Sem categoria

Economistas dos EUA assinam declaração defendendo sindicalização

Um grupo de 40 importantes economistas dos Estados Unidos — incluindo, entre outros, Joseph Stiglitz, Jeffrey Sachs e James Galbraith — assinou uma declaração defendendo a importância de os trabalhadores voltarem a fazer parte de sindicatos para enfrentar

Veja a declaração:


 


____________


 


Ainda que o seu colapso tenha dominado a cobertura recente das notícias nos meios de comunicação, o setor financeiro não é o único segmento da economia norte-americana que atravessa graves dificuldades. As instituições que governam o mercado de trabalho também fracassaram, gerando a insólita e insana situação atual, em que a remuneração dos trabalhadores norte-americanos estancou, apesar do aumento da sua produtividade.


 


Entre 2000 e 2007, o rendimento familiar médio das pessoas em idade economicamente ativa caiu US$ 2 mil, uma queda sem precedentes. Nesse período, praticamente todo o crescimento econômico do país foi parar nas mãos de um reduzido número de ricos dos EUA. Uma das razões de peso que explicam esse passo, de uma prosperidade amplamente compartilhada a uma desigualdade crescente é a erosão da capacidade dos trabalhadores de se organizarem sindicalmente e de negociarem coletivamente.


 


Uma resposta natural dos trabalhadores, incapazes de melhorar a sua situação econômica é organizarem-se sindicalmente para negociar uma participação mais equitativa nos resultados da economia, e esse desejo está bem refletido nas pesquisas recentes. Milhões de trabalhadores  disseram que desejam a presença de sindicatos no seu posto de trabalho. Contudo, só 7,5% dos trabalhadores do setor privado estão neste momento representados por uma organização sindical.


 


E, em todo o ano de 2007, menos de 60 mil trabalhadores conseguiram ocupar uma posição sindical mediante eleições sancionadas pelo governo. O que é que explica tamanho hiato? O problema é que o processo eleitoral supervisionado pelo Comitê Nacional de Relações de Trabalho degenerou e tornou-se hostil, com campanhas ferozes da classe patronal para evitar a sindicalização, às vezes ao ponto de incorrerem em flagrante violação da legislação de trabalho.


 


Os simpatizantes dos sindicatos são rotineiramente ameaçados e mesmo demitidos, e têm poucos recursos efetivos para se defenderem legalmente. E, quando os trabalhadores conseguem superar essa pressão e votar pela presença dos sindicatos nos postos de trabalho, dada a resistência patronal, uma em cada três vezes não conseguem contratos. Para remediar essa situação, o Congresso está debatendo a oportunidade da Lei de Liberdade de Eleição dos Empregados (EFCA, em sua sigla em inglês).


 


Essa lei cumpriria três propósitos: em primeiro lugar, daria aos trabalhadores a oportunidade de usar um mecanismo de listas maioritárias — instituindo um procedimento simples para que os trabalhadores possam indicar, com uma mera assinatura, o seu apoio à presença sindical no posto de trabalho —, ou de pôr em marcha eleições supervisionadas pelo Comitê Nacional de Relações de Trabalho; em segundo lugar, triplicaria a punição dos empresários que demitirem sindicalistas ou violarem outras leis de trabalho; e, em terceiro lugar, criaria um processo capaz de garantir que se dê aos trabalhadores recém-sindicalizados uma oportunidade justa para obter um primeiro contrato, podendo recorrer a uma arbitragem depois de 120 dias de negociações infrutíferas.


 


A EFCA refletirá melhor os desejos dos trabalhadores do que a atual ''guerra em torno da representação''. A lei também rebaixará os níveis de aridez e desconfiança que agora acompanham, amiúde, as eleições sindicais sob o atual sistema. Uma maré crescente só levanta todos os botes quando o trabalho e a classe patronal negociam em condições de igualdade relativa. Nas últimas décadas, o grosso do poder de negociação tem estado do lado patronal. A recessão atual seguirá debilitando a capacidade dos trabalhadores de negociarem individualmente. Mais do que nunca, os trabalhadores precisam atuar coletivamente.


 


A EFCA não é uma panacéia, mas restauraria certo equilíbrio nos nossos mercados de trabalho. Como economistas, acreditamos que é de vital importância avançar na reconstrução da nossa vida econômica e robustecer a nossa democracia fortalecendo a voz do povo trabalhador nos postos de trabalho.


 


Assinam esta declaração:


 


Henry J. Aaron, Brookings Institution; Katharine Abraham, Universidade do Maryland; Phillipe Aghtion, Instituto de Tecnologia de Massachusetts [MIT, na sua sigla em inglês]; Eileen Appelbaum, Universidade Rutgers; Kenneth Arrow, Universidade Stanford; Dean Baker, Centro para a Investigação em Economia e Política; Jagdish Bhagwati, Universidade Columbia; Rebecca Blank, Brookings Institution; Joseph, Universidade Rutgers; Alan S. Blinder, Universidade Princeton; William A . Darity, Universidade Duke; Brad DeLong, Universidade da Califórina/Berkeley; John DiNardo, Universidade de Michigan; Henry Farber, Universidade Princeton; Robert H. Frank, Universidade Cornell; Richard Freeman, Universidade Harvard; James K. Galbraith, Universidade do Texas; Robert J. Gordon, Universidade Noroeste; David Lee, Universidade Princeton; Frank Levy, MIT; Lisa Lynch, Universidade Brandeis; Ray Marshall, Universidade do Texas; Lawrence Mishel, Instituto de Política Econômica; Robert Pollin, Universidade do Massachusetts; William Rodgers, Universidade Rutgers; Dani Rodrik, Universidade Harvard; Jeffrey D. Sachs, Universidade Columbia; Robert M. Solow, MIT; William Spriggs, Universidade Howard; Joseph E. Stiglitz, Universidade Columbia; Peter Temin, MIT; Mark Thoma, Universidade do Oregon; Lester C. Thurow, MIT; Laura Tyson, Universidade da Califórnia/Berkeley; Paula B. Voos, Universidade Rutgers; David Weil, Universidade Boston; Edward Wolff, Universidade Nova York. 


 


A informação é do site Carta Maior