Zelaya cobra pressão internacional e anuncia seu retorno
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, pediu à comunidade internacional, em especial os Estados Unidos e a União Européia, que aperte o cinto contra os golpistas que usurpam o poder em seu país. Depois de fracassada a tentativa de a Costa R
Publicado 20/07/2009 16:39
Em entrevista coletiva concedida ontem (19) na Embaixada de Honduras em Manágua, na qual esteve acompanhado de seus delegados no diálogo na Costa Rica, Zelaya anunciou a organização de uma ''frente interna'' no país para ''derrubar'' os golpistas.Ele afirmou que o artigo 3 da Constituição hondurenha estabelece o direito à insurreição.
''Vou estar em Honduras e vou seguir fazendo tudo o que tiver que fazer (…) até que este grupo usurpador do poder tenha que se submeter às ordens que deu a comunidade internacional que é vinculativo a Honduras'', enfatizou.
Zelaya deu como esgotado o diálogo mediado pela Costa Rica por causa do que considerou a ''soberba'' e ''desrespeito'' da delegação do governo autoproclamado de Roberto Micheletti, que não aceitou a proposta de Arias. ''Hoje os golpistas ignoraram mais uma vez a comunidade internacional, Oscar Arias e a própria secretária dos Estados Unidos, Hillary Clinton, promotora e patrocinadora'' do diálogo, disse.
O presidente deposto declarou que o governo de Micheletti, ao qual definiu como um ''grupo de elite extremamente conservador, com práticas fascistas'', é visto pelo mundo como um ''grupo intransigente'', ''desrespeitoso'' e com uma ''imensa soberba''.''Não vamos permitir o primeiro golpe de Estado no século 21. Derrubaremos os usurpadores'', insistiu.
Comprometimento internacional
Zelaya considerou que a comunidade internacional está à prova, porque os golpistas ''estão desafiando o mundo inteiro''. Ele pediu que os países ''endureçam as medidas'' contra o governo de Micheletti ''com mais forças''.
''Se os Estados Unidos e outros países atuassem com mais forças, com mais dedicação, já do ponto de vista das atividades dos autores do golpe, este golpe não demoraria mais que poucas horas'', disse o governante deposto.
Zelaya pediu particularmente aos Estados Unidos para aplicarem um ''torniquete'' às Forças Armadas hondurenhas, as quais, segundo disse, estão sustentando os golpistas. ''Há um Exército sustentando (o governo de Micheletti), um Exército que, logicamente, tendo nascido das entranhas do povo, traiu o povo hondurenho por meio de sua cúpula'', denunciou Zelaya. ''E este Exército tem que retificar seus comandantes e seus meios, seus oficiais têm que retificar'', continuou.
O governante assegurou que as Forças Armadas hondurenhas têm uma ''grande relação'' com o Comando Sul dos Estados Unidos e com o Pentágono.''Eles são os que os treinaram (os militares hondurenhos) nas Escolas das Américas'', disse Zelaya.
''Eles têm um contato muito direto e acho que aplicar um torniquete nessa situação poderia resolver o que é o elo mais forte do golpe, porque estão mantendo esse golpe com repressão, com as armas, não com a vontade popular'', disse Zelaya, que reafirmou que não renunciará ao cargo.
O presidente deposto revelou que começará a preparar sua volta a Honduras ''com todos os mecanismos que disponibilizam as leis e o povo hondurenho'', e que espera que nesta ação seja acompanhada pela imprensa internacional.
''Assim demanda o povo hondurenho, a OEA, o Sistema de Integração Centro-americana (Sica), a Comunidade do Caribe (Caricom), a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), a União Europeia, a União de Nações Sulamericanas (Unasul) e toda a comunidade internacional'', colocou.
União Europeia cancelou ajuda financeira
Logo após as declarações de Zelaya, a Comissão Europeia informou nesta segunda-feira que decidiu suspender a ajuda orçamentária a Honduras depois que os esforços para pôr fim à crise decorrente do golpe militar que derrubou o presidente Manuel Zelaya terem fracassado.
''Lamento muito que não foi possível até a data chegar a uma solução acordada para a crise de Honduras'', disse a comissária de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, em comunicado.
''Tendo em vista as circunstâncias, eu tomei a difícil decisão de suspender todos os pagamentos de ajuda orçamentária'', disse. Um porta-voz da UE disse que a Comissão Europeia havia previsto 65,5 milhões de euros (92,73 milhões de dólares) em pagamentos de ajuda orçamentária para o período 2007-2010.
OEA
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, disse, em coletiva de imprensa em Washington que o organismo ampliará a pressão ao governo golpista de Roberto Micheletti.
Em consonância com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que mediava o conflito, Insulza considerou também que deve se esperar 72 horas para tentar convencer o governo golpista a concordar com a proposta feita nesse final de semana.
''Se Arias pede mais três dias é porque crê que vale a pena tentar'', afirmou, dizendo-se preocupado porque ''há uma certa possibilidade de violência em Honduras''.
Resistência
Rafael Alegria, da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe assinalou que o povo não vai retroceder e acompanhará o presidente quando ele colocar seus pés em Honduras. E os protestos populares contra o golpe de estado continuarão, em meio a um tenso clima político depois da fracassada mediação da Costa Rica.
As forças sociais realizaram uma reunião para fixar suas estratégias de luta horas antes de que se conhecessem as notícias procedentes de San José. Os representantes do governo de facto recusaram as propostas de Arias de conseguir o regresso do presidente, Manuel Zelaya, com várias condições, entre elas um governo de conciliação, anistia e a renúncia de buscar uma assembléia constituinte.
Depois de uma extensa reunião de mais de três horas, os dirigentes da Frente confirmaram a uma enardecida multidão no auditório do Sindicato de Bebidas e Similares (STIBYS) a continuação da luta pelo estado direito, rompido pelo golpe militar desde 28 de junho passado.
Juan Barahona, presidente da Federação Unitária de Trabalhadores (FUTH), acrescentou que as três centrais sindicais se reunirão hoje para coordenar a realização de uma greve geral na quinta e sexta-feira próximas.
Acrescentou que prosseguirão as marchas, manifestações, tomadas de pontes e bloqueios de estradas como parte do esforço para conseguir o restabelecimento da ordem constitucional e a volta de Zelaya.
Israel Salinas, secretário geral da FUTH, informou que os sindicatos dos professores se somarão à paralisação, após o reinicio das aulas nesta segunda-feira, depois de três semanas de greve contra o golpe.
As intervenções foram seguidas com entusiasmo pelos que assistiram o ato, entoando palavras de ordem. ''Agora ou nunca!'', exclamaram, com os punhos ao alto. Já nesta segunda-feira, os movimentos populares de Honduras iniciaram uma concentração em frente ao Congresso.
Em comunicado divulgado hoje, a Frente de Resistêcia convoca o povo de Honduras para ''uma apoteótica recepção'' ao presidente deposto Manuel Zelaya, que, acreditam, voltará ao país na sexta-feira, dia 24.
''Com o propósito de dar uma apoteótica recepção a nosso presidente constitucional, todo o povo hondurenho está convocado a estar preparado e organizado para esse dia, no qual uma grande marcha irá ao encontro (de Zelaya), no lugar e na hora que ele indicará em breve'', afirma o texto, assinado pelos ex-candidatos a deputado pelo governista Partido Liberal Carlos Eduardo Reina e Rasel Tomé.
Com agências