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Unasul: Lula propõe convocar os EUA para tratar de bases

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, nesta segunda-feira (10), durante cúpula da Unasul, "convocar" o americano Barack Obama para discutir com os 12 presidentes do bloco desde o uso de bases militares colombianas pelos EUA até a reativação da 4ª Frota. Apesar das queixas – em especial da Venezuela – sobre a ampliação da presença militar dos EUA na região, a declaração final do evento não conteve uma condenação explícita.

Durante sua intervenção na cúpula, realizada em Quito, no Equador, Lula sugeriu uma reunião de emergência com os EUA. "Em algum momento, a Unasul precisa convidar o governo dos EUA para uma discussão profunda sobre a relação deles com a América do Sul", disse.

Lula fez um chamado aos países da Unasul para que cobrem, em bloco, uma explicação do governo dos Estados Unidos. "Existem embaixadores que se metem em eleições em outros países, essa Quarta Frota nos preocupa profundamente por conta do pré-sal, e acho que nós deveríamos discutir tudo isso diretamente com o governo norte-americano", colocou.

Lula considerou fundamental a participação do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, na próxima cúpula – ele não foi ao encontro de ontem, ciente do clima belicoso que encontraria, já que a maioria dos países da América Latina estão contrários ao seu plano de ceder até sete bases colombianas para uso estadunidense.

O brasileiro, contudo, advertiu que "não se pode colocar Uribe numa condição de réu". Dizendo-se preocupado com o futuro da Unasul, ele afirmou: "Se não houver sinceridade e confiança, em vez de um organismo de integração, teremos um clube de amigos cercado de inimigos por todos os lados".

Discursos contra as bases não foram para o papel

A cúpula de ontem era um encontro para assinatura de uma nota formal e com espaço apenas para dois discursos – de Michelle Bachelet (Chile), que deixou a presidência pro-tempore da Unasul, e de Rafael Correa (Equador), que assumiu seu lugar.

O protocolo, entretanto, foi quebrado. O venezuelano Hugo Chávez tomou a palavra e propôs uma discussão sobre as bases. "Ventos de guerra começam a soprar sobre a região. Isso pode se transformar numa nova tragédia", disse Chávez, que se queixou de a terceira reunião ordinária do bloco não ter incluído o polêmico assunto na declaração final.

Os chanceleres da Unasul haviam decidido não formular nenhum pronunciamento a respeito, pela falta de consenso sobre uma proposta de resolução apresentada pela Bolívia para que o organismo rejeitasse a instalação de bases militares estrangeiras na região. 

Mas concordaram em convocar uma próxima reunião, ainda em agosto, para que os ministros de Relações Exteriores e da Defesa discutam o assunto e tentem alcançar uma postura comum.

O discurso de Chávez, que chegou a dizer que a Venezuela está se preparando para essa guerra e acusou a Colômbia de defender a tese do ataque preventivo, gerou declarações de outros presidentes.

Correa classificou de "hipocrisia" dizer que a questão das bases é de soberania de cada país. "Então, quando é programa nuclear, tem de ser de soberania também. Quando o problema é contra os EUA, é uma ameaça planetária. Quando é contra a Venezuela e o Equador, é questão de soberania?"

A argentina Cristina Kirchner advertiu sobre um "estado de beligerância inédito e inaceitável" e se ofereceu como anfitriã para uma cúpula extraordinária da Unasul, em Buenos Aires, para tratar do tema com a presença do presidente colombiano.

O boliviano Evo Morales afirmou que é "obrigação" da Unasul "salvar o povo colombiano dos militares americanos", enquanto o paraguaio Fernando Lugo pediu que não "coloquem nenhum governante no banco dos réus", em alusão a Uribe.

A falta de consenso a respeito da instalação das bases terminou soando de forma negativa, no momento em que a Unasul dá os primeiros passos. O grupo, afinal, já nasceu com o desafio de provar que as diferenças – em especial políticas – de seus países membros não inviabilizariam a sua existência e eficiência.

Venezuela versus Colômbia

Chávez chegou a sugerir que a Colômbia deixe a Unasul, afirmando que o presidente Álvaro Uribe mostra ser contrário à união sul-americana, por "estar subordinado ao mandato do Império".

"Alguns não querem caminhar. O governo da Colômbia, por exemplo, não quer a unidade, está atuando contra a união", afirmou antes do início da cúpula.

A vice-chanceler colombiana Clemencia Forero, que representou o país na cúpula, respondeu que a negociação entre Colômbia e Estados Unidos só estabelece um acesso limitado de militares norte-americanos.

"Não houve nem haverá bases militares estrangeiras na Colômbia, nem as pedimos nem os Estados Unidos pensam em instalá-las. As bases continuam sendo colombianas, inteiramente sob jurisdição e soberania colombiana", disse Forero após a intervenção do presidente venezuelano.

O governo da Colômbia considerou "positivo" que não tenha havido nenhuma menção ao acordo militar no documento final da cúpula, segundo um porta-voz da chancelaria consultado pela agência EFE. Ele afirmou que a Colômbia "não considera oportuno" comparecer à reunião entre ministros da Defesa e das Relações Exteriores "pelas mesmas razões" pelas quais o Álvaro Uribe não esteve em Quito hoje.

Sobre a participação do presidente colombiano em uma cúpula de presidentes da Unasul na Argentina, assinalou que ainda não há confirmação. A Unasul é integrada por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Posse dupla

Além de tomar posse para o segundo mandato como presidente do Equador, Rafael Correa assumiu também a liderança temporária da Unasul. Ele declarou que continuará fazendo o trabalho exercido até hoje pela presidente chilena, Michelle Bachelet.

No discurso de posse, Correa disse que sua gestão terá uma visão mais "pragmática" e buscará, entre outras coisas, impulsionar a criação do Banco do Sul, eliminar qualquer ato de discriminação, exercer uma integração mais "ágil e concreta", produzir energia limpa e colocar a região em posição mais destacada no cenário internacional.

Resultados

Apesar de não ter havido um pronunciamento comum sobre as bases militares na Colômbia, os presidentes entraram em acordo sobre a criação dos Conselhos de Infraestrutura e Planejamento, de Luta contra o Narcotráfico, de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovações e de Desenvolvimento Social.

O documento final da terceira reunião da Unasul propõe encorajar o fortalecimento da integração regional, com a possível criação da "cidadania sul-americana" ou de um Conselho Sul-Americano de Direitos Humanos.

Com agências