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Zelaya e Micheletti se reúnem na Costa Rica

Os debates sobre a crise política instalada em Honduras após o golpe de Estado se deslocam hoje para a Costa Rica, cujo presidente, Oscar Arias, tentará mediar uma saída para a situação. O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o governante a

Micheletti insiste que não discutirá a possibilidade de retorno de Zelaya como presidente a Tegucigalpa. O governo autoproclamado afirma que, se voltar, Zelaya terá de enfrentar a Justiça, apesar de a Suprema Corte ter acenado esta semana com a possibilidade de uma anistia política para o presidente deposto.

Já Zelaya, que foi eleito para governar Honduras, diz que não existe nenhuma possibilidade de acordo se a presidência não lhe for restituída. Retirado por militares ainda de pijamas da residência presidencial, ele atacou ontem duramente Micheletti.

“Micheletti é um gorila”, que cometeu “assassinatos, violação dos direitos humanos e traição”, afirmou Zelaya em entrevista a uma rede pública de TV do Chile. Ele disse ontem que exigirá durante o encontro em Costa Rica a remoção do governo autoproclamado em 24 horas.

“Esperamos que, nas próximas 24 horas, tenhamos uma resposta clara da contraparte golpusta, que rompeu o processo democrático no país, com o fim de que se possam cumprir as resoluções”, diz Zelaya. 

De qualquer forma, analistas consideram o diálogo entre os dois adversários um avanço se comparado à retórica de hostilidade dos dias posteriores ao golpe.
Caberá a Arias conduzir a difícil negociação. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1987 pelo papel desempenhado nos acordos de paz para as guerras civis da América Central nos anos 80.

O presidente da Costa Rica anunciou que as negociações devem durar dois dias e abordar todos os temas. “Possivelmente para muitas pessoas dois dias não são suficientes, mas se existir vontade é possível”, destacou Arias.

Micheletti confirmou seu comepracimento no encontro apenas nesta manhã, quando Zelaya já se encontrava na Costa Rica. “O Conselho de Segurança Nacional decidiu que o presidente Roberto Micheletti viaje à Costa Rica para as conversações com o ex-presidente Manuel Zelaya … para tentar alcançar a tranquilidade e paz em Honduras”, disse René Cepeda, porta-voz da presidência interina.

Membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), incluindo os EUA, apoiaram a realização do encontro. Apesar das posições inflexíveis, a pressão internacional e as ameaças de duras sanções econômicas contra Honduras pode obrigar uma das partes a ceder.

Na quarta-feira, os Estados Unidos suspenderam os programas de ajuda militar de 16,5 milhões de dólares e de ajuda para o desenvolvimento ao governo interino de Honduras por causa do golpe de Estado, informou na quarta-feira a embaixada norte-americana no país.

Além disso, Washington alertou que novos fundos de ajuda a Honduras estimados em 50 milhões de dólares estão sob risco em 2009, bem como 130 milhões de dólares que são fornecidos para cumprir as Metas do Milênio estabelecidas pela ONU, segundo comunicado divulgado pela missão diplomática no país centro-americano.

A ministra interina de Finanças em Honduras, Gabriela Núñez, disse que a decisão dos EUA de suspender a ajuda militar e para o desenvolvimento de Honduras por causa do golpe de Estado é “contraproducente” para o diálogo entre as partes, que se inicia na Costa Rica nesta quinta-feira. “É realmente preocupante esta decisão dos Estados Unidos, pois afeta importantes projetos que estavam em marcha … É contraproducente para as negociações”.

A Nicarágua negou o uso de seu espaço aéreo pelo presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, que pretende viajar hoje para a Costa Rica. O diretor da aviação civil de Honduras, Alfredo San Martin, informou que a autorização solicitada pela força aérea hondurenha para que Micheletti cruze o espaço aéreo nicaraguense foi recusada. A situação não impedirá a viagem

Em Tegucigalpa, deputados afirmam que os dois lados devem fazer concessões para que se chegue a um acordo. A saída, no fim do processo, seria a antecipação das eleições, independentemente de Micheletti ou de Zelaya estar no cargo. Os candidatos já estão definidos desde o ano passado e a votação seria monitorada por organismos internacionais.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, afirmou que os governos da região não aceitarão para Honduras uma solução que não inclua o presidente deposto do país, Manuel Zelaya. “Do ponto de vista dos acordos da OEA, nenhuma negociação que deixe o presidente Zelaya fora do governo será aceita pelos demais chefes d Governo”, disse Insulza entrevistado pelo jornal chileno El Mercúrio.

Ontem, as manifestações pró-Zelaya continuaram em Honduras. Centenas de simpatizantes de Zelaya interromperam temporariamente o tráfego na estrada que liga Tegucigalpa ao leste de Honduras, na fronteira com a Nicarágua. Xiomara Castro, mulher do presidente deposto, liderou a marcha pelo segundo dia seguido. Desde a noite do golpe, ela estava na casa do embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, temendo a perseguição dos militares.

Zelaya foi deposto no dia 28 por militares e colocado em um avião para a Costa Rica. No domingo, no auge da crise, um avião que levava o presidente deposto de volta a Honduras foi proibido de aterrissar no aeroporto de Tegucigalpa.

Com O Estado de S.Paulo