Fidel: Exigências dos EUA são “humilhantes e prepotentes”
O ex-presidente cubano Fidel Castro classificou, nesta terça-feira, como “humilhante e prepotente” a afirmação do governo dos Estados Unidos de que só haverá um diálogo aberto com Havana quando a ilha promover mudanças sobre direitos humanos e moviment
Publicado 02/06/2009 11:41
O líder da revolução na ilha questiona que tipo de direitos humanos os norte-americanos defendem. E destaca que, na posse do novo presidente salvadorenho, Maurício Funes, Cuba foi o país mais aplaudido, enquanto os EUA não empolgaram a platéia. “Em determinadas circunstâncias, não só as palavras falam por si mesmas, mas também os aplausos e os silêncios”, conclui.
No novo artigo, publicado pela imprensa oficial de Cuba, Fidel comenta notícias de agências internacionais que citam um funcionário do Governo americano o qual anunciou, na sexta-feira, que a ilha aceitou reabrir as negociações bilaterais sobre migração e o envio direto de correspondências, o que ainda não foi confirmado oficialmente pelo governo.
O líder cubano também lembra que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que o Governo do presidente dos EUA, Barack Obama, estava “satisfeito em retomar as conversas com Havana sobre esses assuntos”. Entretanto, Fidel considera “um incidente diplomático” a advertência dos americanos de que “haverá um diálogo aberto assim que haja (em Cuba) mudanças sobre direitos humanos e movimentos rumo à democracia”.
“Qual é a 'democracia' e os 'direitos humanos' que os EUA defendem? Era realmente necessário lançar essa humilhante e prepotente advertência?”, pergunta.
Leia a íntegra do texto:
Reflexões do companheiro Fidel
Os aplausos e os silêncios
Ontem, 31 de maio, uma notícia da AFP informou que: “Cuba aceitou reabrir as negociações com os Estados Unidos da América sobre migração e o envio direto de correio, um novo sinal do degelo às vésperas de uma Cúpula da Organização de Estados Americanos (OEA), na qual o caso cubano dominará as conversações.
“O chefe da Seção de Interesses de Cuba em Washington, Jorge Bolaños, transmitiu no sábado que 'Cuba espera reiniciar conversações sobre migração e o serviço de correio direto', disse no domingo um alto funcionário do Departamento de Estado, que se manteve no anonimato”
“De El Salvador, onde assiste a uma reunião ministerial sobre comércio regional, a Secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que Washington estava comprazido de reiniciar as conversações com Havana sobre esses temas.”
Logo a seguir, uma saída de tom nada diplomático: “Haverá um diálogo aberto assim que hajam mudanças sobre direitos humanos e movimentos rumo à democracia em Cuba”, expressa a agência EFE.
Qual é a “democracia” e os “direitos humanos” que os Estados Unidos defendem? Era realmente necessário lançar essa humilhante e prepotente advertência?
Quando hoje assistia na televisão à posse de Mauricio Funes e ele falou de restabelecer relações com Cuba, um ensurdecedor aplauso e gritos de júbilo estouraram naquela sala, como não se escutaram em nenhum outro momento de seu discurso. Ali, entre os convidados, estava Hillary.
Previamente o orador, que muitas das vezes se afastava dos papéis, tinha cometido o erro de cumprimentar Clinton, que ocupa o cargo de Secretária de Estado, antes inclusive do que a Lula da Silva, presidente do gigante sul-americano, ali presente entre um grupo de Presidentes de nossa região.
O orador, sem ainda concluir o prolongado aplauso a Cuba, que talvez magoaria a senhora Clinton, tomou a palavra e mencionou de novo os Estados Unidos, com a melhor intenção do mundo. Contudo, muito poucos naquela grande sala aplaudiram esse país.
Um momento culminante e bem aplaudido do discurso de Mauricio se produziu antes, quando mencionou o ilustre arcebispo Oscar Arnulfo Romero, cujo túmulo visitara naquela manhã. Aquele defensor dos pobres tinha sido assassinado impunemente, quando realizava uma missa, pela sangrenta tirania do partido Arena, imposta pelo imperialismo em El Salvador. Naquela sala também estavam presentes os legisladores e altos funcionários que representavam o partido que o assassinou, entre eles, vários dos poucos que aplaudiram os Estados Unidos.
Em determinadas circunstâncias, não só as palavras falam por si próprias, mas também os aplausos e os silêncios.
Fidel Castro Ruz
01 de junho de 2009