Amorim defende protagonismo do G-20 na crise
O G-192, como está sendo tratada a Organização das Nações Unidas (ONU), numa referência ao número de países-membros, não desbanca o G-20. A afirmação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, após discurso na conferência sobre a crise
Publicado 29/06/2009 12:27
A afirmação foi feita em resposta à declaração na véspera do Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que presidiu a comissão que preparou o documento aprovado pelo plenário da ONU, e que dissera que a organização era um fórum mais apropriado que o G20 para discutir a crise. Amorim avaliou que o peso do “G-20 é muito mais representativo”. E, assim como a ONU, também “agrupa países desenvolvidos e em desenvolvimento”.
Ele acrescentou que um processo de governança em nível global não teria como ser tratado inserindo “todo mundo o tempo todo”. “É por esta razão que os países têm Parlamento”, comparou. O ministro, porém, classificou a conferência da ONU como oportunidade histórica para mudança e destacou o papel da Assembléia Geral para identificar os pleitos de todos países e dialogar com o G-20.
“Tem de ter a relação de contato entre membros do G-20 e um fórum mais amplo como o da Assembléia Geral. Isso é importante”, ponderou. Com relação às críticas de que a reunião foi esvaziada e que o documento deve ser fraco, o ministro Amorim argumenta que é preciso ter em vista que “não é coisa fácil” conseguir, como foi o caso, fazer os 192 países concordarem com um único documento.
“O documento prova que é possível para as Nações Unidas, um foro de 192 países, ter discussão séria e racional sobre a crise internacional e ter ideias e propostas aprovadas pelo consenso”, falou. Amorim acrescentou que um processo de governança em nível global não teria como ser tratado inserindo todo mundo o tempo todo. É por esta razão que os países têm Parlamento, exemplificou.
Flutuações
No entanto, o ministro, que classificou a conferência da ONU como oportunidade histórica para mudança. Amorim avaliou também que só o tempo vai dizer se, de fato, uma nova moeda de reserva internacional mundial é viável ou se seria apenas uma discussão acadêmica. “Não sei se o mundo está maduro e se as condições concretas permitem falar em substituir o dólar pelo SDR (sigla em inglês para Direitos Especiais de Saques) ou coisa que o valha”, afirmou.
A posição de Amorim se afasta da visão chinesa e indiana, por exemplo. Na sede da ONU, o ex-diretor do Comitê de Política Monetária do Banco da China (PBoC) Yu Yongding afirmou que o momento representava uma “oportunidade única” para a mudança de moeda de reserva internacional, citando como “viável” a alteração já nos estágios atuais.
Amorim afirmou que os países pobres “precisam continuar procurando meios criativos para se protegerem das flutuações das principais moedas”. A trajetória para recuperação pode ser longa e sinuosa, afirmou. O chanceler destacou o posicionamento do Brasil com relação a uma nova alocação dos SDR do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Declínio
A distribuição dos recursos dos SDR precisa considerar as necessidades dos países em desenvolvimento, especialmente dos países mais pobres, avaliou Amorim. O ministro das Relações Exteriores também avaliou que a eliminação de subsídios dos países ricos seria importante para que as nações pobres consigam sair da recessão, além de contribuir para segurança relacionada à área de alimentos.
Amorim destacou que cenário global ainda é sombrio, apesar de alguns sinais positivos. Segundo ele, a situação é particularmente difícil para os países mais pobres. Amorim acrescentou que o Brasil tem sido um entusiasta do fortalecimento do papel da ONU no debate sobre a crise financeira mundial. “O presidente Lula tem estado pessoalmente comprometido com este objetivo”, afirmou. “Países sem voz nas atuais estruturas de governança financeira são capazes de expressar suas visões na ONU”.
Alguns destes países, continua Amorim, estão entre os mais pobres no mundo e entre os mais atingidos pelo declínio econômico global. “A possibilidade de atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio até 2015 está sendo seriamente ameaçada”, avaliou. O ministro disse também que a contração da demanda obscurece as projeções para a recuperação. “A conclusão da Agenda do Desenvolvimento de Doha enviaria forte mensagem contra o protecionismo, incluindo potenciais efeitos negativos os pacotes de estímulo implementados pelos países ricos”, completa.
Com agências