O PCdoB pode surpreender o país, diz Walter Sorrentino
Walter Sorrentino, secretário de Organização do PCdoB, abriu o primeiro dia de aula do curso de nível 3 da Escola Nacional – focado nas discussões dos documentos do 12º Congresso do partido – falando da proposta da nova política de quadros. Para ele, “
Publicado 20/07/2009 16:51
A constatação do dirigente parte da necessidade de o partido investir mais numa política de quadros ajustada ao momento atual, o que pode levar o PCdoB a um novo patamar organizativo e, por conseqüência, a um nível mais avançado de inserção nas massas e de intervenção política. “Precisamos de um partido de pelo menos um milhão de membros para o projeto estratégico que temos. Hoje os comunistas não constituem a força predominante nos grandes acontecimentos da América Latina e do Brasil”.
Contextualização das origens
Para chegar a esse raciocínio, Sorrentino fez, primeiramente, uma contextualização que buscou mostrar quais são as raízes do PCdoB e de sua forma de organização. “Nosso partido se forjou tendo por base um tempo de ofensiva revolucionária aberto pela revolução bolchevique, que originou os partidos de quadros, revolucionários, marxistas-leninistas, disciplinados e de corte rígido por conta dos condicionamentos da luta de classes daquele período. Somos fruto do desenvolvimento da 3ª Internacional”.
A partir daí, originou-se o modelo soviético que abriu caminho para as insurreições apoiadas no movimento de massas, especialmente o sindical. O processo histórico fez com que se desenvolvesse, segundo Sorrentino, “uma versão universalista abstrata do marxismo, com renúncia da dialética do particular concreto, que é o modo de fazer avançar a teoria. Lênin tenta resgatar a visão materialista, de onde sai a atualização do marxismo. Como ônus daquele tipo de visão reducionista do marxismo, as singularidades da formação histórica de cada país foram deixados de lado para a aplicação de modelos prontos. “A questão nacional ficou refém desse processo”, processo esse “marcado pela aplicação de normas que pouco a pouco se transformaram em cláusulas pétreas e o tema ‘partido’ tornou-se um paradigma imutável”, constatou.
O resultado desse engessamento foi o próprio refluxo revolucionário, a crise do socialismo e a ascensão do neoliberalismo. “Demoramos para perceber esses sinais que vinham desde os anos 1950. Mas o PCdoB foi um dos primeiros a se levantar contra o revisionismo de Krushev. Ainda assim, não conseguimos tirar conseqüência de toda essa situação. De maneira geral, os partidos comunistas mundo afora foram se degenerando e a própria degenerescência dos partidos foi motivo de derrota. Caía por terra a ideia dos partidos comunistas invioláveis”.
No caso do Brasil, o Partido Comunista viveu o que Sorrentino chamou de “anos dourados” após os anos 1940, quando liderou a Aliança Nacional Libertadora e apoiou a derrota do nazifascismo. “Ocorre que os comunistas não obtiveram hegemonia e se apartou, de maneira sectária, de movimentos importantes como o nacional-desenvolvimentismo, ajudando a abrir caminhos para que as forças conservadoras conduzissem a cena nacional, chegando à ditadura iniciada em 1964. Naquele momento, escanteamos a questão nacional”, lamentou.
Sorrentino lembrou que até 1995, a estratégia do partido se assentava essencialmente em duas etapas: uma nacional antilatifundiária e outra propriamente socialista, “segundo um modelo determinado, desconhecendo mediações próprias da formação econômico-social particular do Brasil, sem prever fases de transição”. Essa visão começou a mudar a partir do 8º Congresso, em 1995. “Aprendemos que a via eleitoral podia abrir espaços; a luta social é sempre uma luta política e a luta eleitoral é conseqüência disso. O mundo mudou muito e a crise capitalista repõe a questão das alternativas ao sistema”.
Política de quadros atualizada
Ao iniciar a explanação sobre uma nova política de quadros, Walter Sorrentino abordou a questão central que se coloca hoje para os comunistas: como manter a tradição de quadros do PCdoB sob condicionamentos diferentes daqueles que formaram o partido até recentemente? “É preciso que sejamos firmes e flexíveis no que diz respeito aos vínculos dos quadros com o partido”, disse.
Ele enfatizou que “o centro de nossa estratégia é alcançar hegemonia de nosso projeto político capaz de elevar os trabalhadores à classe dominante do país”. Porém, colocou que “a hegemonia não é um conceito que se explica por si só. A busca pela hegemonia é uma luta tenaz e prolongada em todos os campos da luta política, social e de ideias e isso demanda quadros preparados. A organização política precisa se fazer funcional à estratégia definida”.
Esse partido de massas que o PCdoB busca ser precisa, de acordo com Sorrentino, “de extensa organicidade desde a base, em variadas formas, para dar coesão à ação política a uma numerosa militância e forte estrutura de quadros para dar coesão e governabilidade ao partido. E precisamos de uma multidão de quadros de uma infinidade de tipos de acordo com a nossa realidade. Só assim podemos liderar porque sem quadros dirigentes não há partido”.
Ele lembrou, no entanto, das dificuldades colocadas e que precisarão ser enfrentadas pelo coletivo. “Formar partido de militância é nadar contra a corrente. A política está desmoralizada. Mas se conseguirmos a vitória em 2010, podemos atingir 500 mil militantes. E como vamos fazer dessa militância uma militância mais estável e adequada às necessidades do partido? A resposta está na política de quadros, que dá governabilidade ao PCdoB”.
Para isso, o documento-base sobre política de quadros coloca como fundamental o enfrentamento de condicionamentos próprios do movimento comunista: o dogmatismo, o corporativismo e o liberalismo e seu conseqüente pragmatismo.
Neste sentido, a proposta de política de quadros coloca como aspectos fundamentais a serem buscados a formação de uma nova geração dirigente do partido nas condições de dos tempos atuais, ou seja, investir naqueles que irão dirigir o partido no futuro. O segundo item é dar organicidade à militância. “O partido não pode ser areia solta; é preciso organizar a ação política da militância e essa organicidade depende de quadros, seja de base ou intermediário”, lembrou Sorrentino. O terceiro ponto é alargar a formação de quadros da juventude, dos trabalhadores, das mulheres e os mais diretamente atuantes na luta de ideias.
Concluindo sua aula, Sorrentino disse que a base geral para essa política consiste num trabalho de consciência, renovação, qualificação, especialização e representação. “A essência dessa base é a vida partidária coletiva; ninguém deve se pôr acima do partido. É essencial infundir nos quadros o projeto partidário e fidelizá-los mais duradouramente a esse projeto”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte