problemas que o país pode enfrentar em consequência da crise podem fazer com que a direita se junte em um bloco contra o governo”, afirmou Benitez.



“Se isso acontecer, Lúcio Gutierrez é quem tende ser o elo de união dessa oposição”, acrescentou. Se as pesquisas de intenção de voto forem confirmadas, o partido de Gutiérrez, Sociedade Patriótica, deve se consolidar como a segunda maior força política da Assembleia (Congresso).



Os analistas consideram que um dos principais desafios do presidente equatoriano é dar estabilidade ao país que, de 1996 à 2007, foi governado por dez presidentes ou juntas de governo. Nenhum deles chegou a terminar um mandato de quatro anos.



Fonte: BBC Brasil